Especialistas alertam: o aumento é pequeno, os riscos são altos e a cirurgia é proibida para quem está dentro da média
No mundo masculino, tamanho é mais do que documento. Principalmente se a régua estiver medindo o tamanho do órgão sexual. Para muitos, os centímetros a mais ou a menos estão intimamente ligados à masculinidade.
Baseados nessa insegurança por vezes sem fundamento, proliferam pela internet sites que prometem aumentar o pênis com equipamentos ou cirurgias vendidas como algo simples e com resultado garantido.
“O aumento do pênis é possível, do ponto de vista médico e ético, quando o homem tem um órgão menor do que 10cm em ereção, o chamado micropênis”, afirma Otto Henrique Torres Chaves, diretor do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Além do tamanho, também são considerados candidatos à cirurgia casos de malformação, defeitos decorridos de traumas, amputação parcial do membro ou retração do pênis, em pacientes com lesão de medula.
Mesmo nos casos em que há indicação médica, o procedimento consegue aumentar no máximo 2 centímetros no comprimento, afirma Chaves, que já realizou diversas cirurgias como essa.
A posição da SBU está em consonância com o Conselho Federal de Medicina. Para as duas entidades, métodos que prometem prolongamento são considerados experimentais e somente poderão ser feitos se forem parte de um protocolo de pesquisa com aprovação de um comitê de ética médica.
Para estes casos, não há exercícios ou milagre. O pênis não é um membro de musculatura estriada, isto é, que obedece a comandos. "Se assim fosse, não haveria tantos problemas de ereção", alerta a SBU em seu site.
A cirurgia consiste em cortar o ligamento que prende a base do pênis ao osso do púbis – parte mais baixa do abdome, onde começam os pelos pubianos. A função desse ligamento é mater o pênis ereto em posição ascendente, proporcionando um ponto auxiliar de apoio para dar mais estabilidade ao órgão durante a relação sexual. “Essa modificação deixa o órgão mais ‘solto’, a ereção pode ficar comprometida”, afirma Sylvia Faria Marzan, urologista e terapeuta diretora do Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia (Isexp). Nos casos em que o homem perdeu parte do pênis por conta de câncer ou algum acidente a opção mais indicada é a colocação de prótese.
O tamanho médio do órgão sexual varia entre 12cm e 16cm e a circunferência fica em torno de 12cm a 13cm, segundo um amplo estudo feito com 11500 homens de diferentes nacionalidades, publicado pelo British Journal of Urology, há quatro anos.
A falta de informação sobre as dimensões reais do aparelho genital masculino, no entanto, fica clara nos consultórios. Segundo os urologistas, pelo menos 50% das dúvidas são sobre tamanho. Para Alfredo Romero, do Instituto Brasileiro Para Saúde Sexual (Ibrasex), esse número é ainda maior. “Acredito que 85% dos questionamentos masculinos tenham esse viés”, afirma.
Aliada à desinformação, está a precária educação sexual masculina baseada primariamente na indústria pornográfica, onde trabalham atores com volumes e comprimentos que fogem à regra. O resultado dessa soma traz prejuízos à sexualidade, que podem se manifestar em ejaculação precoce, disfunção erétil e dismorfofalofobia (síndrome de distorção da imagem do pênis). A preocupação com o tamanho do pênis, muitas vezes, pode vir desde a infância.
“Hoje dizemos que o homem contemporâneo, aos sete anos, já tem todas as condições para ter problemas sexuais”, afirma Amaury Mendes Junior, secretário geral da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.
Em um estudo britânico foi pesquisada a taxa de satisfação dos pacientes após tratamentos cirúrgicos de aumentos penianos diversos, e observou-se que a grande maioria (aproximadamente 70%) desses pacientes estava insatisfeita com os resultados dos tratamento, o que reforça a tese de que o problema está muito mais na ideia equivocada que eles têm do que com a realidade apresentada.
Quando o homem chega ao médico queixando-se de suas proporções normais, a conduta correta é indicá-lo à psicoterapia. “Não adianta operar ou fazer qualquer intervenção, o homem precisa se conhecer e descobrir sua sexualidade”, afirma Sylvia Faria Marzan. A urologista já atendeu pacientes que chegaram ao consultório com nódulos e inchaços decorrentes de práticas que prometem engrossar ou alongar o pênis. As complicações são dificilmente revertidas.
“O homem carrega um estigma de competição, ele tem medo de se expor, de encontrar alguém superior a ele. Eles relacionam o tamanho do órgão com a personalidade. Poucos percebem que a sexualidade tem muito mais a ver com atitude, com malícia, do que com tamanho”, afirma Mendes Junior.
Aquele que quer um pênis muito longo ou grosso, com certeza desconhece também as proporções da vagina, conclui Torres Chaves. O canal vaginal tem em torno de 13 cm, podendo variar para mais ou para menos.
“Nossa sociedade prega que os homens sejam grandes e as mulheres pequenas. Que relação viria daí?”, questiona Amaury.
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