A autora do livro “Separar depois dos 40” discute as dificuldades desta fase e dá pistas sobre como reencontrar a felicidade
A jornalista e historiadora Marcia Camargos, autora do livro “Separar depois dos 40: Um Guia para Mulheres que Desejam Recomeçar a Vida” (Edit. Panda Books), não é psicóloga e nem especialista em relacionamentos, mas resolveu contar sobre a experiência de dez mulheres – além da sua própria – ao viverem um término de relacionamento perto da meia-idade. Com reflexões sobre este momento e dicas de como iniciar uma nova vida, ela explica que, mesmo com o chão se abrindo aos seus pés, não vale a pena renunciar a própria felicidade.
Como surgiu a ideia de escrever “Separar depois dos 40”?
Marcia Camargos: Na verdade, eu nunca tinha escrito um livro sobre comportamento e “Separar depois dos 40” foge de toda a minha linha de trabalho, mas resolvi escrevê-lo pelo que eu vivi, pela minha própria experiência. Só que, se eu colocasse somente a minha visão, surgiriam dois problemas: ficaria um livro pobre e eu iria me expor muito. Então, resolvi conversar com várias mulheres desta faixa etária que passaram por experiências parecidas, para conhecer diferentes olhares. No final, acabei com o depoimento de dez mulheres e a verdade é que tínhamos muitos pontos em comum.
Você acha que, hoje em dia, é mais comum as mulheres se separarem neste período da vida, depois dos 40 anos?
Marcia Camargos: Em geral, para todas elas, a separação acontece por uma constatação de um desgaste irrecuperável do casamento num momento em que aquela estrutura familiar já não é mais tão necessária. Porque você segura a barra pelos filhos ainda pequenos, mas, na hora que isso muda, não há mais uma grande necessidade de manutenção da família para a segurança emocional deles. E neste momento, você começa a olhar para si própria e questiona sua felicidade ao lado daquela pessoa. Você não quer mais estar com quem não está interessado em te ouvir, te acompanhar, compartilhar a vida com você. E se você está insatisfeita, chega à conclusão de que precisa mudar isso agora, quando ainda tem energia vital. Ao começar a escrever o livro, comecei a ver que muitas amigas e conhecidas estavam passando por este processo, e isso mostra que as mulheres desta faixa etária ainda estão quebrando paradigmas, fazendo pequenas revoluções.
Quais são as maiores dificuldades que enfrentam estas mulheres?
Marcia Camargos: Acho que é vencer essa barreira do próprio preconceito, desse preconceito social que existe de quererem te colocar num papel específico de mãe, de mulher de meia-idade. A maior dificuldade é vencer isso e se convencer de que você ainda tem uma jovialidade, ainda tem um mundo para conquistar. Vivemos numa sociedade cheia de convenções, então, se a mulher passou dos 40 anos, ela não pode se vestir assim, não deve fazer isso ou aquilo, mas por quê? Quem disse isso? São convenções que estão aí para serem desafiadas. Mas existe também o outro lado da moeda, quando é o marido que toma a iniciativa de terminar o casamento, aí todos ao redor são mais receptivos e mais carinhosos em relação à mulher, que será muito mais reconfortada. Há o lado positivo porque o vilão, entre aspas, será o homem. Mas desta maneira a autoestima feminina é muito mais afetada porque você vai pensar: “se ele não me quis, quem vai me querer?”. Então, neste caso, será preciso catar os cacos e se reconstruir com a ajuda dada pelos amigos e familiares.
Superar uma separação após os 40 anos é muito mais difícil? Por que?
Marcia Camargos: Primeiramente, porque você investiu numa relação durante anos, e acaba adquirindo quase que uma única identidade social. E quando você rompe com isso, tem que descobrir quem você é sozinha. É uma reconstrução. Aos 28 anos, seu casamento ainda não é longo, você está mais jovem, há uma turma disponível. Depois dos 40, todas as amigas estão casadas e, para elas, você pode passar a representar uma ameaça. Porque você é interessante e o marido delas pode começar a olhar para você com outros olhos. Então, o círculo de amizades no qual você apostou durante anos, encolhe. Leva tempo para você se reerguer e muitas não conseguem. Só que isso não quer dizer que você estava errada, mas também não é a garantia de que será feliz, é uma tentativa. É preciso pagar para ver.
Foto: Divulgação Capa do livro “Separar depois dos 40: Um Guia para Mulheres que Desejam Recomeçar a Vida” (Edit. Panda Books) Sobre quais aspectos a mulher deve refletir antes de terminar um relacionamento insatisfatório?
Marcia Camargos: No livro eu discuto muito isso, mas não existe receita. Eu passo algumas dicas num bate-papo informal, até porque não sou especialista. São reflexões que fiz ao longo de três anos e acho que a pessoa precisa avaliar bastante, conversar, fazer uma terapia, até mesmo terapia de casal. Porque mesmo sendo você que queira o término, é muito doloroso e você se sente muito sozinha no início. Um dia me disseram assim em relação ao livro: “É muito fácil se separar, difícil é continuar”. Mas o fácil na verdade é empurrar com a barriga um casamento morto e levar aquilo até de forma desonesta. É uma coisa extremamente dura se separar, principalmente depois dos 40 anos. É preciso de muita força e coragem, então é necessário refletir bastante, descobrir o que se perdeu. As pessoas não devem necessariamente manter um casamento, devem manter a felicidade. Se dentro dela cabe um casamento, ótimo. Senão, é preciso colocar na balança e pesar os momentos ruins e bons para ver se ainda funciona.Quais são os aspectos positivos de se separar de alguém depois de tantos anos de união?
