Prisão de ex-aluno que, segundo a Polícia Federal, planejava atentado contra universitários domina conversas nos corredores
Em 2007, Luiza Oliveira ficou revoltada com as críticas e os preconceitos que sentiu no discurso de um ex-colega da universidade contra o sistema de cotas para negros. Aluna da Universidade de Brasília (UnB), pioneira entre as federais na política afirmativa, Luiza iniciou uma discussão virtual com o rapaz, então estudante de Letras-Japonês.
Marcelo Valle Silveira Mello, a partir daí, passou a enviar mensagens agressivas diretamente a ela. Era a primeira vez que Luiza ouviria falar do brasiliense, que, hoje, tomou conta dos noticiários da cidade e também das conversas entre os estudantes da UnB. Marcelo foi preso pela Polícia Federal nesta quinta-feira por suspeita de incitar a violência contra mulheres, negros, homossexuais, nordestinos e judeus, e o abuso sexual de menores.
“Ele ameaçou me estuprar, me xingou. Guardei todas as postagens dele impressas”, recorda a estudante do 7º semestre de Ciências Sociais. Os alunos do curso de Luiza, aliás, seriam alvo de um atentado de Marcelo e um comparsa, Emerson Eduardo Rodrigues. Segundo a PF, eles preparavam atirar contra os alunos em uma casa de festas próxima à universidade. “Ele não era um desconhecido aqui na UnB. Desde 2005 ele foi denunciado”, conta Luiza.
A agressividade nas mensagens publicadas por Marcelo em redes sociais e na internet fez com que um internauta denunciasse o jovem ao Ministério Público por prática de racismo. Rafael Ayan, 28 anos, foi arrolado como testemunha no processo. À época, Rafael estudava Pedagogia e, assim como Luiza, discutiu – e chegou a brigar fisicamente – com Marcelo por causa disso. “Fiquei muito descrente com a Justiça durante esses últimos anos”, afirma.
Segundo Rafael, Marcelo – que foi desligado da UnB em 2006, depois de ele ter concluído apenas um semestre na instituição – fez ameaças a ele, por telefone, até 2009. “A polícia sabia, a universidade também. Mas ninguém fez nada. Lidaram como se fosse um problema pessoal meu e dele. Nunca entenderam que havia mais coisa envolvida”, lamenta. Para o pedagogo, que está concluindo o mestrado na UnB, faltou cuidado com o tema.
“Se tivessem dado a importância que o assunto, um crime de racismo, tinha lá em 2005, seria mais difícil para alguém que comunga dessas ideias agisse coletivamente. Foram sete anos de impunidade”, diz. À época do processo, Marcelo foi absolvido do processo em primeira instância, mas o Ministério Público recorreu. Em 2009, a 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal condenou Marcelo a 1 ano e 6 meses de reclusão em regime aberto.
Novas ameaças
Marcelo estudou por apenas um semestre na UnB. Logo depois, ele abandonou o curso e foi desligado da instituição. Quem estava na universidade naquela época, só se lembra de que ele era uma pessoa calada e dos problemas dele com negros, mulheres, homossexuais, militantes de partidos de esquerda. “Eu não estudava com ele, mas os colegas comentavam que ele era quieto, não se relacionava com as pessoas”, diz Rafael.
Um texto publicado no blog mantido por ele voltou a chamar a atenção dos estudantes da UnB. No post "Estudantes de Ciências Sociais da UnB, estamos a caminho", eles escreveram: "A cada dia que se passa fico mais ansioso, conto as balas, sonho com os gritos de vagabundas e esquerdistas chorando, implorando para viver. Vejo o sangue para tudo quanto é lado, manchando uma camiseta com o logotipo do PSOL/PSTU". Rapidamente, o texto se espalhou entre os universitários, que levaram sua preocupação à reitoria, em janeiro deste ano.
Foto: Alan Sampaio / iG Brasília Estudantes da UnB A reitoria procurou a Polícia Federal. Segundo o reitor, José Geraldo de Sousa Junior, a segurança também foi intensificada em torno dos centros acadêmicos e departamentos mais criticados por Marcelo no blog. Além de Ciências Sociais, as estudantes do curso de Psicologia e Direito também eram alvos das ameaças do rapaz, hoje com 29 anos. “Levamos o assunto a sério e tomamos atitudes que foram importantes para o processo”, conta.
Foto: Alan Sampaio / iG Brasília
Estudantes da UnB
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