domingo, 30 de junho de 2013

Brasil faz da Espanha um touro perdido e restabelece ordem mundial

No teste para a Copa do Mundo, anfitriões massacram os atuais campeões de forma inapelável no Maracanã

"Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial".
No futebol, Caetano, não está mais. A Espanha dominou o esporte mais popular do planeta por cinco anos, desde que conquistou a Eurocopa em 2008, passando pela Copa de 2010 e nova conquista continental no ano passado. Mas neste domingo, no Maracanã, a seleção brasileira - única grande força que a Fúria não havia enfrentado nos últimos anos - fez valer a força do país mais vencedor da história contra o caçula dos campeões.
O Brasil de Luiz Felipe Scolari não venceu a Espanha como uma surpresa, a exemplo do que fizeram os últimos algozes Estados Unidos, em 2009, e Suíça, em 2010. Foi uma vitória entre times do mesmo nível, mas em que um dos rivais se impôs com autoridade. Não houve um momento de ameaça ao triunfo brasileiro na Copa das Confederações . Na "praça" Maracanã, o time do tiki taka foi transformado em touro e deixou a arena em farrapos.
Andre Penner/AP
Fred comemora segundo gol na final e ganha até beijo de Neymar


Se teve sorte, também teve brilhantismo. Especialmente no segundo gol, aos 44 minutos da etapa inicial. Líderes da seleção no aspecto técnico, os jovens Neymar e Oscar fizeram uma jogada de antologia, quando o ex-camisa 10 soube segurar a bola cercado por quatro marcadores enquanto o novo camisa 10 voltava da posição de impedimento para receber e acertar uma bomba no ângulo. No segundo tempo, Fred marcou novamente e "fechou o caixão", iniciando mais de 40 minutos de festa ainda com a bola rolando.A sorte foi fator decisivo para a construção do placar, mas sempre aliada à competência. No primeiro gol, que Fred marcou deitado, graças a um toque sutil, na bola salva pelo zagueiro David Luiz quase em cima da linha aos 40 minutos do primeiro tempo, com um toque ainda mais genial, no pênalti perdido por um incrédulo Sergio Ramos quando o placar já apontava 3 a 0.

Na análise fria, é preciso relativizar. O Brasil entrou em campo querendo mostrar aos atuais campeões do mundo quem manda no Maracanã. Jogou a Copa das Confederações dando seu máximo, como se fosse realmente um final de Copa do Mundo. Espanhóis dirão que estavam em final de temporada, que vinham de um desgastante duelo de 120 minutos contra a Itália na semifinal. E, especialmente, que é em 2014 que vale.
Todos argumentos válidos. Mas o tamanho da vitória, com um domínio indiscutível, confirma o recado que Luiz Felipe Scolari queria dar ao mundo. O Brasil renasceu. E, há um ano de sediar a Copa do Mundo, deve no mínimo ser considerado um dos principais times a ser batido na competição.

Primeiro tempo - A Fúria não tem tempo de anotar a placa

Natacha Pisarenko/AP
Caído, Fred abre o placar para o Brasil na final
Empurrado pela emoção do hino nacional cantado à capela por mais de 70 mil pessoas, o time brasileiro começou a cem por hora, a milhão. Se os 90 minutos prometiam ser de inferno para os espanhóis, os 90 segundos iniciais foram uma mostra disso. Logo no primeiro lance de ataque, Hulk recebeu a bola na direita e cruzou. Neymar tentou o domínio e acabou ajeitando para Fred, que, caído, tocou por cima de Casillas para já colocar o Brasil na frente.
O gol foi a deixa para que os gritos padrão de muito orgulho e muito amor das arquibancadas dessem lugar ao sentimento de que "o campeão tinha voltado". A Espanha tentava manter a frieza e seu jogo de toque de bola, mas sofria com a pressão e o ímpeto ofensivo dos anfitriões. Aos 7, Arbeloa falhou na defesa, Fred tocou de calcanhar e, por muito pouco, Oscar desperdiçou a chance de ampliar.
Aos 11 pintaram os primeiros gritos de "olé, olé". Aos 12, Paulinho tentou encobrir Casillas e o melhor goleiro do mundo nos últimos cinco anos precisou se esforçar para evitar um frango. Aos 13, a Espanha trocou passes e a torcida vaiou. Aos 14, Hulk deu um carrinho na defesa e os brasileiros vibraram. Aos 15, a estatística da Fifa apontava os números da posse de bola: Brasil 56%, Espanha 44%. Os campeões do mundo eram superados naquilo que têm de melhor. Uma bola afastada era tão importante quanto um gol feito. O jogo fazia jus à expectativa que criou.
Somente aos 19 minutos veio o primeiro susto espanhol, quando Iniesta carregou a bola, chutou de muito longe e Júlio César espalmou para escanteio. Xavi cobrou e Fernando Torres conseguiu cabecear, mas por cima do gol. Pouco depois, em cobrança de falta ainda mais distante, Sergio Ramos tentou direto, mas chutou para fora. Era a Fúria negando o estilo de jogo frio e calculista que impôs a rivais nos últimos cinco anos.
Thiago Silva levanta o troféu de campeão da Copa das Confederações. Foto: Victor R. Caivano/AP
1/42