Marcia Camargos: Um dos aspectos positivos é que você vê que ainda é atraente para o sexo oposto, que ainda é um ser desejável. Você redescobre o seu desejo, a sua sexualidade, de uma forma muito rica. E é um refinamento, porque você acumulou uma carga emocional e intelectual que uma menina de vinte e poucos anos não possui. Além disso, você refaz amizades. Acaba sendo um eterno renascer, mas você precisa aprender a viver um dia de cada vez. No casamento isso não acontece, mas agora acontecem coisas novas e você se pega vivendo emoções fortes. Você rejuvenesce e volta para o mercado afetivo, sexual, das amizades, e aprende a se ver como um ser que não depende mais tanto do outro. É sempre um processo, mas você se redescobre, mesmo com altos e baixos. Você passa a viver momentos de grande riqueza, porque o leque se abre e você coloca a cabeça para fora.
E o que você diria para estas mulheres poderem iniciar uma nova vida?
Marcia Camargos: É fazer desde uma mudança também visual, sair do pijama e comprar roupas mais modernas – eu nunca tinha usado sutiã com bojo quando me separei, por exemplo –, e ter esse envolvimento interno, sabendo que é sempre um processo, não é do dia para a noite. Valorizar os amigos e família também é muito importante, e nunca ter vergonha ou medo de pedir ajuda. Não é verdade que você é uma fortaleza que aguenta tudo sozinha. E, mais do que tudo, fazer coisas que nunca fez antes: passar a mão no telefone e ligar para um amigo que não vê faz tempo, por exemplo. Tomar iniciativas. Você vai precisar disso se quiser tentar operar uma mudança de fato, mas sempre tomando o cuidado para não agir como uma doida. Crescemos numa geração em que os homens se aproximavam das mulheres, mas agora você vai precisar sair da zona de conforto. E não é errado.
Foto: Divulgação
Capa do livro “Separar depois dos 40: Um Guia para Mulheres que Desejam Recomeçar a Vida” (Edit. Panda Books)
Marcia Camargos: No livro eu discuto muito isso, mas não existe receita. Eu passo algumas dicas num bate-papo informal, até porque não sou especialista. São reflexões que fiz ao longo de três anos e acho que a pessoa precisa avaliar bastante, conversar, fazer uma terapia, até mesmo terapia de casal. Porque mesmo sendo você que queira o término, é muito doloroso e você se sente muito sozinha no início. Um dia me disseram assim em relação ao livro: “É muito fácil se separar, difícil é continuar”. Mas o fácil na verdade é empurrar com a barriga um casamento morto e levar aquilo até de forma desonesta. É uma coisa extremamente dura se separar, principalmente depois dos 40 anos. É preciso de muita força e coragem, então é necessário refletir bastante, descobrir o que se perdeu. As pessoas não devem necessariamente manter um casamento, devem manter a felicidade. Se dentro dela cabe um casamento, ótimo. Senão, é preciso colocar na balança e pesar os momentos ruins e bons para ver se ainda funciona.Quais são os aspectos positivos de se separar de alguém depois de tantos anos de união?
Marcia Camargos: Um dos aspectos positivos é que você vê que ainda é atraente para o sexo oposto, que ainda é um ser desejável. Você redescobre o seu desejo, a sua sexualidade, de uma forma muito rica. E é um refinamento, porque você acumulou uma carga emocional e intelectual que uma menina de vinte e poucos anos não possui. Além disso, você refaz amizades. Acaba sendo um eterno renascer, mas você precisa aprender a viver um dia de cada vez. No casamento isso não acontece, mas agora acontecem coisas novas e você se pega vivendo emoções fortes. Você rejuvenesce e volta para o mercado afetivo, sexual, das amizades, e aprende a se ver como um ser que não depende mais tanto do outro. É sempre um processo, mas você se redescobre, mesmo com altos e baixos. Você passa a viver momentos de grande riqueza, porque o leque se abre e você coloca a cabeça para fora.
E o que você diria para estas mulheres poderem iniciar uma nova vida?
Marcia Camargos: É fazer desde uma mudança também visual, sair do pijama e comprar roupas mais modernas – eu nunca tinha usado sutiã com bojo quando me separei, por exemplo –, e ter esse envolvimento interno, sabendo que é sempre um processo, não é do dia para a noite. Valorizar os amigos e família também é muito importante, e nunca ter vergonha ou medo de pedir ajuda. Não é verdade que você é uma fortaleza que aguenta tudo sozinha. E, mais do que tudo, fazer coisas que nunca fez antes: passar a mão no telefone e ligar para um amigo que não vê faz tempo, por exemplo. Tomar iniciativas. Você vai precisar disso se quiser tentar operar uma mudança de fato, mas sempre tomando o cuidado para não agir como uma doida. Crescemos numa geração em que os homens se aproximavam das mulheres, mas agora você vai precisar sair da zona de conforto. E não é errado.
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