sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Holocentrus adscensionis: um exótico jaguacerá jovem

Peixe sente-se excitado com o aumento da temperatura da água
Meses atrás uma dúvida surgiu entre alguns pesquisadores brasileiros: que peixe seria aquele que parecia uma sardinha (mas não era), de cor azul ou cinzenta, mas que também podia ser vermelha? Esse bicho estava sendo encontrado com freqüência em redes de mar aberto e nos estômagos de peixes grandes (atuns, bicos, etc.) e de aves (trinta-reis, viuvinhas, etc.). Descobrir a família não foi complicado, era um Holocentridae, mas e daí, que peixe é este?
Combinando esforços, espécimes de museus e muita paciência, Teodoro Vaske, Ricardo Rosa e eu mesmo terminamos por matar a charada: eram juvenis do comuníssimo jaguareçá! Pode parecer estranho, mas os bichos ilustrados aqui são todos da mesma espécie. Depois de nascer de ovos flutuantes e que ficam à deriva no mar aberto, as larvas vão crescendo e se desenvolvendo: aparecem espinhos no dorso, ventre e focinho, depois surgem as escamas e nadadeiras mais completas e, com 2,5 a 4,2 cm, têm o jeitão do adulto, mas um focinho pontiagudo com uma cor que varia do cinza ao azulada. Este estágio de vida é chamado de rhynchichthys.
A partir de uns 4,8 cm e até 6,0 cm, o espinho do focinho encurta rapidamente e o peixe fica como ilustrado na figura 2, chamado de estágio meeki. De repente, em um único dia, ele muda de cor! Fica como na figura 1, vermelho com listras horizontais prateadas. A partir daí, o jovem jaguareçá busca o fundo e se estabelece em recifes de coral ou rochosos, costões, parcéis e ilhas, onde finalmente tornam-se adultos.

Estágio meeki
O nome científico deste bicho é Holocentrus adscensionis e vive no Atlântico, no lado ocidental de Nova Iorque a Santa Catarina, entre 1 e 90 m de profundidade. Prefere regiões de água limpa e temperatura da água entre 20 e 22 graus Celsius. Por razões desconhecidas, a temperatura da água muito alta induz o animal a uma grande excitação, incluindo enorme voracidade. É durante a noite que caça, solitário e ativamente, caçando crustáceos e outros invertebrados de fundo, sem desprezar peixes menores. Nessas horas tem cor geral vermelha mais escura e constitui, em áreas coralinas, uma das espécies dominantes da fauna de peixes.
Ao amanhecer busca sua toca onde passa o dia, ou forma grupos, muitas vezes em frente à boca de cavernas. É capaz de emitir grande variedade de sons, produzidos por músculos anexos à bexiga natatória e pelo atritar de dentes da faringe. São grunhidos curtos, durante o dia e contra intrusos de sua própria espécie; e estalidos rápidos e repetidos, contra outros intrusos, e ao amanhecer e entardecer.
Oferece pouca resistência ao pescador que, quando o retira do anzol, deve ter cuidado com os espinhos da cabeça e do dorso. Eles são cobertos por uma mucosa que, quando penetra em ferimentos, pode causar grave infecção. Para tratamento, com resultados imediatos em mais de 90% dos casos, o melhor é colocar a parte ferida do corpo em água quente numa temperatura aproximada de 45 graus Celsius. O local deve ainda ser muito bem lavado, com água, sabão e escovinha, para limpa-lo das proteínas estranhas ao nosso organismo. Assim que possível o ferido deve ser levado a um posto médico.
Reproduzem-se por todo ano nas regiões quentes, e no verão nas subtropicais. Os ovos são pelágicos. As larvas são muito diferentes dos adultos.
Alfredo Carvalho Filho é publicitário e biólogo, autor de inúmeros trabalhos científicos, artigos populares e do livro “Peixes Costa Brasileira”. Escreve todo mês sua coluna “Que Peixe é Este” para a revista "Pesca Esportiva”
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