terça-feira, 16 de outubro de 2012

Menina de 14 anos baleada por defender direito à educação recebe novas ameaças


Taleban afirma que Malala Yousafzai não será poupada caso sobreviva; ela passou por operação nesta quarta-feira

A menina Malala Yousafzai, de 14 anos, que mantém campanhas pelo direito à educação de garotas e foi baleada na cabeça por militantes do Taleban na terça-feira, voltou a receber ameaças e, segundo o grupo, não será poupada caso sobreviva.
Em entrevista à BBC Urdu, a seção paquistanesa do Serviço Mundial da BBC, Ehsanullah Ehsan, porta-voz do Taleban, reiterou as ameaças à vida da menina e disse que ela foi alvo do ataque por "promover o secularismo".
"É uma regra muito clara da Sharia [a lei islâmica] que qualquer mulher, que por qualquer meio tenha um papel na guerra contra os mujahedins [termo pelo qual os militantes são conhecidos], deveria ser morta", disse Ehsan.
AP
Soldados carregam garota de 14 anos vítima de um ataque do Taleban (09/10)
Outras duas estudantes foram feridas no ataque, e uma continua em estado grave.
Malala tornou-se conhecida ainda em 2009, aos 12 anos, quando manteve o blog Diário de uma estudante paquistanesa na BBC Urdu. Os depoimentos de Malala na época podem ser lidos em inglês, no site da BBC.
Na época ela comentava os impactos na comunidade das medidas do Taleban, que naquele ano havia fechado mais de 150 escolas para meninas, e explodido outras cinco na região do vale de Swat.
O clima já era tenso na época e havia uma ameaça constante de que escolas de meninas pudessem ser alvo de ataques. Malala relatava que muitas de suas colegas haviam se mudado com suas famílias para cidades maiores como Lahore, Peshawar e Rawalpindi.
"Eu tive um sonho terrível ontem com helicópteros do Exército e o Taleban. Tenho tido esses sonhos desde o início da operação militar em Swat. Minha mãe fez meu café da manhã e eu fui para a escola. Estou com medo de ir à escola porque o Taleban emitiu um alerta banindo todas as meninas de frequentarem as escolas", dizia um post da garota no dia 3 de janeiro de 2009.
"Na volta da escola para casa, ouvi um homem dizendo 'eu vou te matar'. Eu acelerei o passo e depois de um tempo olhei para trás para ver se ele ainda me seguia, mas para o meu alívio ele estava falando com alguém no celular e deve ter ameaçado outra pessoa pelo telefone".
Cirurgia
As novas ameaças do Taleban contra a menina chegam no mesmo dia em que médicos disseram terretirado a bala da cabeça de Malala. Ela permanece internada, mas estável.
O ataque motivou uma série de protestos nas ruas de várias cidades do Paquistão e o governo deve estudar como garantir a segurança da menina. Para M Ilyas Khan, analista da BBC em Islamabad, a vida família jamais será a mesma, e é provável que ela tenha que viver sob proteção policial ou seja forçada a buscar asilo político em outro país.
A menina tornou-se famosa em 2009 por seu desejo inocente mas ainda assim muito corajoso de advogar pelo direito das meninas de estudarem em regiões do Paquistão dominadas pelo Taleban. Além de chocar o país, o caso pode ter impactos na relação entre governo, parlamentares, e o Taleban.
AP
Mulheres mostram fotos de Malala durante protesto em Lahore
"A inabilidade do governo de reconstruir [as escolas] juntou-se à sua ambivalência em relação ao Taleban, o que deu espaço aos militantes para levarem a cabo atos de sabotagem com impunidade. A questão é: isso vai mudar a partir de agora?" pergunta-se o analista.
"A tentativa de assassinato contra Malala Yousafzai chocou e irritou a nação. Há relatos do Parlamento sugerindo que um consenso mais amplo contra o Taleban pode estar sendo discutido - algo que os políticos paquistaneses nunca atingiram antes", acrescenta.
Ataque
A menina foi baleada na terça-feira quando viajava com outras garotas na região do Vale do Swat, parte ultraconservadora do país. Um homem com barba teria atirado em Malala - não está claro se o ataque ocorreu antes de as meninas embarcarem na van ou durante o trajeto.
Ela foi atingida na cabeça e, segundo algumas testemunhas, também no pescoço. Após ser levada para um hospital local, foi transferida por helicóptero para um mais especializado em Peshawar.
Um porta-voz do Taleban confirmou que o grupo é responsável pelo ataque a Malala, sob a justificativa de que a menina é "anti-Taleban e secular, e não poderia ser poupada".
Consequências
De acordo com a correspondente da BBC, até mesmo para a realidade sangrenta que predomina no Paquistão, o crime provocou fúria no país. O ataque foi condenado pelo premiê Raja Pervez Ashraf, que enviou um helicóptero para transferir Malala para Pashawar.
O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, disse que o ataque contra Malala não afetará a luta do país contra os militantes islâmicos e em favor da educação feminina. O diretor do Comitê Independente de Direitos Humanos do Paquistão, Zohra Yusuf, disse que "esse trágico ataque contra uma criança tão corajosa" envia uma mensagem assustadora para todos que lutam para as mulheres e meninas paquistanesas.
O crime também foi criticado pela maioria dos partidos políticos paquistaneses, celebridades de TV e outros grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional.
A campanha articulada de Malala em prol da educação de meninas lhe rendeu admiradores e reconhecimento dentro e fora do país. Ela apareceu em TVs nacionais e internacionais falando de seu sonho de um futuro em que a educação no Paquistão prevalecesse.

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