Dormir usando o produto diminui a oxigenação dos olhos e aumenta de 10 a 20 vezes o risco de infecção e deformidade da córnea
A tecnologia associada às lentes de contato, ao longo dos anos, proporcionou mais conforto visual e estético a quem tem problemas oculares como miopia. Para aposentar os óculos, porém, é necessário cuidado dobrado, além de prescrição e companhamento médico.
Higiene, poluição, ar seco, cigarro e indisciplina comprometem a saúde dos olhos e podem provocar lesões graves na córnea, alertam os oftalmologistas reunidos no 36º Congresso de Oftalmologia, que ocorre em Porto Alegre até a próxima quinta-feira (8).
“O uso de lentes de contato exige análise clínica prévia da saúde do paciente. É preciso investigar histórico e sensibilidade ao produto, além de contemplar o conforto e as expectativas do usuário”, explica Ari de Souza Pena, oftalmologista da Universidade Federal Fluminense e do Hospital Antônio Pedro, ligado à Instituição de ensino, no Rio de Janeiro.
Lesões irreversíveis e até mesmo a cegueira estão entre as principais consequências do uso incorreto. Entretanto, não há contrandicação ou recorte de grau – a crença de que as lentes representam um desgaste desnecessário para pessoas com pequenos problemas de visão não passa de folclore, pontua Orestes Miragla Junior, ex- presidente da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Córnea.
“É um mito. O grau não é um fator determinante. As lentes representam conforto. Apenas no caso de uma doença específica chamada ceratocone, que provoca a deformidade da córnea, a recomendação é questionada. Nesses pacientes, a lente acrescenta fatores externos que eventualmente poderiam piorar ou acelerar a doença.”
O tempo de permanência com as lentes também é relativo, dizem os especialistas. Não há evidências de que o uso contínuo prejudique a saúde dos olhos, explica Miraglia. Segundo ele, o comportamento é individual. Para algumas pessoas, o incômodo aparece mais cedo, outras passam mais de dez horas usando o produto sem apresentar problemas.
Fundamental, porém, é respeitar validade do material e não usá-lo durante a noite. Dormir com as lentes é comprovadamente nocivo, adverte Ricardo Holzchuh, oftalmologista da Santa Casa de São Paulo. A explicação é bastante lógica: a lente atrapalha a oxigenação, o que diminui a defesa dos olhos e aumenta de 10 a 20 vezes o risco de infecção e deformidade da córnea.
“É como dormir com um lençol ou cobertor cobrindo o rosto. Você conseguirá respirar, mas com dificuldades. O mesmo acontece com olhos quando as pessoas insistem em não retirá-las durante a noite”, compara o médico.
“Os pacientes não querem dormir com lente, o que desejam é acordar enxergando. A falta de disciplina e cuidados são os principais gatilhos para doenças.”
A responsabilidade deve ser dividida. Uma vez orientado, cabe ao paciente zelar pela própria saúde. "É fundamental lavar as mãos e evitar contato com os olhos após fumar. Parece simples e fácil, mas vemos diariamente nos consultórios pacientes com infecções reincidentes por conta desse descaso”, complementa Regina Kazumi Noma de Campos, oftalmologista da Universidade de São Paulo. Usar produtos adequados para a limpeza do material também é pré-requisito. Foi-se o tempo em que xampú infantil era um bom detergente.
“Já foi muito usado, mas não é recomendado. É preciso lavar para remover gordura e proteína, e o xampú só remove a gordura. A proteína faz uma camada na superfície da lente que diminui a oxigenação e aumenta o atrito com o olho. O envelhecimento de uma lente é determinado pelo grau de proteína na contido nela. Quanto mais velha, maior a contaminação e maiores os riscos de infecção" esclarece Miraglia.
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