Eleição de síndico mirim, contratação de monitores e melhor aproveitamento de áreas de lazer minimizam conflitos
O síndico Júlio Cesar convocou a garotada para participar da assembleia geral
Jogar bola na garagem, brincar no saguão de entrada, fazer
barulho pelos corredores e molhar o elevador depois de sair da piscina
são os problemas mais comuns causados pelas crianças em condomínios. A
lista de desrespeito às regras do prédio é longa e costuma dar dor de
cabeça para síndicos e para os pais e moradores que querem ordem e
sossego. De acordo com o advogado imobiliário e consultor de condomínios
Rodrigo Karpat, os principais problemas são barulho, depredação do
patrimônio, utilização da piscina e da sala de jogos fora dos horários
estabelecidos, uso de trajes de banho no elevador social e aglomeração
de jovens nos corredores.
Não é fácil administrar um prédio e impor às crianças as regras de boa convivência. Mas há maneiras simples e inteligentes de negociar com a criançada e colocar ordem no pedaço. Alguns condomínios maiores têm contratado monitores para vigiar e orientar as crianças sobre o bom uso das áreas comuns.
Outros prédios preveem espaços exclusivos para as crianças se
reunirem e brincarem, o que as mantêm ocupadas e longe de confusões. Uma
das alternativas é a instalação de brinquedos como pebolim e tênis de
mesa. Foi assim que o Condomínio Vernon, no bairro de Pinheiros, em São
Paulo, resolveu o conflito com a criançada. Em dias frios e chuvosos,
eles não podiam se reunir na área da piscina e procuravam o salão de
festas para bater papo e brincar. Fatalmente era registrado algum
estrago causado pelo mau uso do local, o que resultou na proibição da
entrada das crianças por lá.
Foi então que a síndica Sueli Inês da Cunha Leite teve uma ideia
simples e bastante eficaz: transformar uma sala de descanso próxima à
sauna, muito pouco utilizada pelos condôminos, em um salão de jogos com
mesa de pingue-pongue. O lugar logo virou ponto de encontro da garotada.
“Para todo problema com as crianças, o melhor caminho é o diálogo com
elas e os pais, em busca de soluções”, resume Sueli, que comanda o
prédio há 12 anos.
Para aproximar a criançada das decisões do condomínio e acabar de vez
com a imagem de que o síndico é “chato”, Júlio Cesar Gonçalves,
responsável pelo Condomínio Edifício Adelino Gaspar, em São Paulo,
convocou a garotada para participar da assembleia geral. “Queria que as
crianças entendessem qual a importância da participação dos moradores no
dia a dia do condomínio e que nada é decisão do síndico. Se o pai dele
não desce para a reunião, está delegando a outras pessoas decidir, por
exemplo, sobre o funcionamento da quadra”, conta Gonçalves.
Segundo o síndico, a iniciativa deu certo. Na assembleia, as crianças
puderam opinar e dar sugestões e, depois disso, estão mais conscientes
de seus deveres e direitos. “Já senti uma mudança no comportamento delas
e uma aproximação com a figura do síndico. Foi muito legal”, diz.
Já o condomínio Oásis, na Vila Santa Catarina, em São Paulo,
encontrou outra solução para contornar problemas com a criançada:
realizou a eleição do síndico mirim. Todos os condôminos com idade entre
7 e 12 anos foram convocados a participar. Várias crianças se
candidataram ao cargo. A votação foi feita entre elas e minissíndico já
está em atuação. “Agora, os jovens se reúnem, discutem suas ideias,
apresentam suas revindicações e se policiam uns aos outros, tornando a
convivência mais harmoniosa”, explica a advogada Gisele Fernandes Silva,
gerente geral de condomínios do Grupo OMA Patrimônios, responsável pela
implantação do projeto no local.
Orientação começa em casa
Apesar das medidas adotadas pelos condomínios, a orientação quanto
às regras de boa convivência com vizinhos deve começar em casa. Os pais
precisam estar sempre disponíveis para instruir os filhos sobre o
cuidado com o patrimônio comum e o zelo com o bem-estar dos vizinhos. “É
importante ensinar às crianças que cada ação tem uma consequência. Se
ela quebrar um brinquedo da brinquedoteca, precisa saber que terá de
abrir mão de um brinquedo seu para repor o prejuízo ou pagar com a
mesada, por exemplo. Quanto mais ela sentir que o resultado da ação é
ruim para ela, mais ela vai se responsabilizar”, explica a psicóloga
Daniella Freixo de Faria, especialista em comportamento infantil.
Também é preciso que o condomínio deixe claro para os pais, as babás e
as próprias crianças quais são as normas que devem ser cumpridas.
“Quanto mais os pais participam do estabelecimento das regras, melhor
resultado o condomínio tem”, avalia Daniella.
Por isso, é interessante que o condomínio interaja sempre com as
crianças, por meio do síndico ou do zelador, envolvendo-as nas decisões.
Se mesmo assim houver problemas, os pais devem ser informados dos
transtornos provocados. Eles são civilmente responsáveis pelos filhos,
inclusive por danos e prejuízos causados por eles ao condomínio.
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