sexta-feira, 7 de junho de 2013

Tratamento brasileiro consegue frear superbactérias

Pesquisador usou ozônio para neutralizar microorganismos resistentes aos tratamentos convencionais

Este mês, no Hospital das Clínicas de São Paulo, um grupo de pesquisadores encontrou uma pista sobre uma maneira simples e barata de vencer os agentes infecciosos resistentes aos antibióticos. Análises em laboratório testaram se um jato de ozônio poderia inativar 10 tipos de bactérias, sendo uma delas a KPC, que só no Distrito Federal (DF) foi responsável por 16 mortes.Durante o ano de 2010, as chamadas superbactérias acometeram pacientes do mundo todo, em especial os internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Elas trouxeram o desafio: encontrar um tratamento novo e rápido para microorganismos que não respondiam aos remédios convencionais. Uma fórmula inédita acaba de “nascer” no Brasil.
O trabalho será publicado na próxima edição do periódico científico Journal of Surgery Research, dos Estados Unidos – uma das publicações mais importantes da área. O idealizador do novo tratamento, o médico Glacus de Souza Brito, da Divisão de Imunologia Clínica e Alergia do HC, em entrevista explica como foram as pesquisas e a elaboração do novo tratamento contra as superbactérias. Ele diz que bastaram 5 minutos de exposição ao jato de ozônio para os agentes infecciosos perderem força e ficarem inativos. O mecanismo de ação é que o ozônio oxida as paredes dos microorganismos. O próximo passo será testar o mesmo processo em pacientes. Leia a seguir a entrevista.
 O senhor já utilizava o tratamento com ozônio para outros tipos de infecção. Como foi a ideia de testar a eficácia do gás para as superbactérias?
Glacus de Souza Brito: Já usamos o ozônio para tratar algumas feridas que não respondiam aos tratamentos convencionais. Temos um caso de um paciente acidentado no trânsito, que tinha um machucado na perna e nele foram encontradas quatro bactérias multirresistentes. Baseado em experiências internacionais, isolamos a ferida com um plástico e com uma máquina que emite ozônio simples, nebulizamos o local por uma hora diária com o gás. Em dois dias, as bactérias já estavam inativas e seis dias depois foi possível suspender todos os antibióticos. O paciente teve alta. Quando começaram a surgir os casos de bactérias multirresistentes, decidimos investigar a eficácia do ozônio.
 Como foi feita a pesquisa?
Glacus de Souza Brito: Selecionamos 10 bactérias multirresistentes, identificadas em pacientes do próprio HC. A última testada foi a KPC. Isolamos os microorganismos em laboratório e, em todos eles, bastaram cinco minutos de exposição ao ozônio para os agentes infecciosos serem anulados.

 Com estas evidências, qual é o próximo passo?
Glacus de Souza Brito: Precisamos agora montar esquemas de estudos que envolvam pacientes, porque ainda não sabemos como será a resposta em humanos. As bactérias resistentes nem sempre se manifestam em feridas, podem aparecer em pneumonias, por exemplo, por isso precisamos de mais pesquisas para confirmar se funciona. O importante é que é um tratamento simples e de muito pouco custo e que pode virar um padrão no sistema público brasileiro.

 Além de infecções, o ozônio já é testado para outras doenças?
Glacus de Souza Brito: Internacionalmente, há uma utilização maior. A Alemanha e a Itália usam ozônio para tratar dores articulares e hérnia de disco, por exemplo. A pesquisa no Hospital das Clínicas foi só para ver a eficácia com as superbactérias e já encontramos êxito. Mas é um vasto campo a ser pesquisado.

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