Mulheres contam como encararam o fim de um casamento e conseguiram construir uma nova relação de amizade com o ex. Você seria capaz de fazer o mesmo? Opine
Já se vão 24 anos desde que a assistente contábil Sonia Miranda decidiu pôr fim ao casamento de uma década. A separação foi dolorosa. Por isso, quem vê de longe nem acredita na parceria que ainda existe entre os dois. “Sei que posso contar com o Paulo Jorge para tudo, principalmente nos momentos de sufoco. A porta da minha casa é aberta para ele entrar a qualquer hora. Por essas e outras, o PJ costuma dizer que a nossa relação é transcendental”, conta.
O exemplo de Sonia e Paulo Jorge não é um fato raríssimo na ciência dos relacionamentos, mas exige um pouco mais do que jogo de cintura dos envolvidos. “Manter um contato de amizade com o ex pode ser muito interessante, desde que seja uma relação saudável para ambos. Deve haver respeito, alguns limites claros e muita maturidade”, explica a psicóloga e psicoterapeuta de casal Luciane Evangelista.
Respeito foi a primeira característica de Agostinho que chamou a atenção da professora de educação ambiental Carla Machado. “Quando nos conhecemos, em Londrina, eu fazia uma disciplina na faculdade com a irmã dele e adorava o carinho com que ele a tratava”, explica. Foram cinco anos de namoro até o dia do “sim”. “Tínhamos um bom relacionamento, trabalhávamos juntos, até que engravidei. Acho que com a gravidez eu mudei muito. Minhas prioridades todas se voltaram para o bebê e acabei não aceitando o fato de ele não ter mudado também”, conta.
O casamento durou mais três anos. Quando Carla decidiu mudar de cidade, a filha foi junto – e do marido, ou melhor, do ex-marido, ela recebeu todo o apoio. “Na época da separação eu tinha um pouco de mágoa, mas o tempo foi passando e logo veio a relação de amizade”, diz. “Além disso, eu tinha certeza que não o queria mais como marido. Isso facilitou nunca ter ciúmes da nova mulher e dos outros filhos dele”, afirma Carla.
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“Quando conheci a noiva dele, fiz questão de ter uma conversa com ela. Ficamos mais de uma hora juntas e disse que ‘ele é pra casar’”, diverte-se a professora Paula Gomes
Dar um tempo
O tempo para elaboração dos sentimentos depende de cada história. “Ambos precisam de um espaço para a reaproximação, agora de amizade. Não existe um período exato, mas podemos pensar em seis a dez meses, em média, quando as coisas já estão sendo vistas pelo ex-casal de maneira menos emocional”, aponta a psicóloga.
Com Carla e Agostinho, a boa relação também se estendeu para as novas famílias. “Sempre gostei muito da atual mulher dele e do jeito carinhoso que cuida da nossa filha. Hoje, moro em Londrina de novo e eles vêm nos visitar com as crianças. E continuo trabalhando com ele”, conta Carla.
Quando o fim é muito difícil, para os dois ou para um dos cônjuges, a possibilidade de uma reaproximação é mais complicada. “Mesmo assim, vale a pena buscar uma maneira madura de lidar com isso e se adequar aos novos papéis. Até para uma vivência traumática não atrapalhar novos relacionamentos”, acredita Luciane Evangelista.
Parceiros de trabalho
Assim como com Carla, o trabalho – além da amizade – também foi o que manteve a relação de Paula Gomes e John. Isso porque a professora de inglês e o marido já estavam separados quando aceitaram uma proposta de emprego em Omã, no Oriente Médio. Juntos, arrumaram as malas e levaram a filha pequena. “Sempre fomos amigos, mas o casamento não ia muito bem. Foi uma maravilha quando tomei a decisão. Mesmo assim, moramos na mesma casa por mais um ano e meio”, explica Paula.
“Viramos grandes amigos, a convivência ficou até melhor logo depois do divórcio. Às vezes, saem faíscas, mas se eu ligar para ele às duas da manhã, sei que ele vai me ouvir e vice-versa”, diz a professora que ao lado do ex-marido rodou, de férias, mais de mil quilômetros pelo interior de Omã.
Responda sinceramente: você seria capaz de ficar amiga do seu ex?
No outro lado do mundo, eles também tiveram a chance de reconstruir a vida amorosa. E, por uma dessas coincidências, hoje estão noivos novamente: ele de uma francesa e ela, de um francês. “Quando conheci a noiva dele, fiz questão de ter uma conversa com ela. Ficamos mais de uma hora juntas e disse que ‘ele é pra casar’”, ri.
Sem querer (ou por causa do bom exemplo em casa), Paula repetiu o que seus pais fazem há alguns anos. “Eles estão separados, mas na minha família não tem essa história de não se ver, não se falar, não frequentar a mesma festa porque o ex está. Tem gente que não consegue. Mas acho que, quando todo mundo se entende, melhor é. Para todos”.
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