Elas são uma expressão saudável da fase do faz-de-conta. Mas saiba o que fazer quando seu filho não quer tirar a fantasia nem para tomar banho
Sofia, hoje com cinco anos e meio, viveu muitos dias de princesa em 2011. Às sextas-feiras principalmente, quando a escola promovia o dia da fantasia e a menina não queria faltar. A mãe, a designer de acessórios Anna Boogie, 33 anos, que o diga. “Acabamos criando um acervo de fantasias aqui em casa, de tanto que ela gosta de se fantasiar”, diz.
Sofia e a mãe, Anna, com fantasias da menina: pais devem ser parceiros na transição entre o real e o imaginário
Sofia e a mãe, Anna, com fantasias da menina: pais devem ser parceiros na transição entre o real e o imaginário
Sofia é louca pela fantasia da Cinderela. De vez em quando, a mãe até deixa a menina sair de casa como uma princesinha. Anna acha bem melhor a filha gostar de se fantasiar de princesa do que querer se vestir como uma miniadulta. Mas existe um limite para permitir o uso das fantasias infantis?
A comerciante Priscilla Gardelha Giovannetti, 27 anos, é mãe do Cauê, 5. Ele sempre gostou de se fantasiar e, quando o fazia, entrava em um mundo fantástico do qual dificilmente era tirado. “Era uma luta constante fazê-lo tirar a roupa de ‘Power Ranger’, por exemplo, para tomar banho. Ele queria ficar 24 horas vestido com aquela fantasia”.
“Algumas crianças entram nesta fase com maior intensidade mesmo, independentemente do sexo”, diz a psicóloga Ana Felice, orientadora da Escola Carlitos, em São Paulo. A fantasia ajuda os pequenos a elaborar um papel diferente do habitual para entender o novo.
Esta fase de faz-de-conta costuma se extinguir naturalmente. A pedagoga Maria Ângela Barbato Carneiro, professora e coordenadora do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar e da Educação Infantil da PUC-SP, afirma que as fantasias e os espaços fantásticos criados pela criança são bastante cabíveis entre dois e cinco anos, com variações de acordo com o desenvolvimento da criança.
Criar um mundo de fantasia é importante para a criança aprender a se relacionar com o mundo real. Para a psicóloga Ceres de Araújo, especialista em crianças e adolescentes, a fantasia é uma forma de compensação da fragilidade, seja ela uma roupa de princesa ou de super-herói.
O gosto pelas fantasias de super-heróis e princesas é típico da pré-escola e começa a se esvanecer na entrada no Ensino Fundamental. “A criança acaba entendendo as situações em que deve ficar sem a fantasia e, com o tempo, acaba deixando-a de lado”, diz Maria Ângela.
Mas os pais podem respeitar os momentos da vida da criança, acompanhando-a na transição do imaginário para o real. Se a criança não quer tirar a fantasia de Homem Morcego nem para tomar banho, Ana Felice sugere aos pais entrarem na brincadeira. Eles podem dizer ao “Batman” que estão com saudade do filho e querem brincar de vida real.
Quando a criança não quer tirar a fantasia para dormir, os pais podem comprar pijamas com desenhos do personagem ou fazer uma camiseta para dormir com o objetivo de que a criança continue fantasiando. “As crianças são facilmente convencidas, só é preciso ter criatividade. Cortar a fantasia dela é que não vale”, diz Ceres.
A observação dos pequenos nestes dias de faz-de-conta é fundamental. Principalmente daqueles fantasiados de heróis e ainda incapazes de distinguir claramente realidade e fantasia. Eles podem tentar sair voando de cima de um armário ou realizar outras proezas. Com os pais à vista, os problemas podem ser evitados.
Maria Luisa de Branca de Neve: ela pode usar suas fantasias de princesa em festas e dias especiais
Meninos de princesa, meninas de super-herói
Um menino vestir-se de Branca de Neve e uma menina de Super-Homem, ao contrário do que muitos pais pensam, não é um problema. “Muitas famílias ficam preocupadas com a fantasia de heróis do sexo oposto, mas não é por isso que o filho será gay”, diz a pedagoga Maria Ângela.
Crianças gostam de experimentar diferentes situações. Se seu filho ou filha quer se fantasiar de um personagem do sexo oposto, cuide para que ele o faça em um contexto adequado e seja parceiro. “Uma interrupção abrupta pode criar problemas e deixar a criança encucada com algo em que ela nem pensaria anteriormente”, completa.
A única regra é usar o bom senso para não deixar a fantasia ultrapassar os limites. Carol Meireles, 32 anos, é diretora criativa de uma marca infantil e mãe da Maria Luisa, quatro anos e fã de roupas de princesas. “Imponho os limites que considero importantes para ela”, diz. Maria Luisa pode usar roupas de princesa em festinhas ou no dia da fantasia na escola.
Quando não acha que a ocasião é apropriada para o uso de fantasias, ela explica para a filha. Nem sempre é fácil. “A Maria Luisa pode até me desgastar, mas eu assumo o ‘não’ até o final”, diz. Como em tudo, cabe aos pais, parceiros mais experientes da relação, embarcar junto – mas dizer a hora de voltar.
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