sábado, 3 de março de 2012

Você daria nove tiros no computador da sua filha?

Tommy Jordan ficou famoso após punir a filha adolescente por uma malcriação publicada no Facebook. Mas este tipo de atitude funciona?
 
Tommy Jordan, o pai que atirou no laptop da filha, em foto tirada por Hannah
Como você reagiria ao descobrir que a sua filha adolescente está reclamando publicamente das tarefas domésticas que deve cumprir, sem poupar palavrões para descrever a educação que os pais lhe dão? O norte-americano Tommy Jordan não teve dúvidas: depois de ler uma mensagem malcriada da filha Hannah, de 15 anos, no Facebook, não só atirou no laptop da menina, como também gravou um vídeo da punição e publicou-o no perfil de Hannah. (Veja o vídeo no final da página).
A atitude, radical para alguns e justa para outros, rendeu a Tommy seus 15 minutos de fama inesperados, além de uma visita da polícia e de uma assistente social do Serviço de Proteção Infantil dos EUA, que queriam averiguar se estava realmente tudo bem entre pai e filha.

Mas, mais do que isso, os nove tiros do norte-americano trouxeram à tona uma questão que muitos pais ao redor do mundo podem estar se fazendo: tomar uma atitude como a de Jordan pode ajudar a resolver o problema com Hannah? (Vote na enquete ao final da página).

Para o psiquiatra Gustavo Teixeira, especialista em infância e adolescência e idealizador do site Comportamento Infantil, uma pessoa que dá tiros em um laptop, grava o momento e coloca-o na internet não serve de exemplo para ninguém – nem para a filha. Para ele, nada justifica Jordan ter exposto para todo o mundo um problema que deveria ser resolvido dentro de casa. “Por mais imaturos que sejam os filhos, cabe aos pais darem respostas mais maduras”.
Privado x público
  
Tommy no vídeo: o pai lê o post da filha e depois atira no computador
“A filha tanto poderia resolver sair de casa depois do ocorrido quanto poderia valorizar mais o papel dos pais na própria vida e assumir as responsabilidades que lhe são dadas”, acredita.

Vera Zimmermann acredita que a situação poderia ter sido resolvida de forma mais pontual. “Não é uma coisa tão séria para tomar esse tipo de proporção. Adolescente é assim mesmo: vive falando que é um pobre coitado e explorado enquanto ganha mesada e outras coisas”, comenta. Na prática, portanto, o ideal é não potencializar a situação. E resolvê-la no plano privado.

Adolescentes não têm o senso de responsabilidade que os adultos gostariam que eles tivessem. Biologicamente, eles ainda não estão com a formação neurológica completa. Por isso é fácil ver um adolescente de 15 anos esperneando porque o irmão mais velho tomou todo o suco de laranja que estava na geladeira: ele ainda não sabe muito bem lidar com frustrações.
Quantcast

Para trabalhar com isso, a comunicação entre pai e filho é essencial. Lembrar-se dos limites estabelecidos e deixar sempre claro quais são as regras do jogo são outras atitudes que devem fazer parte do dia a dia com um adolescente. E, sobretudo, resolver os problemas no ambiente familiar. Levá-los à esfera pública, segundo Vera, só faz acirrar o conflito e pode até criar uma situação traumática, que nunca será esquecida.

Se a relação entre pais e filho está desgastada a ponto do adulto preferir atirar em um computador, Caio Feijó sugere a presença de uma terceira pessoa para resgatar a relação. Pode ser um psicólogo, um avô ou outro familiar, mas alguém que seja respeitado por ambos. A proposta é que essa terceira pessoa ajude-os a conviverem melhor, dando sempre atenção um ao outro – antes que um vídeo sobre problemas da família vire hit na web.
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A ação do pai, embora planejada, não mostra responsabilidade; mostra descontrole. Para a psicanalista Vera Zimmermann, coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp, é possível que ele estivesse mais preocupado com a própria imagem do que com o futuro da relação com a filha.
Ouvir as queixas dos adolescentes e se fazer a clássica pergunta “mas por quê? Eu faço tudo por ele!” é tão comum quanto ver adolescentes reclamando dos pais. “É natural e saudável que os adolescentes reclamem. Eles irão trocar experiências com os amigos e, desta forma, irão elaborando as relações com os familiares”, diz Vera.
Mas quando o problema passa à esfera virtual e pública, o que seria uma pequena reclamação pode tomar proporções grandiosas. E desnecessárias. “Assim como o ciberbullying é muito pior do que o bullying em si, o mesmo acontece neste caso: a situação sai do privado e agride ainda mais”.
Reeducação
Para o psicólogo Caio Feijó, autor do livro “Pais Competentes, Filhos Brilhantes – Os Maiores Erros dos Pais na Educação dos Filhos e os Sete Princípios Fundamentais para Prevenir essas Falhas” (Novo Século Editora), radicalismos como o de Jordan tanto podem tanto trazer uma solução como uma tragédia.

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