segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Famílias se organizam para viver sem domésticas

Empregadas se tornam cada vez mais escassas e caras. Veja famílias que estão aprendendo a depender menos dessa ajuda
A webdesigner Elen da Palma, 35 anos, tem duas filhas - uma de 5 e outra de 2 anos - marido e uma gata de estimação. Grávida de três meses, gostaria de ter ajuda profissional para conciliar tudo, mas tem que lidar com a realidade da escassa e cara oferta de mão-de-obra doméstica. Com aumento da escolaridade, desemprego menor e crescimento da classe, a oferta de domésticas caiu – e elas passaram a ganhar mais. Isso significa que muita gente que foi criada com o luxo de ter uma mão extra nos serviços de casa agora está tendo que se virar sozinha.
VEJA DICAS PARA VIVER SEM EMPREGADA
“Há pelo menos uns 2 anos que venho tentando arranjar alguém que goste de crianças e queira trabalhar cuidando da casa, para eu ter mais liberdade”, conta. “Quem tem filho não tem tempo”, desabafa. De quebra, Elen está cuidando de problemas na tireóide e de uma anemia que a deixam com pouca energia. E cuidando também da faxina.
“É muito raro achar quem goste mesmo desse serviço, muitas procuram ‘quebrar um galho’”, diz Elen. “Organização não vem nos genes de todo mundo. Eu e meu marido somos confusos, e com criança, isso complica muito”, brinca. Para driblar a desordem, ela se desapegou de muitos objetos pessoais e recordações. O marido divide parte das tarefas de casa com ela, mas a família ainda não chegou numa fórmula perfeita para manter a casa sem ajuda profissional. Brinquedos espalhados e sujeira acumulando mais do que o ideal viraram seu cotidiano. “A criança pega uma bolacha, sai andando pela casa e deixando uma trilha de migalhas”, desabafa.
O que é certo e errado na relação com empregados domésticos
A tendência é a ocupação de doméstica e faxineira se tornarem mais caras e bem-remuneradas. De acordo com o Seade, em épocas de crescimento econômico, com o aumento da escolaridade e de vagas disponíveis, essa mão de obra é
Diária inflacionada
Quem tem uma boa funcionária, se aperta para manter. A tradutora Cecília Santos, 45 anos, aumenta sempre que possível a remuneração da faxineira. “A minha faxineira é excelente e eu vou reajustando o salário dela conforme a minha situação melhora, sem ela pedir”, afirma. Além de manter a prestadora de serviços satisfeita, ela acredita que está criando um ambiente de trabalho melhor como um todo. “Inflacionar o valor de mercado é fazer algo por outras mulheres numa profissão bem sacrificada, mas que facilita horrores a minha vida”, afirma a tradutora, que já teve empregada diária quando o filho Lucas, hoje com 17 anos, era pequeno, mas abriu mão quando começou a trabalhar de casa. Hoje, sua diarista vai apenas uma vez por semana. Uma mensalista registrada em São Paulo, hoje, ganha pelo menos R$ 600. Com a equiparação de direitos, esse valor deve subir para R$ 786,66.
Separada, ela engaja o filho na divisão das tarefas diárias, o que acredita ser fundamental para a formação dele, ainda que seja uma tarefa difícil. “Não sei como fazer com que meu filho se sinta compelido a fazer voluntariamente a parte dele para manter a casa”, conta. “Também tenho tentado reavaliar os meus padrões, esses que eu passei a vida inteira reproduzindo sem questionar. Por exemplo, precisa passar todas as roupas? Algumas tarefas precisam ser feitas com tanta frequência?”, questiona. Os dois vão negociando o que cada um gosta mais de fazer e como pode ajudar no que deve ser feito. “O Lucas gosta de fazer pratos mais elaborados. Faz ótimos risotos, faz quiche, pães, outro dia fez filé à milanesa”, elogia Cecília.
Mão na massa
A fotógrafa Gabi Butcher, 40 anos, é da geração que teve empregada doméstica que dormia no emprego. “Minha filha de 7 anos não tem ideia do que é uma pessoa de fora dormindo em casa”, conta. Criada sem precisar nem arrumar a cama, ela sentiu o baque quando, já casada, foi morar no Canadá. Lá, foi para o outro lado do balcão, e fez faxina em casa alheia, serviço que no exterior pode ser muito bem remunerado. “Antes de morar fora, eu era uma patricinha com empregada que dormia em casa. Sendo faxineira, eu tinha uma vida confortável, pagava todas as contas, estudava, tinha grana para sair no fim de semana”, diz.



Sabendo que o panorama do mercado mudou, ela fez questão de dar uma educação diferente à filha. “Odeio algumas tarefas de casa e não quero que minha filha tenha este ‘horror’. Quero que aprenda um pouco de tudo, e que no futuro possa escolher fazer ou não. O ato de fazer cama aqui em casa virou brincadeira, passar vassoura e pano também. No fim, acho que anda funcionando”, afirma Gabi. O marido compartilha as tarefas com ela, que parou de dar importância a cada detalhe de limpeza também. O serviço mais pesado é feito por uma faxineira, uma vez por semana. “Eu acho até mais saudável as pessoas assumirem mais tarefas, o povo brasileiro é muito mimado. Mas não vou negar que gostaria de ter grana para ter uma pessoa ajudando umas três vezes por semana...”





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