Se você se emociona com a marcha nupcial e para o carro só para ver uma noiva desconhecida entrando na igreja, não está sozinha
Se você passou dias esperando para ver o vestido de noiva de Kate Middleton e semanas comentando os detalhes e fotos da cerimônia real, não pode negar a existência de uma certa fascinação feminina pelas figuras da noiva e do casamento. A psiquiatra e escritora Neusa Steiner captou esta fascinação em seu aspecto mais grave na peça de teatro “Sangue Seco”, que estreou nesta sexta-feira em São Paulo, com a história de uma mulher que, durante anos, cultivou o hábito de assistir a casamentos de desconhecidos.
O monólogo foi baseado na vida de uma mulher que Neusa conheceu cerca de cinco anos atrás, em um grupo de terapia. “Por anos ela assistia aos casamentos sentada no banco de trás da igreja. Ela era solteira e sempre teve o desejo de se casar, mas nunca conseguiu”, relembra a autora. Para a psicoterapeuta Lidia Rosenberg Aratangy, autora do livro “O Anel que Tu Me Deste: O Casamento no Divã” (Primavera Editorial), a obsessão pelo casamento se sustenta principalmente no espetáculo do ritual, e não no relacionamento. “O fascínio muitas vezes sugere uma fantasia de princesa. Casamento é outra coisa”, diz.
De acordo com a antropóloga e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Mirian Goldenberg, prestes a lançar o livro “De Perto Ninguém é Normal” (Editora BestBolso), existe sim uma ilusão de que a mulher com um casamento feliz é a mulher mais invejável. Esta fantasia é alimentada diariamente pela teledramaturgia. “O casamento é o final de todas as novelas e representa o momento mais feliz na vida de uma personagem”, compara. Na vida real, no entanto, quando a cerimônia acaba, o casamento de fato começa – e muitas vezes a realidade pode parecer, para usar um termo da fantasia, a da gata borralheira.
A admiração exagerada pelo universo da noiva pode esconder uma idealização do casamento. “Tudo que é exagero pode se transformar em perversidade”, diz a psicanalista Aracelis Mirabello Steagall. “Aquelas que frequentam festas, brigam pelo buquê da noiva, visitam buffets, compram revistas de noivas e até mesmo alugam vestidos sem casamento marcado buscam o conto de fadas”, comenta. E o conto de fadas, assim como o Príncipe Encantado, são fantasias inalcançáveis.
Mas se você está entre as muitas mulheres que já pensaram em parar – ou pararam – o carro no meio da rua só para ver a noiva entrando na igreja, calma. O limite entre a admiração inofensiva pela figura da noiva e a obsessão está mais longe. Lidia sugere estar atenta à importância dada ao casamento enquanto evento: se parece haver mais significado no vestido de noiva do que na vida a dois, pode haver alguma coisa errada.
Da emoção à profissão
O “hobby” casamenteiro também pode virar profissão. A assessora de noivas Mariana Marcozzi, 32 anos, se declara uma apaixonada por casamentos sem embaraço algum: “Tem que gostar muito mesmo para até trabalhar com isso”, acredita.
Daquelas que sempre choram com marcha nupcial, não importa em qual versão, em qual casamento ou quem são os noivos, Mariana se envolveu com o assunto desde pequena, a ponto de guardar revistas sobre o assunto e formar um arquivo imenso de possibilidades para a grande hora de dizer o “sim”. “De tanto fuçar, para o meu casamento só faltava o noivo”. Ela o encontrou – e se casou. Mas brinca que, ao completar cinco anos de união, vão se casar novamente: “Eu casaria várias vezes com ele, se fosse possível”.
Não à toa, o envolvimento de Mariana acabou se tornando profissão. Enquanto viajava, conta ter dado paradinhas para espiar casamentos que aconteciam nas ruas da Grécia ou da Itália. Mas, segundo ela, a fantasia não embota a realidade. “Eu sou bem romântica e muitas vezes me baseio em contos de fada, mas sei como é a vida cotidiana.
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