Depois de ter vivido “muito mundo”, como ela mesma diz, Malena se tornou mãe aos 42 anos – com menos pique, mas mais experiência
Malena e Maria Eduarda: "você começa a lidar com o inesperado o tempo inteiro"
Na década de 70, engravidar com mais de 35 anos era raro. A média de mulheres que o faziam era de apenas 5%. Atualmente o número triplicou
e, na maioria dos casos, elas contam com os avanços da medicina para
que a gestação ocorra sem maiores complicações. É o caso da professora
universitária e pesquisadora Malena Contrera, de 46 anos. Ela teve ajuda
médica para tratar a infertilidade e engravidou logo na primeira
tentativa de tratamento, aos 42: “Eu tinha feito um acordo com o cosmos
de que, se não desse certo na primeira vez, eu não tentaria novamente. E
funcionou”.Houve um longo percurso de tentativas até o início da gestação. Até os 37, Malena nunca havia sentido vontade de ser mãe. “Comecei a querer viver esta experiência e também sentia o deadline biológico chegando, então resolvi tentar”. Mas não foi fácil. Após uma bateria de exames, o único problema que inicialmente a impedia de engravidar era um mioma que descobriu ter no útero, mas nada que uma cirurgia não resolvesse o problema. Porém, ao passar dos 40 e poucos, o médico lhe disse que realmente não havia outra saída além da fertilização. Nove meses depois, Maria Eduarda nasceria.
“Eu desejava muito, embora soubesse por estatísticas que as chances eram mínimas”, diz. Mas a intuição falava mais alto e algo que lhe dizia que seu desejo seria atendido. Dito e feito: “Só que então, ao mesmo tempo em que fiquei muito feliz, tive muito medo por correr o risco de aborto espontâneo durante os primeiros meses”. Após este período, outro receio surgia: a Síndrome de Down, doença mais comum em crianças nascidas de mulheres que já não estão na idade recomendada para a gravidez.
Mas a saúde do bebê que estava por vir estava em dia. E Malena sentia o mesmo com as mudanças do seu corpo. “Por incrível que pareça, eu nunca me senti tão bem fisicamente do que quando estava grávida”. Embora estivesse acima do peso já antes da gestação, ela conta que engordou dez quilos durante os nove meses e sentiu apenas um pouco de azia no final. Nada que lhe tirasse o sentimento de que tudo sairia perfeitamente bem.
Noites mal dormidas
Depois da chegada da filha por meio da cesárea, no entanto, ela sofreu um rebote hormonal que tornou o emagrecimento pós-parto mais difícil do que o normal. “No meu caso, os hormônios se regulariam novamente quando eu equilibrasse o metabolismo por meio de boas noites de sono – coisa que Maria Eduarda me impedia, por ter um sono muito instável”, explica. Segundo ela, a filha ainda acorda todas as noites, mesmo depois de já ter comemorado quatro aniversários: “Dizem que isso pode acontecer pela criança sentir falta da mãe que trabalha o dia inteiro, mas não é o meu caso. Eu passo bastante tempo com ela”.
Malena entrou na licença-maternidade um mês antes de dar à luz Maria Eduarda. Embora se sentisse bem fisicamente, se cansava facilmente no último mês de gestação e, como todos diziam que era uma gravidez de risco, preferiu não arriscar. A professora não parou de trabalhar em nenhum momento, apenas diminuiu um pouco a carga de trabalho. “Eu tinha dois empregos na época que engravidei, então tive que optar somente por um para poder cuidar dela também”.
Decisão difícil? Não para Malena. “Acho que este é o diferencial de ser mãe aos 42: eu não estava mais naquela aflição de começo de carreira”, diz. Assim, somente após o aniversário de 3 anos da filha ela começou a retomar as atividades com o mesmo pique de antes. “Durante este período eu fui mais devagar com o trabalho e não me torturava por isso, o que eu acho que é mais fácil de ser feito com a idade que eu tinha”, afirma. Se tivesse engravidado com 20 ou 30 anos, a professora acredita que não se sentiria tão confortável, por exemplo, em recusar uma proposta de trabalho internacional – que recebeu durante a gravidez.
Mauricio Contreras/ Fotoarena
Malena brinca com Maria Eduarda: mãe aos 42, ela compensa a limitação física com a experiência de vida
Prazer pela ambivalência
Aos 42 anos, Malena conta que estava numa fase de reavaliar os valores, o que aconteceu no mesmo momento em que Maria Eduarda chegava. “Eu passei a viver uma experiência de amor cósmico que não conhecia, o que valeu muito a pena”, afirma. Ela conta com a ajuda de uma babá, principalmente para a organização e necessidades da filha, mas não costuma deixá-las por muito tempo sozinhas, já que possui um horário flexível de trabalho. “A babá me dá um suporte para arrumar as roupas, para levá-la no ballet e na natação, mas no dia a dia eu estou sempre presente”.
Desta vivência, Malena conclui: “Eu não sabia o que era ambivalência até ser mãe”. Aos risos, ela diz que cuidar de criança pequena é um “estado de insanidade temporária” – em que você quer descansar por se sentir exausta, mas ao mesmo tempo quer estar com a filha, por ser quem você mais ama no mundo. “Além de existir uma identificação psicológica muito grande no início, é uma divisão muito grande que a mãe vivencia”, afirma. Mas completa: “o tempo ajuda a gente a se sentir mais tranquila e equilibrada”.
Para ela, o pior da maternidade aos 40 foi a limitação física: “Além dos hormônios desregulados, você já não tem mais a capacidade de correr e brincar que a criança espera, então em alguns momentos eu me sinto mais cansada fisicamente do que gostaria”. Se por um lado Malena sentiu ter envelhecido “230 anos”, por outro ela conta que o rejuvenescimento interior vem com tudo. “Tudo aquilo que você tinha como controle não existe mais, e você começa a lidar com o inesperado o tempo inteiro, coisa que quando você vai ficando mais velha não existe mais por você se sentir cheio de verdades, de razões, de hábitos”.
Com a chegada de Maria Eduarda, todas as verdades inabaláveis exigiram reforma. “Ou você rejuvenesce ou fica completamente neurótica”, afirma Malena. Mas se por um lado o rejuvenescer foi essencial, por outro, o preparo que somente os 40 lhe deram não fugiu de cena. Segundo ela, a ansiedade em relação ao mundo – que costuma ser maior aos 20 anos – agora é muito menor. O quadro colabora para avaliar a grandeza da situação e agir de acordo com o que pede o momento da maternidade: “Como eu já tinha vivido muito mundo, passar para este outro lado nesta idade não é muito difícil, é mais um grande prazer”.
As expectativas, porém, estão presentes em todas as idades. Principalmente em relação à própria maternidade. “Eu quero ser uma porta para alguém que faça diferença, que por onde ande faça bem para quem esteja perto”. A própria Malena conta que cresceu e não se tornou exatamente o que seus pais esperavam – e agora o que realmente quer de si mesma é oferecer à filha um repertório de peças para montar o quebra-cabeça que é a vida, tão imprevisível.
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