quinta-feira, 1 de março de 2012

Traição pode salvar um relacionamento?

Ajudou a salvar meu casamento e a renovar os laços de cumplicidade”, diz mulher que perdoou o marido
Dor, mágoa, raiva, amargura. Os sentimentos em torno de uma traição são quase sempre negativos. Mas no caso da escritora e terapeuta Anna Sharp, a infidelidade do marido revelou um inesperado desfecho. “Ajudou a salvar meu casamento e a renovar os laços de cumplicidade”, diz ela sobre um passado que prefere não detalhar.
 
Nem sempre a traição leva ao fim de uma história de amor
Anna, que é autora do livro “Resgate de um Casamento” (Editora Rocco), hoje consegue perceber o lado bom da tempestade que quase afundou seu relacionamento. “Foi um momento fantástico para rever tudo”, explica a escritora, casada há 50 anos. “Em uma relação profunda de muitos anos, é preciso saber atravessar todos os tipos de crises para alcançar o verdadeiro amor, que superficialmente é confundido com paixão, apego, desejo e medo de ficar só”, acredita.
 
Ana Sharp, hoje com 71 anos, superou a crise da traição que viveu no passado
Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que muitas vezes a fantasia de ter uma relação extraconjugal se torna muito menos interessante na prática. “Aquele que trai percebe o risco de perder a pessoa que ama por uma simples aventura”, diz. Em alguns casos, e não necessariamente na maioria deles, o infiel passa a valorizar ainda mais o seu parceiro.
Apesar do julgamento a respeito de uma traição ser puramente individual, não é difícil diferenciar um deslize casual de um caso arquitetado. Assim, o esforço em extrair algo positivo de uma traição se torna mais complicado quando a relação extraconjugal é recorrente. “Na escapada, vários fatores podem prevalecer: a necessidade de afirmação, a vaidade, o impulso sexual”, pondera Anna. Isso não significa que uma “fugidinha” seja algo louvável, mas para ela, a maior perda se dá nos casos constantes. “A cumplicidade, a amizade e o respeito são rompidos pelo outro”.
A traição machuca o ego e, em momentos de crise, racionalizar é difícil. “Mas quem é traído também precisa refletir e se perguntar: se eu tivesse oportunidade, não faria também?”, questiona Anna. “Além disso, não tem que perdoar nada, mas compreender, se colocar no lugar do outro. Esqueça essa coisa de perdão. Quem perdoa fica numa posição de superioridade e acaba humilhando o outro”, aconselha.
A traição provoca a quebra da confiança e da expectativa de ser único e especial. É muito difícil reconquistar. Mas acontece.
De acordo com Mirian, apesar da maior parte dos casos de infidelidade acabar resultando em separação, uma reconciliação é possível. “A traição provoca a quebra da confiança e da expectativa de ser único e especial. É muito difícil reconquistar. Mas acontece”, revela a antropóloga. “A maior dificuldade é o parceiro traído voltar a confiar naquele que traiu. Se isso não existir, é muito difícil que o casamento sobreviva”.
Uma dado que pode ajudar a reestabelecer essa confiança é o fato da traição não significar necessariamente falta de amor do parceiro – se é que isso serve de consolo. O sociólogo americano Eric Anderson causou polêmica nos Estados Unidos e na Inglaterra ao apresentar, no começo deste ano, um estudo que traz uma revelação surpreendente: 78% homens pesquisados que traíram continuaram amando suas mulheres. Ele polemizou ainda mais ao afirmar para o The Huffington Post que a monogamia representa um "cárcere sexual imposto pela sociedade que pode levar a uma vida de raiva e desprezo".
O estudo, que está no livro “The Monogamy Gap: Men, Love, and the Reality of Cheating”, foi criticado por outros especialistas em relacionamentos por causa das características dos indivíduos estudados: 120 universitários ingleses na casa dos 20 anos. Segundo eles, esse tipo de pensamento, que separa sexo e amor, é mais comum entre os jovens.
De qualquer forma, a pesquisa supostamente tendenciosa de Eric joga luz sobre a ideia de que a traição não sinaliza necessariamente o fim de um relacionamento. Será? 

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