Por duas vezes, o Brasil quase chegou cara a cara com Casillas. Neymar e Oscar só foram parados com faltas. O juiz holandês Bjorn Kuipers mostrou cartões amarelos a Aberloa e Sergio Ramos. Na terceira, não havia marcador para fazer a falta quando Fred recebeu passe açucarado de Neymar, mas aí foi o brasileiro quem errou ao chutar em cima do goleiro.
Aos 40, David Luiz fez o segundo gol brasileiro. O placar não sofreu alteração, mas a bola que o zagueiro tirou quase em cima da linha depois do contra-ataque iniciado com uma bola perdida por Hulk no ataque foi essencial. Graças a ele o Brasil mantinha até o intervalo a merecida vantagem construída desde o início.
Mantinha, no pretérito imperfeito. Porque tinha mais. Porque no presente perfeito das 19h44, Neymar ampliou essa vantagem em uma molecagem genial com Oscar. O ex-santista, 21 anos, recebeu a bola na esquerda, quase dentro da área e tocou para o ex-colorado, 21 anos, no círculo central. Ambos tiveram calma para sair da situação de impedimento, Oscar segurando a bola, Neymar dando passos para trás. Só aí veio a assistência, perfeita, e o chute, perfeito. No ângulo do melhor goleiro do mundo, 2 a 0 Brasil ao fim dos 45 minutos iniciais.

Segundo tempo - "O campeão voltou"

Quando o jogo chegou ao intervalo, a Espanha tinha recuperado, ao menos, a vantagem no seu critério-obsessão, a posse de bola, com vantagem de 59% a 41%. Mas o técnico Vicente del Bosque sabia que isso não significava nada e tentou mudar o time trocando o marcador de Neymar. Saiu Arbeloa, entrou Azpilicueta. E não adiantou nada.
Logo aos dois minutos, o Brasil ampliou. Hulk passou do meio, Neymar fez o corta-luz e Fred dominou na esquerda, no setor do jogador que havia acabado de entrar. Se no começo do primeiro tempo marcou deitado, dessa vez veio de pé, com autoridade, e chutou forte no canto inferior esquerdo de Casillas, sem chance de defesa.
William Volcov/Brazil Photo Press
Time do Brasil que levou o título: Paulinho, David Luiz, Juilio Cesar, Fred e Thiago Silva; Neymar, Daniel Alves, Oscar, Marcelo, Hulk e Luiz Gustavo (30/6)


O Maracanã presenciava a expectativa de um massacre, em êxtase. Del Bosque mexeu de novo, colocando Jesús Navas no lugar de Juan Mata. E, dessa vez, deu resultado. Em termos. No seu primeiro lance, o jogador do Sevilla sofreu pênalti cometido por Marcelo. Uma chance para a Espanha de voltar para o jogo, mas que Sergio Ramos desperdiçou ao chutar para fora. Parecia que os gols dos campeões do mundo em um dos maiores templos do futebol haviam sido gastos todos na goleada por 10 a 0 sobre o Taiti na fase de grupos.
O que restava de tempo de jogo serviu para a torcida fazer festa no estádio em que, 53 anos atrás, 200 mil pessoas choraram ao final do Maracanazzo. A Espanha ouviu, entre outros, "o campeão voltou", "quer jogar, quer jogar, o Brasil vai te ensinar", "Uh, é chocolate".
Ainda houve mais chances, que os atacantes brasileiros desperdiçara, hora cara a cara com Casillas, hora por perder o fôlego antes de chegar ao final do campo, já que com o placar construído não era mais necessário correr como atrás de um prato de comida. Felipão aproveitou para colocar em campo Jadson, Jô e Hernanes, tirando Hulk, Fred e Paulinho. O camisa 9, artilheiro da competição ao lado de Fernando Torres, saiu ovacionado.
Brasil e Espanha, enfim, saíram de campo mais próximos de seus tamanhos na história do futebol. O pentacampeão encontrou um time ao longo da competição e conquistou o tricampeonato consecutivo da Copa das Confederações, o quarto na história. Os campeões de 2010 desceram alguns degraus do pedestal em que subiram nos últimos tempos, e agora sabem que também terão trabalho pela frente se quiserem chegar ao bi no ano que vem.
FICHA TÉCNICA - BRASIL 3 X 0 ESPANHA
Local : Estádio do Marcacanã, no Rio de Janeiro (RJ) 
Data: 30 de junho de 2013, domingo 
Horário : 19 horas (de Brasília) 
Árbitro: Bjorn Kuipers (HOL) 
Assistentes : Sander Roekel e Erwin Zenstra (ambos da Holanda) 
Público: 73.531 pagantes 
Cartões amarelos:   Arbeloa e Sergio Ramos (Espanha) 
Cartão vermelho: Piqué (Espanha)

Gols : 
BRASIL:  Fred, aos 2 min e Neymar aos 44min do primeiro tempo; e Fred, aos 2min do segundo tempo
ESPANHA:

BRASIL: Julio Cesar; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho (Hernanes) e Oscar; Neymar, Hulk (Jadson) e Fred (Jô) 
Técnico: Luiz Felipe Scolari

ESPANHA: Casillas; Arbeloa (Azpilicueta), Sergio Ramos, Piqué e Jordi Alba; Busquets, Xavi e Iniesta; Pedro, Juan Mata (Jesús Navas) e Fernando Torres (David Villa) 
Técnico: Vicente del Bosque

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário