Com grande parte das mães trabalhando fora, decidir com quem a criança vai ficar requer planejamento e atenção. Avaliamos os três principais recursos: escolinha, babá e avó
Ainda durante os primeiros meses de contato com o rebento, pais e mães se vêem às voltas com uma questão inevitável na vida moderna: com quem deixar a criança quando a licença-maternidade chegar ao fim? Com exceção daquelas mulheres que abdicam do trabalho para se dedicarem integralmente aos filhos, a dúvida paira sobre os casais que procuram equilibrar as suas possibilidades com a vontade de fazer o melhor pela criança.
Creches, babás e parentes costumam ser as possibilidades mais comuns e cada perfil de pais parece se adaptar melhor a cada uma delas. Além disso, questões como a disponibilidade financeira, a existência de um outro irmão e a proximidade geográfica com os avós contam na hora de optar.
Abaixo, um balanço das vantagens e desvantagens e o que deve ser levado em conta na hora de avaliar cada opção.
Vantagens
Têm preço variável e que atendem a diversos perfis financeiros. A maioria sai mais em conta que contratar uma babá por período integral. Outras custam mais caro até que uma mensalidade de universidade.
Têm flexibilidade de horário. É comum escolinhas e berçários que oferecem horários diversos, por módulos. Nessas escolas, a mãe pode escolher um período (de manhã, de manhã e à tarde ou de manhã até o fim da tarde) de acordo com o tempo que fica fora de casa.
Segurança. Diversas pessoas vigiam as crianças e o ambiente é adaptado para elas, diminuindo o risco de acidentes e maus tratos. A relações públicas Maíla Mortoni, 34, mãe de Giovanna, de 2 anos, optou por botar a filha na escolinha quando ela tinha dez meses. Maíla acredita que a segurança é a principal vantagem, mas defende que a confiança na instituição é fundamental. “Confio muito nas ‘tias’ e sei que posso ligar a qualquer hora para pedir notícias dela que vou ficar sabendo de tudo o que aconteceu”, conta.
Estabilidade. Como a escolinha ou creche é uma instituição que atende a várias crianças, se uma “tia” ficar doente ou faltar por problemas pessoais, alguém vai substituí-la e a mãe não vai ficar desamparada.
Convívio. Crianças se divertem quando estão juntas e também se desenvolvem mais quando observam os amiguinhos. “É impressionante como ela passou a ter um repertório próprio de brincadeiras e de musiquinhas. Vejo que ela começa a formar sua própria vidinha”, diz Maíla, que também observou que a filha come melhor nos dias em que vai à escola. “Ela vê as outras crianças comendo frutas e come também. Em casa, é um drama!”, relata.
Desvantagens
Leva e traz. Em tempos de congestionamentos garrafais, levar e buscar as crianças na escola pode ser um martírio – ainda mais na hora do rush. Para evitar atrasos e perda de tempo no trânsito, é indispensável escolher uma escola perto de casa, pelo menos até a criança ter idade para andar no transporte escolar – o que algumas vezes implica em não matricular na escola que seria a primeira opção dos pais.
Contágio de doença é a maior reclamação dos pais de crianças em escolinhas, principalmente das que ainda não completaram um ano de vida. O médico pediatra homeopata José Armando Macedo, membro do Espaço Potencial, grupo de estudos ligado ao Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae, diz que o sistema imunológico infantil está em formação até os três anos de idade e que frequentar a escolinha ou a creche antes disso vai acarretar em alguns períodos de doença. Ele alerta que esse quadro pode ser mais intenso com os bebês por uma questão emocional. “Como bebês precisam de muita atenção e na escolinha precisam disputá-la com outras crianças, isso resulta em um estresse que diminui a imunidade, tornando-os mais suscetíveis a doenças”, explica.
Para Maíla não é diferente: “todo inverno eu sofro. Quando o tempo fica frio e seco ela fica com febre quase toda semana e, no ano passado, até gripe suína ela pegou”, lamenta. Além da preocupação com a saúde da criança, quando a escola é o único recurso para deixar os filhos, em caso de doença a mãe precisa faltar no trabalho ou ter um plano B até a criança se recuperar.
Adaptação. A adaptação na escolinha depende de como é feita a transição do convívio com a mãe para a escola e também do perfil da criança. Maíla ficou “grudada” com a filha até os dez meses, mas a bebê se adaptou rapidamente à nova rotina. “Ela nem chorava. Eu, em compensação, chorei durante um mês”, conta ela. Já a primeira filha do fotógrafo Charles Naseh, hoje com 11 anos, foi à escolinha com um ano e meio e não se adaptou. “Ela era muito grudada à mãe, que tinha ficado exclusivamente com ela até então, e colocamos na escola de repente. Não deu certo e passei a deixá-la com minha mãe”, lembra. O impacto foi tão grande para os pais e para a menina que ela só voltou à escola com cinco anos.
Entenda a linha pedagógica da escola do seu filho
Adela Stoppel de Gueller, professora do curso de formação em psicanálise da criança do Instituto Sedes Sapientiae e do curso de especialização de Teoria Psicanalítica da PUC-SP diz que, não só na escola, mas em qualquer caso, a transição gradual é melhor. “É bom que a mãe fale bastante com o bebê lhe contando que em breve vai sair para trabalhar e que vai deixá-la com tal pessoa, mas vai voltar e ficar junto novamente. Também é interessante que ela saia algumas vezes por períodos mais curtos, deixando o bebê com o encarregado, para ver como o bebê vai reagindo”, explica.Vantagens
Vovó ou outro parente-VantagensConfiança. Quando a criança vai ficar sob os cuidados de um parente, os pais ficam relaxados por saber que o bebê está com alguém que vai tratá-lo bem. “Quando a avó tem a empolgação necessária para cuidar da criança, não há tranquilidade maior”, diz o fotógrafo Charles Naseh, que deixa sua filha mais nova, Yasmin, de um ano e meio, todos os dias com a avó.
