domingo, 11 de março de 2012

Busca sobre últimos dias de Bin Laden esbarra em rumores e falta de clareza


Militar aposentado refaz passos de soldados americanos que invadiram esconderijo de fundador da Al-Qaeda, morto em maio de 201Em sua busca pela verdade sobre o indivíduo mais famoso que visitou seu país, Shaukat Qadir começou onde tudo terminou: na sala onde Osama bin Laden foi morto.

Em agosto, Qadir, um brigadeiro aposentado do Exército do Paquistão, refez os passos dos soldados americanos que invadiram o esconderijo de Bin Laden no dia 2 de maio do ano passado.

Máquinas trabalham na demolição da casa em Abbottabad (26/2)
Ao subir as escadas até o segundo andar, Qadir passou por um contorno corporal que marcou o local onde o filho de Bin Laden, Khalid, 22 anos, foi morto a tiros. Em seguida ele entrou em uma pequena sala com um teto baixo, um guarda-roupa vazio e muitos buracos de balas em uma parede. No teto se encontrava um respingo de sangue que, de acordo com a inteligência paquistanesa, era de Bin Laden.
"Sendo um ex-soldado, eu fiquei impressionado com a péssima condição em que a casa era guardada", disse Qadir. "Não havia nenhuma medida de segurança adequada, nenhum equipamento de alta tecnologia. Na verdade, não era nada do que eu esperava."
Apesar da morte de Bin Laden, muitas dúvidas ainda permanecem. Quem o ajudou a se esconder? Como foi que a CIA o rastreou? E, talvez mais importante ainda, será que os generais do Paquistão sabiam que ele vivia a poucos passos de uma academia militar?
Comissão
O governo do Paquistão diz que as respostas virão através de uma comissão oficial de investigação, liderada por um juiz da Suprema Corte, que vem trabalhando desde maio no assunto. 
No entanto, poucos acreditam que a Comissão de Abbottabad, como é conhecida, será bem sucedida.

Muitas vezes, o governo paquistanês parece mais interessado em deixar tudo isso para trás do que em buscar respostas. Na noite de 25 de fevereiro, as autoridades locais de Abbottabad enviaram tratores para demolir a casa de Bin Laden após o anoitecer, apagando um símbolo doloroso de um episódio embaraçoso para os militares do país.
A publicação das conclusões da comissão estava inicialmente prevista para ser divulgada em dezembro, porém foi adiada, e os críticos do governo dizem suspeitar que é possível que o governo paquistanês queira abafar a dimensão de seus achados.
Um ex-oficial do governo de Obama que leu o relatório concordou com algumas das constatações feitas por Qadir, tais como a alegação de que Bin Laden e seu vice, Ayman al-Zawahri, tiveram sérias discordâncias que fizeram com que Bin Laden fosse deixado de lado.
"Essa divisão aumentou ainda mais com o passar do tempo, e continuou sendo uma fonte de tensão até o dia que Bin Laden morreu", disse o oficial, falando sob condição de anonimato. "Seu papel havia diminuído."
Rumores
Várias das conclusões que Qadir fez em seu relatório são altamente controversas, como a crença de que a Al-Qaeda traiu seu líder para ganhar dinheiro dos Estados Unidos como recompensa por sua morte. "Eles queriam que Bin Laden desaparecesse e queriam uma parte dos US$ 25 milhões oferecidos por sua cabeça", ele disse.
Peter Bergen, um especialista em terrorismo e autor de um livro sobre os últimos anos de vida de Bin Laden disse que essa teoria é "ridícula".
Uma questão que tem permanecido no centro da desconfiança mútua entre o Paquistão e os Estados Unidos é se o ISI foi tão incompetente assim ao não conseguir enxergar que Bin Laden estava escondido debaixo de seu nariz ou se a agência era cúmplice de sua proteção.
Muhammad Hanif, um romancista popular do Paquistão, sugeriu recentemente que ambas as respostas poderiam ser consideradas. Bergen disse que nenhuma das duas. "Bin Laden era um cara hiperparanoico que fez o máximo que pode para não ser encontrado. Não se esqueça de que o governo dos Estados Unidos demorou 10 anos para encontrá-lo, ainda que com muitos recursos à sua disposição", avaliou.
Bin Laden aparece em imagem retirada de vídeo sem data
Autoridades americanas e ocidentais, que falaram em Washington e no Paquistão sob condição de anonimato, disseram que a CIA (agência de inteligência americana) havia digitalizado milhões de documentos obtidos dos discos de computadores encontrados na casa de Bin Laden e que não encontrou nenhuma evidência de auxílio por parte do governo paquistanês. Mas para alguns analistas isso não quer dizer nada.
"Não existe nenhuma evidência que diz que sim, mas também não há nenhuma evidência que exclua firmemente sua cumplicidade", disse Bruce Riedel, um antigo oficial da CIA e conselheiro do presidente americano, Barack Obama.
O veredicto oficial virá da Comissão de Abbottabad, que ouviu o depoimento feito pelo ministro do Interior afegão, Rehman Malik, no dia 7 de março.
Com tanto envolvimento por parte dos militares e dos políticos, muitos paquistaneses acreditam que a verdade permanecerá tão evasiva quanto o próprio Bin Laden. "Você tem de fazer as perguntas certas para obter as respostas certas", disse Qadir. "Eu duvido que este relatório explicará alguma coisa que possa satisfazer ambos os lados."

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