terça-feira, 13 de dezembro de 2011

“Tô bandida” e “Tô na pista” fazem sucesso entre as mulheres

Bordões colaram principalmente entre mulheres. Especialistas acreditam que é um reflexo de mudanças na sociedade
Com o bordão “Ai, como eu tô bandida”, o quadro Valéria e Janete é a maior audiência do Zorra Total. No quadro, Janete, interpretada por Thalita Carauta, conversa no vagão de trem com a amiga, a transexual Valéria, interpretada por Rodrigo Sant´Anna. Além de sucesso, o quadro também levantou polêmica: em um dos episódios, Janete é bolinada e recebe da amiga a resposta “aproveita que tu não está podendo escolher”. A fala foi considerada permissiva com o assédio. Discussões à parte, o quadro chega a 25 pontos de audiência.
Nem os atores conseguem saber exatamente o que garantiu o sucesso dos personagens e do bordão, que nasceu no palco, na peça Os Suburbanos. “No teatro, o personagem já era bastante aceito e o bordão, bastante bem-sucedido”, disse Rodrigo Sant’Anna. “O apelo do personagem é essa coisa de acreditar que é interessante. A Valéria tem uma autoestima inabalável que falta em muitas mulheres. Eu acredito que essa personagem traduz uma mudança de mentalidade do público, até porque uma transexual não faria sucesso há alguns anos”, diz o ator.
O “tô bandida” segue a mesma linha afirmativa de “tô na pista”, gíria carioca fácil na boca de quem está aí para o que der e vier. A atriz Cléo Pires usou a expressão para falar do projeto de ter filhos em 2012. “Pergunta pra vida”, ela declarou. “Eu tô aí. Tô na pista pra negócio, vamos ver. Tenho vontade de ter vários filhos".
A graça desses bordões é a admissão de malícia e assertividade, uma relativa novidade na boca feminina. “Na mesma linha, tem o “tô pagando” da Lady Kate, também do Zorra Total”, lembra Talita Rodrigues da Silva, mestre em filologia e língua portuguesa pela Universidade de São Paulo. “O bordão tem que ser fácil, curto e repetido muitas vezes no mesmo contexto. Ele funciona como uma metáfora e encurta um uso, eliminando longas explicações”, explica Talita. Por exemplo, cada vez que a Valéria diz para Janete “mulher, não tá podendo”, fica implícito que ela quer dizer que a amiga é feia, desajeitada, pouco sedutora e que tem óbvias dificuldades para se relacionar.

A atriz Cleo Pires usou a expressão quando falava sobre o projeto de ter filhos em 2012: "Eu tô aí. Tô na pista pra negócio, vamos ver."
De acordo com a lingüista, a linguagem da mulher é menos conservadora. “A mulher tende a inovar mais nos usos da linguagem, de acordo com pesquisas no Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro”, afirma. Ela acredita que no caso do “tô bandida” e no “tô na pista” o sucesso esteja ligado à uma certa valorização da “cultura da piriguete”. “A piriguete sempre é nova e hoje não é vergonha ser piriguete. Esse bordão específico entra nesse grupo, atinge mulheres de até 30 anos, baladeiras. O ‘tô na pista’ segue na mesma linha.”
Para Lenise Santana Borges, professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e integrante do Grupo Transas do Corpo, o sucesso do bordão é uma caixa de ressonância da sociedade. “A personagem da transexual carrega o texto mais positivado, de autoafirmação. Tem uma tentativa de escapar desse lugar de vítima, de discursos de autopiedade. São estratégias para fazer com que elas se sintam mais empoderadas”, diz Lenise. “Ter alguns bordões na mídia mais positivos é ótimo”, acredita a psicóloga. “Modelos e repertórios de inspiração são importantes. Se ela está podendo, porque eu também não posso?”



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