Clínicas de reprodução assistida recebem seis casais soropositivos por mês
Em 10 anos, 47.705 mulheres que vivem com HIV engravidaram no País, informa o Ministério da Saúde. Uma parte delas, para realizar o sonho de ser mãe, precisou da união de duas técnicas que “nasceram” praticamente juntas e agora, quase vinte anos depois, estão evoluídas e podem se encontrar nos consultórios clínicos.
Foto: Getty Images
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Para pessoas com aids, fertilização in vitro é
a possibilidade de gravidez. A camisinha não deve ser descartada, dizem
os médicos
Uma é a fertilização in vitro e a outra o coquetel antiaids. A
primeira garantiu aos casais com dificuldade na fertilidade a
realização do sonho de ter um filho. A segunda permitiu que o vírus HIV
deixasse de ser uma “sentença de morte” e ampliou a sobrevivência dos
infectados. “Hoje, sabemos que boa parte das pessoas que vive com HIV
vai morrer com o vírus e não por causa dele”, afirma Mariângela Simão,
coordenadora do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.
A maior sobrevida dos pacientes de aids fez com que os planos da
maternidade ou paternidade cruzassem o caminho dos soropositivos. A
reprodução assistida despontou como solução para quem pode pagar por até
R$ 50 mil pelo tratamento. Em média, são quatro casais que todo mês
procuram este tipo de serviço. .
“Existe a possibilidade de realizar a inseminação artificial com
risco inferior a 1% de contágio do HIV”, explica Ligia Previato Araújo,
embriologista do Centro de Reprodução Humana de São José do Rio Preto,
entidade que recebe em média quatro casais sendo um soropositivo
(chamados de discordantes) todo mês. “Quando o homem é soropositivo,
fazemos uma lavagem do esperma até que a carga viral fique nula e
fazemos a inseminação direto no óvulo e não no útero”, explica.
A demanda de casais discordantes na clínica de São José do Rio Preto,
informa o diretor clínico da unidade Edilberto de Araújo Filho, é
nacional. “Há três anos passamos a receber pessoas de São Paulo, Goiás,
Minas Gerais, de todos os locais”, conta.
Perfil
Renato Fraietta, especialista em reprodução assistida da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), diz que no serviço local em média entre
seis e oito casais discordantes procuram a unidade para a fertilização
in vitro. “Em maioria, são os homens os portadores do vírus HIV e a
idade é semelhante a dos casais que não têm aids e recorrem a técnica”,
diz. “A procura aumentou bastante. Mas as medidas de segurança são
imprescindíveis. Nenhum especialista fala em descartar a camisinha”,
completa.
Os casais que convivem com o HIV e querem engravidar precisam ser
acompanhados diretamente por um infectologista, orientados sobre a forma
segura da reprodução. O pré-natal também precisa ser acompanhado de
perto e há um momento certo para a inseminação.
Aumento da oferta
Não são todas as clínicas particulares que aceitam casais
discordantes e existem no País cinco serviços públicos conveniados ao
Ministério da Saúde que prestam este serviço, sendo um no Distrito
Federal, outro em Pernambuco e três em São Paulo.
O mais antigo deles fica na Faculdade de Medicina do ABC, em São
Paulo, e foi inaugurado em 2006. Até hoje atendia uma média de oito
casais discordantes por mês. Nesta terça-feira, dia 4 de maio, foi
fechada uma parceria com o Centro de Referência e Treinamento (CRT/aids)
do governo de São Paulo e a capacidade para acolher
casais soropositivos será ampliada para 12 mensais.
“É uma necessidade ampliar a oferta de reprodução assistida aos
casais discordantes. Usamos técnicas que possibilitam a pessoa ter
acesso à maternidade, de uma forma segura, que protege o feto e o
parceiro”, afirmou Maria Clara Gina, coordenadora do CRT/Aids
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