Evie, que desistiu de ser travesti, cuidou do presidente americano quando sua família vivia em Jacarta no início dos anos 70
Houve um tempo, muitos anos atrás, em que Evie tomava conta de “Barry” Obama, o garoto que mais tarde cresceria para se tornar o homem mais poderoso do mundo. Hoje, a ex-babá transexual desistiu de seus vestidos floridos e suas roupas bordadas, e agora vive com medo na Indonésia.
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Evie, que nasceu homem, mas acredita ser uma mulher, aguentou uma vida de insultos e espancamentos por causa de sua identidade. Além da violência dentro de casa, ela contou como soldados uma vez rasparam seu cabelo comprido e deixaram marcas de cigarros em suas mãos e braços.
“ Eu nunca o deixei me ver usando roupas de mulher. Algumas vezes, no entanto, ele me viu testando o batom de sua mãe. Ele ria muito com isso.
Eu nunca o deixei me ver usando roupas de mulher. Algumas vezes, no entanto, ele me viu testando o batom de sua mãe. Ele ria muito com isso.
A mudança veio quando ela achou o corpo de uma amiga transexual boiando em um canal de esgoto há duas décadas. Ela juntou todas suas roupas femininas e as colocou em duas grandes caixas. Batom ainda pela metade, pó compacto, sombra e lápis de olho – ela fez questão de dar tudo embora.
“Eu sabia, no fundo do meu coração, que eu era uma mulher, mas não queria morrer daquela maneira”, disse Evie, 66 anos, com os lábios trêmulos ao trazer à tona memórias. “Então eu simplesmente decidi aceitar isso. E tenho vivido como um homem desde então”.
A postura da Indonésia em relação aos transexuais é complexa. Ninguém sabe quantos deles vivem no arquipélago cuja nação contém 240 milhões de pessoas. Ativistas estimam que hoje sejam 7 milhões em todo o país. Pelo fato de a Indonésia ser casa de mais muçulmanos do que qualquer outro lugar no mundo, a difusão de homens que vivem como mulheres e vice-versa às vezes surpreende. Eles geralmente se apresentam como cantores ou em salões e fazem parte do famoso talk show de celebridades apresentado por Dorce Gamalama.
Foto: AP Evie, cujo nome na cédula de identidade é Turdi, trabalhou com babá de Barack Obama quando ele tinha 8 anos
Foto: AP
Evie, cujo nome na cédula de identidade é Turdi, trabalhou com babá de Barack Obama quando ele tinha 8 anos
O desdém social, no entanto, ainda é forte na Indonésia. Quando os transexuais aparecem em comédias na TV, eles invariavelmente são motivo de piada. Nos últimos anos, eles assumiram uma postura muito mais discreta, depois de uma série de ataques de muçulmanos linha dura. Além disso, o mais alto organismo islâmico do país decretou que eles devem viver como nasceram porque cada gênero tem obrigações a cumprir, como a reprodução.
Muitos dos trangêneros se voltam à prostituição porque sentem dificuldades em conseguir um trabalho e também porque querem viver de acordo com o que acreditam ser seu verdadeiro gênero. Ao recorrer à prostituição, eles estão expostos a riscos de contrair Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Alguns deles, como Evie, decidem que é melhor esconder seus sentimentos e desejos. Outros, no entanto, pressionam por mudanças. No mês passado, um travesti indonésio de 50 anos se candidatou para ser o próximo líder da Comissão Nacional de Direitos Humanos. Ele costumava desfilar em um veiculo de luxo com paparazzi tirando fotos.
Ameaça
A ameaça de violência é real: A Comissão Nacional de Direitos Humanos da Indonésia recebe cerca de 1 mil denúncias de abuso por ano, desde assassinato e estupro até impedimento de atividades em grupo. Em todo o mundo, ao menos uma pessoa é morta por dia, de acordo com o Trans Murder Monitoring Project, que coleta informações de homicídio entre transexuais.
Foto: AP Travesti indonésio Yulianus Retoblaut dá entrevista depois de se candidatar a membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos Evie disse ter escolhido seu atual nome porque soava doce. Mas, contou, ela o tirou da cédula de identidade nacional. No documento, seu nome é Turdi e seu sexo, masculino.
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Travesti indonésio Yulianus Retoblaut dá entrevista depois de se candidatar a membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos
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