Casimiro
José Marques de Abreu nasceu na Freguesia da Sacra Família da Vila de Barra de
São João, na então província do Rio de Janeiro, no dia 4 de janeiro de 1839,
filho de José Joaquim Marques de Abreu e de D. Luiza Joaquina das Neves.
Os
primeiros tempos de sua vida, a sua “infância querida”, passou-os no torrão
natal. Partiu em seguida para Nova Friburgo, onde cursou durante alguns anos o
Instituto Freese. Foi aí que, uma tarde, à hora em que na sua casa paterna
deviam estar merendando, lembrou-se de seu lar, viu nele a mãe querida, e
então, assaltado pela saudade, chorou e compôs sua primeira poesia.
Infelizmente, em momento de desânimo e desgosto rasgou-a, embora mais tarde
viesse arrepender-se do que fizera, e sentisse tanto haver destruído aquela
produção que, para recuperá-la, daria todo o volume de “As Primaveras”, o livro
que o tornaria imortal em nossa literatura.
Não terminados completamente seus estudos de humanidades, foi para o Rio
de Janeiro trabalhar no escritório do pai, que à fina força, queria
encaminhá-lo na carreira comercial. Casimiro submeteu-se, mas não se resignou,
e essa contrariedade foi grande amargura na vida do poeta.
Depois de um ano de permanência no Rio, o pai manda-o para Portugal. No
exílio, atormenta-o a nostalgia do torrão natal e da família, sobretudo da irmã
e da mãe, a quem Casimiro amava extremosamente, de quem fala mais de uma vez
nos seus escritos e para quem fez aquela poesia tão transbordante de saudade e
ternura filial, de uma forma poética tão adequada, que dificilmente se
encontrará outra que iguale na força do seu sentimento e na formosura da
expressão.
Costuma-se dizer que no exílio lhe apareceram os primeiros sintomas da
tísica pulmonar, que havia de matá-lo. Isto constitui, porém, um ponto por
elucidar na biografia de Casimiro, pois em cartas autografadas do poeta,
existentes no arquivo da Academia Brasileira de Letras, parecia que ele gozava
de boa saúde. Ao amigo, destinatário da referida correspondência e para o qual
abria sua alma de par em par, conta que voltou de Portugal, e nem então e nem
depois alude a enfermidade alguma, a não ser a varíola de que ficara marcado,
mas de que já se restabelecera; e pelo contrário, certa ocasião chega a
lastimar-se da monotonia da boa saúde, em lugar do qual queria a tísica com
todas as suas peripécias para ir definhando liricamente até acabar de morte
romântica sob o céu azul da Itália (desejo muito do gosto da época, e que nosso
poeta exprime, talvez, com algum humorismo). Ainda em carta de 11 de janeiro de
1860, isto é, nove meses antes de sua morte, escrevia:“eu continuo sempre bom
do físico e sempre enfermo do moral”.
Há, contudo, uma
carta de 17 de maio, sem indicação do lugar nem ano, mas que supõe-se ser de
1859, na qual se lêem as seguintes palavras: “Vivo muito triste e padeço mesmo
um pouco do físico; a minha saúde vai-se estragando e eu desconfio que o canastro
não dura muito tempo. Adeus; estima-me sempre e lamenta”.
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