Após dez meses de exposição a poluição, camundongos apresentaram alterações em área cerebral ligada ao aprendizado e à depressão
A poluição provoca danos na capacidade de aprendizado, além de resultar em comportamentos depressivos. O estudo da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, mostrou que camundongos expostos a 10 meses de poluição apresentaram alterações nos neurônios do hipocampo, área do cérebro ligada ao aprendizado e à depressão. O problema não para por aí: estas alterações podem contribuir para o aumento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Estudos anteriores já haviam mostrado que a poluição afetava o cérebro de camundongos. Testes realizados por um período de 10 semanas apresentaram alterações no hipocampo dos animais, no entanto este é o primeiro a medir os efeitos no longo prazo - foram 10 meses de pesquisa - e a relacioná-los com a depressão.
Os pesquisadores do estudo acreditam que a exposição a partículas de poeira e gases estufa induz a baixo níveis, porém prolongados, de inflamações no cérebro. Tanto em humanos como em roedores, danos na capacidade cognitiva e depressão estão frequentemente relacionados com alterações no hipocampo.
Foto: Getty Images
Em estudo, ar poluído, semelhante ao das grandes cidades como São Paulo, deixou camundongos com dificuldade de aprendizado e com comportamento depressivo
“É uma coisa que precisamos pensar a respeito. Isto é muito sério. A poluição das cidades provoca não só problemas cardiorrespiratórios como também alterações no cérebro”, disse ao iG Laura Fonken, do departamento de neurociência da universidade de Ohio e autora do estudo publicado no periódico científico Molecular Psychiatry. As partículas de poluição que os camundongos respiraram é a mesma encontrada em grandes cidades da China e Índia. O nível de poluição, igual a 2.5μm simula o ar encontrado em metrópoles de países em desenvolvimento, como é o caso de São Paulo.
Para que se medissem os efeitos da poluição na vida dos camundongos, 21 machos foram divididos em dois grupos. Um permaneceu em ambientes com alta concentração de poluição, o grupo controleficou em ambiente com ar puro. Os animais eram expostos à poluição seis horas por dia, cinco dias por semana ao longo de dez meses.
Deprimidos e confusos
Após os dez meses de estudo, foram aplicados dois testes clássicos para avaliar a capacidade de aprendizado e a memória, além de comportamento depressivo.
Os camundongos foram colocados em uma espécie de roleta tampada onde apenas um orifício que permitia que ele escapasse dali. Os dois grupos de camundongos foram treinados por quatro dias para conseguir sair do labirinto, mas houve uma grande diferença no resultado entre os animais expostos ao ar puro e os expostos a poluição.
Os camundongos expostos à poluição tiveram mais dificuldade de encontrar o buraco por onde poderiam escapar durante os treinamentos. “Isto sugere que houve danos na capacidade de aprendizado”, disse Laura. Eles também facilmente se enganaram e tentaram escapar pelos buracos falsos. “Durante a prova final, eles também passaram menos tempo perto do buraco correto, o que indica problemas de memória”, disse.
Para analisar o comportamento depressivo, os camundongos foram colocados em uma bacia de água. Em testes como estes, geralmente os animais nadam fortemente no início, procurando escapar. Só após um tempo, eles desistem e começam a boiar. O aumento do tempo em que o animal bóia significa falta de esperança. “No estudo, não só os camundongos expostos a poluição ficaram mais tempo boiando como não foram tão vigorosos quando nadaram”, disse.
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