quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A mulher ainda tem tabus sexuais a resolver

Renomada especialista em sexualidade, Carmita Abdo fala sobre prazer e tabus: “a vida sexual começa de forma errada”
Olhos atentos, jeito simples, Carmita Abdo fala de sexo com a naturalidade de quem estuda a questão há mais de 30 anos. Fundadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e coordenadora de duas das principais pesquisas sobre comportamento e sexualidade já realizadas no Brasil – “Estudo da Vida Sexual do Brasileiro” e “Mosaico Brasil” –, a médica faz uma análise realista de quem somos na cama.
Carmita recebeu o Delas para um bate-papo em seu consultório, uma casa situada na zona sul de São Paulo. No jardim dos fundos ela cultiva orquídeas e violetas, mas é no pomar logo ao lado que o marido colhe pêssegos e uvas. O local é intimista, assim como Abdo, que tem o dom de fazer as pessoas se sentirem à vontade, mesmo quando o assunto é um dos grandes tabus comportamentais: sexo.
A psiquiatra Carmita Abdo em seu consultório
Segundo a pesquisa “Mosaico Brasil”, para o homem o sexo está em terceiro lugar no ranking de qualidade de vida, atrás apenas de convivência familiar e boa alimentação. Para a mulher, ele aparece em oitavo lugar, ficando à frente somente de férias e exercícios físicos. Como lidar com essa diferença de prioridades?
Carmita Abdo: Existe uma frase popular que diz: “O homem faz sexo para se sentir bem e a mulher faz sexo quando está bem”. Quando ele tem um dia cheio, cansativo, quer fazer sexo para se sentir realizado. A mulher precisa estar realizada para querer fazer sexo. Se ela está cansada, pensando nos filhos, na briga com o chefe, não tem desejo. O segredo é homens e mulheres aprenderem a lidar com essas diferenças. Por exemplo, se a mulher está sobrecarregada, o homem pode ajudá-la nas tarefas de casa, com os filhos, e até mesmo conversando sobre o dia difícil que ela teve. Desta forma, o casal cria intimidade e o desejo aparece e se intensifica.
A mulher já encontrou seu papel no jogo sexual ou ainda está confusa?
Carmita Abdo: As mulheres precisam encontrar sua identidade própria, sua essência. Não há uma receita. Existem mulheres que são naturalmente sexy, o jeito como elas se movem, seus gestos. Outras são discretas. Há problema quando a mulher escolhe um modelo que não é o dela. Quando uma mulher discreta quer parecer uma mulher sexy, coloca um vestido curto e sai. Daí passa a noite puxando o vestido, preocupada com o que está aparecendo. É o tipo de atitude que não é sexy. Ela não consegue enxergar que a sensualidade dela pode estar justamente na maneira mais discreta, no mistério que ela insinua.
Qual é o principal tabu a ser quebrado com relação à sexualidade?
Camita Abdo: Para o homem ainda é a questão do tamanho do pênis. Eles acham seus órgãos pequenos mesmo quando têm tamanhos normais. Eles ligam esse sentimento à virilidade, à essência masculina. Acham que quanto maior o tamanho, mais serão capazes de dar prazer. Já com relação às mulheres, ainda é a perda da virgindade. Elas sofrem muita pressão para iniciar a vida sexual, principalmente de seus pares, e acabam escolhendo qualquer um. A vida sexual começa de forma errada, e isso pode trazer problemas sexuais para o resto da vida.
 E para aquelas que já têm vida sexual?
Carmita Abdo: Para essas é o orgasmo. A mulher quer ter orgasmo a qualquer custo, ela acha que precisa disso. Mas ela precisa enxergar que o sexo é bom mesmo quando não há orgasmo. Se ela vai para cama focada somente nisso, fica muito mais difícil chegar lá. É tanta concentração nesse tema que ela até se esquece de sentir realmente a relação.
 As mulheres conseguem verdadeiramente praticar o sexo casual ou estão indo na onda de seriados e filmes?
Carmita Abdo: De acordo com a pesquisa [Mosaico Brasil], 43% das mulheres não têm problema em fazer sexo sem compromisso, e esse é um número bem expressivo. A mulher já entendeu que sexo não é amor, e o sexo casual muitas vezes pode ser a saída. Mas é essencial lembrar sobre a necessidade de usar preservativo. Parece chato tocar nesse assunto quando falamos de sexo, mas a saúde não pode ser colocada em risco.
Além do orgasmo, por que fazemos sexo?
Carmita Abdo: As mulheres fazem sexo em busca de proximidade, de contato, de carinho. Elas querem se realizar na relação. É um conjunto muito grande de fatores. Elas querem a confirmação de que são desejadas, amadas, bonitas, sexy. Os homens querem a confirmação da virilidade e ainda relacionam o desempenho com a macheza.
Por que os homens se dizem assustados com as mulheres? Que tipo de comportamento delas dispara isso?
Carmita Abdo: O homem tem razão em estar assustado, muita coisa mudou e de forma rápida. O comportamento feminino de quando eles eram pequenos é muito diferente do atual, e eles se surpreendem.
:Temos a impressão de que a mulher se conhece muito pouco e isso afeta de alguma forma sua vida sexual.
Carmita Abdo: Desde cedo, o homem tem muito mais contato com seu órgão sexual. É preciso tocá-lo para fazer xixi. As meninas não. A mulher precisa conhecer a sua anatomia – internamente, externamente e juntar essas peças. Tem mulher que não sabe o que é o clitóris, nem como ele funciona. Se ela souber seu funcionamento – onde fica, para que serve – vai utilizá-lo da melhor forma possível para o seu próprio prazer.
Qual é a maior queixa das mulheres com relação a seus parceiros na cama? E as queixas deles?
Carmita Abdo: A maior queixa das mulheres se refere ao homem ejacular muito rápido. Boa parcela delas imagina que ele é egoísta e não se preocupa com o prazer sexual feminino. No entanto, falta de controle da ejaculação é uma disfunção sexual masculina que, felizmente, tem tratamento. Os homens queixam-se da falta de desejo sexual delas. Conforme o relacionamento vai se tornando mais e mais estável, elas vão tendo menos desejo.
 Qual o maior empecilho sexual da mulher moderna?
Carmita Abdo: Nem sempre é fácil para a mulher moderna conciliar cuidados com a casa e os filhos, vida profissional, cuidados com os pais, vida conjugal e atividade sexual. Todas essas múltiplas atividades não são exatamente um empecilho, mas um desafio à habilidade feminina. Saber o que priorizar em cada momento do dia depende de disponibilidade e se aprende todos os dias.





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