Horário flexível. Para profissionais que não têm uma rotina de horário, deixar com a avó pode ser uma mão na roda, já que não é preciso contar com limitações de horário, diariamente. Se algum imprevisto acontecer, a criança pode até dormir fora.
Carinho. Os parentes e especialmente os avós têm fortes laços afetivos com o bebê, o que é garantia de que ele será tratado com amor. Adela afirma que, no caso dos bebês bem novinhos, a avó é a melhor opção. “A avó tem um laço amoroso com a criança e está em contato com ela desde que nasceu, então a transição da mãe para a avó é mais fácil”.
Baixo ou nenhum custo. Ainda que seja possível que os pais negociem uma ajuda de custo para que avó cuide do neto, essa opção sem dúvida é a mais em conta das três.
Estímulos limitados. Ainda que a avó seja muito dedicada, quando a criança começa a andar é difícil acompanhar o pique. Muitas vezes recursos como TV passam a ser utilizados para a criança “dar uma folguinha”. Se a criança não tem irmãos ou primos que dividem a guarda da avó nesse período, o convívio com outras crianças também fica limitado. Por isso, Charles já está buscando uma escolinha para Yasmin. “Ela já tem vontades próprias e adora encontrar outras crianças. Achamos que seria legal ela ficar com bebês da idade dela, pelo menos para ver como ela reagiria”, diz ele.
Mimo e falta de disciplina. Muito se fala que o papel dos avós é “estragar” os netos – e isso não chega a ser um problema quando acontece ocasionalmente. Ainda que muitos deles possam ser aliados na hora de educar os netos, se a avó ou avô não concordam com alguma limitação ou norma estipulada pelos pais, é bem provável que elas não sejam seguidas no dia a dia da criança, o que certamente vai atrapalhar sua educação.
Baba- Vantagens
Praticidade. Não é preciso deslocar a criança para outro ambiente ou enfrentar trânsito. A babá respeita um horário pré acordado com a família, que seja vantajoso para a mãe poder trabalhar.
Cuidado exclusivo. Se a criança tiver mal estar, estiver suja ou com fome, ela será prontamente atendida, o que é especialmente importante nos primeiros meses de vida. A diretora de recursos humanos Maíra Habimorad, 30, voltou a trabalhar logo que sua primeira filha Stella, hoje com 1 ano e 3 meses, nasceu. “Era importante que ela tivesse essa atenção toda no começo”, defende ela. Além desse ponto, a maioria das creches não aceita bebês com menos de quatro meses e mulheres que não têm direito à licença maternidade têm na babá um excelente recurso.
Prevenção de doenças. Além de a criança estar em um ambiente conhecido e familiar a ela, é mais fácil controlar o contágio de doenças, com a manutenção da limpeza e limitando o contato com outras pessoas.
Desvantagens
Falta de confiança. Se a mãe não tiver confiança de que a criança será bem cuidada, é melhor optar por outra forma de auxílio. Para ficar tranquila, Maíra contratou uma babá com excelentes referências e chamou a empregada doméstica da família para acompanhar seu trabalho nos primeiros meses. “Não ia conseguir deixá-la com uma pessoa estranha sem supervisão por um período inteiro”, explica.
Custo. A opção por babá é a mais cara, especialmente se a mãe procura alguém com referências, bem treinado e realmente especializado.
Transferência e relação íntima com a babá. Não são raros os casos de babás que querem agir como mães e mães que temem perder o amor dos filhos para a babá. Maíra fez questão de procurar uma profissional que tivesse uma postura adequada. “Ela não tenta me substituir e ajudou a Stella a saber quem é a mãe”, conta. Carinho na medida – “nem abraço e beijo demais e nem de menos”- e consciência dos limites com a casa e com a criança foram pontos que Maíra acha indispensável – e nem sempre são respeitados pelas babás.
A psicóloga Adela, no entanto, diz que são raros os casos em que a criança passa a preferir a babá à mãe, quando esta volta para casa. “O problema nesse caso não é a criança ter estabelecido um laço amoroso com seu cuidador, mas é preciso que ver o que acontece na relação dessa mãe com esse filho”, diz. Apesar disso, a psicóloga adverte as mães que não levem tão a sério algumas pequenas estratégias de seus rebentos. “Às vezes acontece de a criança ‘se vingar’ da mãe e não querer ir com ela. É seu modo de dizer ‘você foi embora agora eu te abandono’. A mãe deveria brincar esse jogo proposto pela criança, sem se sentir ofendida ou abandonada”, conclui.
Faltas e trocas. Quando a babá é a única pessoa que pode ficar com o bebê na ausência da mãe, é indispensável que ela seja uma profissional dedicada e responsável. Mesmo assim, imprevistos podem acontecer e, se a babá faltar, a mãe inevitavelmente faltará no trabalho também. Babá mal escolhida ou mal treinada pode levar a sucessivas trocas, o que gera um grande desconforto para o pequeno. “A criança estabelece um laço afetivo muito forte com o cuidador e cada mudança lhe produz muito sofrimento”, diz Adela.
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