Não existe uma opção certa, mas caminhos que devem ser escolhidos sem culpa e com consciência por cada mãe
Depois de nove meses de gestação e outros tantos de descobertas, aprendizados e convívio tão íntimo e diário com seu bebê, você precisa, da noite para o dia, se acostumar com a ideia de passar a maior parte do tempo longe dele. É o fim da licença-maternidade. O que fazer? Como vivenciar a maternidade com plenitude e, ao mesmo tempo, retomar a vida profissional? Qual o tempo ideal que a mãe deve ficar única e exclusivamente com seu filho recém-nascido?
Magdalena Ramos, terapeuta familiar e autora do livro "E Agora, o Que Fazer? A Difícil Arte de Criar os Filhos" (Editora Best Seller), acredita que a grande maioria das mulheres enfrenta, após o parto, um profundo dilema quando o assunto é voltar ao trabalho - sobretudo quando se trata do primeiro filho. "É uma situação muito angustiante e dificilmente tem como ser evitada: a mulher passa nove meses gerando o bebê, enfrenta as dores do parto, mergulha no encantamento de se tornar mãe e de repente, depois de poucos meses, precisa retomar as atividades profissionais e ficar longe do filho. Isso é muito traumático tanto para a mulher quanto para a criança", diz.
De acordo com ela, apesar de as empresas concederem apenas quatro meses de licença-maternidade (ou seis, em alguns casos), o ideal seria que as mães passassem de oito a 12 meses cuidando exclusivamente de seus bebês.
“Depois do primeiro ano, a criança já começa a ficar mais autônoma; passa a se locomover e a se comunicar. Mas nos primeiros 12 meses é importante que a mãe fique o maior tempo possível com o filho, até pela própria amamentação”, recomenda a terapeuta. “Nesse sentido, a internet é uma ótima aliada porque, em muitos casos, permite que a mulher fique em casa sem se afastar completamente do trabalho”, completa.
Depois do primeiro ano, é fundamental para a saúde de toda a família que a mulher volte a cuidar também de outros aspectos de sua vida. “Isso é importante para a autoestima da mãe e para a própria relação conjugal”, justifica.
Ajustes na rotina
Mãe de Tomás, de 3 anos, e de Joaquim, de 6 meses, a arquiteta Katarina Pesci conta que, antes de ser mãe, trabalhava 40 horas por semana. Assim que decidiu engravidar pela primeira vez, resolveu sair do emprego e abrir seu próprio negócio.
“Como o escritório era meu e de uma sócia, não conseguia me ausentar por muito tempo. Por isso, quando Tomás estava com um mês, voltei a trabalhar e depois acabei matriculando-o em um berçário quando ele completou oito meses”, lembra. De acordo com a arquiteta, a experiência não deu certo. “Eu ficava muito triste por ter que ficar longe e ele, por outro lado, ficava muito doentinho, já que viroses são muito comuns neste início de vida”, conta.
Quando engravidou pela segunda vez, Katarina quis fazer diferente. “Eu tinha decidido que passaria o primeiro ano só cuidando do Joaquim, porém assim que ele nasceu acabei me interessando por uma nova profissão: virei confeiteira”, diz ela, que hoje trabalha de casa e busca equilibrar cada vez mais os papéis de mãe e de profissional. “Não consigo ficar longe dos meus filhos, nem longe do trabalho”, afirma.
Estruturação da personalidade
A personalidade humana se estrutura justamente nos primeiros anos de vida. Por isso, para Maria de Fátima Franco dos Santos, psicóloga forense e professora da PUC-Campinas, o ideal seria a mãe não somente cuidar exclusivamente do bebê até ele completar um ano, mas também trabalhar meio período até a criança chegar aos 8 ou 9 anos de idade.
“Em alguns países da Europa, a licença-maternidade pode chegar a três anos. Isso porque os governos entendem que, ao incentivar que as mulheres acompanhem de perto o desenvolvimento de seus filhos nos primeiros anos de vida, previnem a sociedade de problemas relacionados a doenças mentais de crianças e jovens”, explica.
Segundo Maria de Fátima, a infância é uma fase primordial para a formação psicológica do indivíduo. “É por este motivo que terceirizar a educação e o cuidado do bebê é algo tão delicado, pois a criança passa a ter contato com valores e crenças diferentes e nem sempre adequadas”, diz.
A psicóloga também alerta para o sentimento de culpa que, muitas vezes, assola a mulher que precisa retomar sua vida profissional logo após o término da licença-maternidade. “Estamos longe do cenário ideal e a mulher não deve se cobrar tanto. O importante é fazer da melhor forma aquilo que é possível no sentido de promover o acolhimento e o aconchego que a criança precisa”, completa.
Dedicação total
A jornalista Naya El Khatib é mãe de Yasmin, de 2 anos e meio, e ainda grávida decidiu que cuidaria exclusivamente da filha até que a menina completasse 4 anos de idade. “Não foi uma escolha fácil, pois sempre trabalhei e fui independente, mas acho importante estabelecer esse vínculo afetivo com minha filha nesses primeiros anos de vida”, conta.
Inicialmente o marido ficou preocupado com a decisão, mas depois compreendeu e passou a apoiá-la. “Fico cada vez mais convencida de que fiz a melhor escolha. Yasmin é uma criança segura, amorosa e muito saudável, quase nunca fica doente”, diz Naya, que defende a amamentação prolongada.Naya sabe que enfrentará dificuldades para retomar suas atividades profissionais, mas não se martiriza por ter feito esta opção. “Passar muitos anos fora do mercado é complicado, mas a maternidade mexeu tanto comigo que inclusive comecei a rever minha própria profissão. Esse convívio intenso com minha filha me despertou uma vontade de trabalhar com educação”, conta.
Denise Feliciano, psicóloga e psicanalista especialista em psicopatologia de pais e bebês, diz que a decisão de voltar ou não ao trabalho depois de ter um filho é muito pessoal. “Não se pode fazer julgamentos porque cada caso é um caso. A mulher deve escolher o que for mais saudável para ela, sem culpa. O importante é que ela esteja bem com sua decisão, seja voltando ao trabalho, seja ficando em casa”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário