Pesquisador usou ozônio para neutralizar microorganismos resistentes aos tratamentos convencionais
Este mês, no Hospital das Clínicas de São Paulo, um grupo de pesquisadores encontrou uma pista sobre uma maneira simples e barata de vencer os agentes infecciosos resistentes aos antibióticos. Análises em laboratório testaram se um jato de ozônio poderia inativar 10 tipos de bactérias, sendo uma delas a KPC, que só no Distrito Federal (DF) foi responsável por 16 mortes.Durante o ano de 2010, as chamadas superbactérias acometeram pacientes do mundo todo, em especial os internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Elas trouxeram o desafio: encontrar um tratamento novo e rápido para microorganismos que não respondiam aos remédios convencionais. Uma fórmula inédita acaba de “nascer” no Brasil.
O trabalho será publicado na próxima edição do periódico científico Journal of Surgery Research, dos Estados Unidos – uma das publicações mais importantes da área. O idealizador do novo tratamento, o médico Glacus de Souza Brito, da Divisão de Imunologia Clínica e Alergia do HC, em entrevista explica como foram as pesquisas e a elaboração do novo tratamento contra as superbactérias. Ele diz que bastaram 5 minutos de exposição ao jato de ozônio para os agentes infecciosos perderem força e ficarem inativos. O mecanismo de ação é que o ozônio oxida as paredes dos microorganismos. O próximo passo será testar o mesmo processo em pacientes. Leia a seguir a entrevista.
O senhor já utilizava o tratamento com ozônio para outros tipos de infecção. Como foi a ideia de testar a eficácia do gás para as superbactérias?
Glacus de Souza Brito: Já usamos o ozônio para tratar algumas feridas que não respondiam aos tratamentos convencionais. Temos um caso de um paciente acidentado no trânsito, que tinha um machucado na perna e nele foram encontradas quatro bactérias multirresistentes. Baseado em experiências internacionais, isolamos a ferida com um plástico e com uma máquina que emite ozônio simples, nebulizamos o local por uma hora diária com o gás. Em dois dias, as bactérias já estavam inativas e seis dias depois foi possível suspender todos os antibióticos. O paciente teve alta. Quando começaram a surgir os casos de bactérias multirresistentes, decidimos investigar a eficácia do ozônio.
Como foi feita a pesquisa?
Glacus de Souza Brito: Selecionamos 10 bactérias multirresistentes, identificadas em pacientes do próprio HC. A última testada foi a KPC. Isolamos os microorganismos em laboratório e, em todos eles, bastaram cinco minutos de exposição ao ozônio para os agentes infecciosos serem anulados.
Com estas evidências, qual é o próximo passo?
Glacus de Souza Brito: Precisamos agora montar esquemas de estudos que envolvam pacientes, porque ainda não sabemos como será a resposta em humanos. As bactérias resistentes nem sempre se manifestam em feridas, podem aparecer em pneumonias, por exemplo, por isso precisamos de mais pesquisas para confirmar se funciona. O importante é que é um tratamento simples e de muito pouco custo e que pode virar um padrão no sistema público brasileiro.
Além de infecções, o ozônio já é testado para outras doenças?
Glacus de Souza Brito: Internacionalmente, há uma utilização maior. A Alemanha e a Itália usam ozônio para tratar dores articulares e hérnia de disco, por exemplo. A pesquisa no Hospital das Clínicas foi só para ver a eficácia com as superbactérias e já encontramos êxito. Mas é um vasto campo a ser pesquisado.
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