domingo, 25 de novembro de 2012

A síndrome da boazinha


Livro discute compulsão por agradar e porque as mulheres são as vítimas mais freqüentes dessa forma de autosabotagem

Thinkstock / Getty Images
A mania de agradar esconde muitas vezes insegurança e medos
Falta tempo na sua vida? Volta e meia você se pega em meio a situações desagradáveis, tarefas chatas e favores que não queria fazer? Você pode estar sofrendo da Síndrome da Boazinha. O termo foi cunhado pela PhD em psicologia, Harriet B. Braiker, em livro homônimo e se refere à compulsão por agradar.
Mas o que pode existir de errado em querer agradar?
"Como agradadora compulsiva", explica a doutora Braiker, "seus botões de sintonia emocional estão embaralhados na frequência do que você acredita que os outros querem ou desejam de você". A consequência lógica de estar sempre com foco no desejo do outro é que você acaba não ouvindo sua própria voz interior "que pode estar tentando protegê-la de se desgastar demais ou de agir contra seus próprios interesses", diz a psicóloga, no livro. 


A compulsão de agradar afeta a forma como você pensa, sente e age no mundo. Em função disso, a autora do livro 'Síndrome da Boazinha'  traça três perfis diferentes de 'agradadoras' motivadas por: pensamentos distorcidos, opressivos e derrotistas, que nascem da ideia de que todos precisam gostar de você; comportamentos compulsivos que fazem com que você sempre busque satisfazer as necessidades dos outros antes das suas, na ânsia de obter a aprovação de todos; e, finalmente, a tentativa de fugir de sentimentos negativos ou assustadores e evitar a ansiedade, muitas vezes no limite do suportável, que a menor ameaça de conflito gera em você. 
Para a psicóloga Margareth dos Reis, um dos motivos da compulsão por agradar é o medo da avaliação externa. “A pessoa busca reconhecimento e aprovação, e sofre com o receio de ser responsável pelo que o outro pensa”, afirma a psicóloga.
É como se ela achasse que fazendo tudo para agradar o outro, conseguiria evitar reações negativas. “É normal ter desejo de ser aprovada, assim como ter medo de ser rejeitada. Mas viver em função disso não é bom.”
Em “A Síndrome da Boazinha”, Harriet Braiker sugere um programa de 21 dias para se livrar da necessidade de aprovação, que inclui exercícios e estratégias para .aprender a lidar com convites, pedidos e exigências.
A primeira tarefa é lidar com a capacidade de dizer 'não'.
Uma das características mais marcantes dos agradadores compulsivos é a dificuldade em dizer "não" a pequenos pedidos, tarefas e favores, o que tende a levar a uma sobrecarga de atividades. O medo de desagradar ou simplesmente o fato de não ter aprendido a ser assertivo quanto aos próprios desejos fazem com que a pessoa aceite situações nas quais não se sente confortável. É sintoma de um sentimento de insegurança diante da vida e até de falta de um repertório para se posicionar”, afirma a psicóloga. Geralmente, a pessoa não está bem sintonizada com suas próprias necessidades. “Ela só sabe dizer ‘não’ para si mesma.
Para se livrar da compulsão, a especialista sugere pequenos passos, como escolher determinada situação e expor um ponto de vista contrário ao de um interlocutor qualquer, mesmo que isso gere uma situação emocionalmente desconfortável. “Nem sempre a gente recebe aprovação o tempo todo e de todo mundo, faz parte da vida. O que pode nos confortar é a segurança de estarmos fazendo a melhor escolha possível em cada momento”, afirma Margareth.
Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, a mania de agradar é um problema de nosso tempo. “A gente vive um contrato social em que todo mundo tem que fingir que ama todo mundo, e que todo mundo acha todo mundo legal”, afirma. “Na vida em sociedade tem-se que hipotecar um monte de coisas, inclusive essa negatividade que faz parte do ser humano.”
Embora admita que o "não", ou a atitude de não sentir-se compelido a agradar, possa causar algum prejuízo prático, ele acha que é uma postura que vale a pena no longo prazo. “Suspeito que o ‘não’ pode tornar a pessoa mais desejada, em vários sentidos”.
Dizer “sim” o tempo inteiro é uma espécie de “prisão a céu aberto” para o filósofo. “Uma mulher que faz isso se dá menos valor. O desespero e a ilusão de que vai conseguir ser feliz é tão grande que muitas mulher aceitam esse comportamento”.
Ele critica também essa ilusão de felicidade a partir da ausência de conflito.
“As pessoas fazem um esforço neurótico para evitar os pequenos desgostos e frustrações, mas não tem saída. O universo é um grande 'não' na sua cara, é o contrário da autoajuda.” 

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