quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

2011, o ano do poder das mulheres

Especial mostra sutilezas e histórias de mulheres que ocuparam espaços em antigos territórios masculinos e despontaram no combate à crise em seus países
Em um ano igualmente equilibrado por números femininos (2 e 0) e masculinos (1 e 1), mulheres dos mais diversos países e nas mais diversas funções assumiram um ambicionado substantivo masculino (o poder) para combater um temeroso substantivo feminino (a crise). Nunca antes na história desse planeta, o Brasil teve uma presidenta, o FMI elegeu uma diretora-geral e as nações muçulmanas viram tanta contestação feminina. Na Europa, a chanceler alemã Angela Merkel se colocou à frente de uma operação para limpar a sujeira deles: gregos, italianos e espanhóis. Na Argentina, Cristina Kirchner renovou seu mandato com uma dianteira sem paralelo em mais de quatro décadas.
O Brasil bateu o recorde de ministras (uma de cada três ministros de um governo que também alcançou o ápice de 38 ministérios). Na esfera da Justiça, a ministra Eliana Calmon, do STJ, enfrentou o presidente do Supremo Tribunal Federal pelo direito de processar juízes no Conselho de Justiça. E na chefia da Polícia Civil, o Rio de Janeiro ganhou uma delegada de batom, salto alto e nome de miss: Martha Rocha. Na esteira do apagão de mão de obra, elas invadiram territórios outrora destinados exclusivamente a brasileiros: a construção civil, os estaleiros, a marinha mercante.
A história, contudo, também desfez outros mitos contumazes, como o de que o poder feminino é sensível, honesto, ponderado, tolerante. A presidenta Dilma Rousseff mostrou-se capaz de degolas sumárias de ministros e proliferaram as versões de que seus auxiliares se dividem em dois grupos: os que já ouviram palavras duras (e algumas vezes em tom elevado) e os que estão loucos para ouvi-las, tão pouco é o espaço que conseguem na agenda presidencial. Palavras duras também saíram da boca da chanceler da Alemanha na direção de gregos e italianos.

O mito da honestidade do poder feminino veio abaixo com a sucessão de primeiras-damas de municípios brasileiros denunciadas pelo Ministério Público por corrupção e outras falcatruas com o dinheiro público.
Em 2011, São Paulo viu a ascensão de uma gangue inédita -- liderada por adolescentes de rua, roubava motoristas e comerciantes de um bairro nobre da cidade. A retomada dos morros cariocas pelo poder público desnudou a influência das mulheres do tráfico.
A ficção foi em busca da realidade ao colocar duas protagonistas na novela das 9 da Globo. Uma é trabalhadora, honesta, dedicada aos filhos e fica rica num golpe de sorte ao ganhar na loteria. Representa a classe emergente do Brasil, de lares liderados por mulheres. A outra é o estereótipo da rica, preconceituosa e mentirosa – e certamente é coincidência qualquer semelhança entre ela e uma certa elite que mereceria ser punida por sua vilania.
O ano do poder feminino é a confirmação de um processo iniciado por outras gerações que acreditaram na igualdade de direitos e competências. As histórias de 2011 mostram que ele resultou num mundo menos utópico do que o sonhado pelas feministas de antigamente -- mas também que essa é uma transformação ainda distante de estar completa.



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