Criada na Arábia Saudita, Dana Bakdounis, de 21 anos, justificou o não uso da vestimenta afirmando ter um desejo de 'sentir a beleza do mundo, o sol e o ar'
Páginas e discussões no Facebook em torno da revolta na Síria têm se multiplicado enquanto os embates entre rebeldes e o regime, que duram quase dois anos e mataram milhares, continuam.
Mas a jovem Dana Bakdounis, de 21 anos, aproveitou o momento para acirrar o debate sobre o direito das mulheres ao postar uma foto sem véu, justificando um desejo por "sentir a beleza do mundo, o sol e o ar".
Criada na Arábia Saudita, um dos países mas conservadores do mundo árabe, Dana decidiu retirar pela primeira vez o véu usado durante toda a vida em agosto do ano passado.
Na época, ela já acompanhava e interagia com a página "A Revolução das Mulheres no Mundo Árabe" no Facebook. Com mais de 70 mil membros, o site acabou se tornando um fórum de debate sobre direitos das mulheres na região, com participações ativas de mulheres e homens, árabes e não árabes.
Mas sua contribuição que causou mais furor foi a fotografia postada em 21 de outubro. "O véu não era para mim, mas eu tinha de usá-lo por causa da minha família e da sociedade. Não entendia por que meu cabelo estava coberto. Queria sentir a beleza do mundo, o sol e o ar", diz.
Polêmica
Olhando diretamente para a lente da câmera, com o cabelo cortado muito curto à mostra, Dana segura um documento oficial com sua foto usando véu, e abaixo um bilhete que diz: "A primeira coisa que tirei foi meu véu. Estou ao lado da revolução das mulheres no mundo árabe porque, durante 20 anos, não me permitiram sentir o vento no meu cabelo e no meu corpo."
A imagem acabou causando muita polêmica, com mais de 1,6 mil likes, quase 600 compartilhamentos e mais de 250 comentários. Entre as reações houve muitas manifestações de apoio e pedidos de amizade. Muitas mulheres copiaram a ideia, postando fotos sem véu, mas Dana também enfrentou rejeição.
Vários de seus contatos na rede social decidiram encerrar a amizade. As relações com a mãe, que desaprovou o protesto e chegou a receber ameaças de morte contra a filha, ficaram estremecidas. "Tudo mudou para mim desde que tirei meu véu", conta a jovem.
Controvérsia
Algumas das mensagens recebidas de outras mulheres apoiavam a decisão de Dana, embora outras tenham dito que o uso do véu é uma "bênção" e os alvos de ativismo deveriam ser as empresas e órgãos que discriminam as mulheres que usam o adereço.
No Facebook, os administradores da página sobre os direitos das mulheres acusaram a rede social de terem removido do ar a foto de Dana em 25 de outubro, quatro dias depois de ter sido postada.
Além disso, a jovem foi bloqueada, e os administradores do site também tiveram suas contas bloqueadas. Eles dizem que a página como um todo ficou bloqueada entre 29 de outubro e 5 de novembro e as cópias da foto que foram postadas por outras pessoas também foram removidas.
Questionada, a direção do Facebook diz que houve um equívoco ao aplicar algumas de suas regras. "As imagens da mulher não violaram nossos termos. Ao contrário, um erro foi cometido no processo de resposta a um alerta de conteúdo controverso", diz um membro do Departamento de Relações Públicas da empresa, acrescentando que "o que tornou essa situação pior foi o fato de termos cometido múltiplos erros durante alguns dias, e que levamos tempo para ratificar cada um desses erros".
Mudanças
Com o protesto, Dana tornou-se uma das ativistas pró-direitos das mulheres mais conhecidas da Síria. Ela diz que pretende agora tirar uma foto de dentro do país. "Quero fazer outra fotografia, dessa vez na Síria, só para mostrar que posso lutar contra a injustiça e o poder. Com a minha câmera, posso ajudar as pessoas e apoiar o Exército Livre da Síria", diz.
Os rebeldes lutam contra o regime do presidente Bashar al-Assad e exigem sua renúncia. Os embates levaram o país a uma guerra civil e, segundo a ONU, dezenas de milhares já morreram.
A posição de Dana é crucial, já que há cada vez mais relatos da presença de grupos islâmicos fundamentalistas lutando ao lado dos rebeldes oposicionistas, o que poderia indicar que uma vitória política da coalizão rebelde não mudaria necessariamente os costumes rígidos do país.
"(Uma Síria) repleta de direitos, com justiça entre homens e mulheres, quero justiça e porque já tenho minha liberdade, e eu não estou com medo de nada agora, agora posso fazer o que eu acreditar que é a coisa certa a fazer."
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