Bestseller mostra como os introvertidos são essenciais em um mundo que não para de falar
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Livro de consultora norte-americana mostra como os introvertidos podem se dar bem em um mundo que não para de falar
Basta ser pega de surpresa em alguma situação ou receber
um elogio para a auxiliar – administrativa, Débora Rocino, de 30 anos,
ficar com o rosto totalmente vermelho. Falar em público, até para fazer
um brinde de aniversário, é um desafio e nenhum programa social
substitui o prazer de ficar em casa lendo um livro ou ouvindo música ou,
simplesmente, quieta. A noitada perfeita é uma reunião de poucos
amigos. Para eles, Débora é uma boa ouvinte, além de uma pessoa delicada
e reflexiva. Se você também se identificou com este perfil, talvez
seja, assim como Débora, um introvertido.
De acordo com um dos estudos descritos no livro “ O Poder dos Quietos
”, da autora Susan Cain (editora Agir, 2012), pelo menos um em cada três
norte-americanos são introvertidos. Levando em conta que o país é
considerado um dos mais extrovertidos do mundo, esse número pode ser
ainda mais alto em outras nações.
Susan Cain conversou com o iG e explicou que, em um mundo
supercompetitivo, onde a comunicação e os bons contatos são cada vez
mais valorizados, tem-se a impressão de que esta estatística está
errada. Isso acontece porque, segundo ela, provavelmente muitas pessoas
“fingem”, consciente ou inconscientemente, ser extrovertidas para
atender ao “Ideal da Extroversão” segundo o qual pessoas falantes são
consideradas socialmente mais espertas, mais bonitas e mais
interessantes.
O típico extrovertido tão valorizado no mundo atual
prefere a ação à contemplação, assumir riscos à cautela, a certeza à
dúvida. É o tipo de pessoa que toma decisões rapidamente, tem capacidade
de liderança, é sociável e sente-se confortável sob a luz dos
holofotes. Já a introversão, junto com seus “parentes e agregados” --
sensibilidade, seriedade e timidez -- é, muitas vezes, vista como um
traço de personalidade de “segunda classe”. No livro, Cain cita exemplos
de pais de crianças introvertidas que buscam ajuda terapêutica para
‘consertar’ seus silenciosos rebentos, na esperança de que eles se
tornem as pessoas assertivas, competitivas e falantes que parecem
destinadas a dominar o mundo.
O preconceito contra os introvertidos
Quando questionada sobre suas razões para escrever o
livro, Cain responde: “Existe um preconceito contra os introvertidos.
Nossas escolas, locais de trabalho e instituições religiosas são
desenhadas para extrovertidos e muitos introvertidos acreditam que têm
algum problema e que, por isso, devem tentar ‘fingir’ que são
extrovertidos. Esse preconceito gera um imenso desperdício de talentos,
de energia e, no final, de felicidade”.
A verdade é que os introvertidos simplesmente preferem
passar mais tempo sozinhos e não têm a mesma necessidade de contato
interpessoal que os extrovertidos. Se isso faz com que recusem
tenazmente convites para happy hours e festas de aniversários, não
necessariamente os torna ermitões empoeirados, ao contrário, embora não
se sintam tão confortáveis em discussões de grupos, são mais
cooperativos e conseguem funcionar melhor em times, ao contrário de suas
competitivas contrapartidas extrovertidas.
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Susan Cain: "Introvertidos são mais criativos e mais inovadores"
Introvertidos são mais criativos e mais inovadores
Estudos, como o realizado pelo Instituto de Análise e
Pesquisa da Personalidade da Universidade da Califórnia, mostram, ainda,
que introvertidos são mais criativos e inovadores. Albert Einstein,
Chopin, Steven Spielberg e Bill Gates, introvertidos assumidos, estão aí
para provar.
“A maioria das pessoas criativas é introvertida”, vai
além Susan, “isso se deve, em parte, a sua capacidade de ficarem
quietos. Introvertidos são pensadores cuidadosos e reflexivos, que
aguentam bem a solidão que o processo de geração de ideais exige”,
conclui.
Com um perfil mais concentrado, as pessoas mais quietas
também são ótimas na resolução de questões complexas, que exigem maior
precisão, e mais cautelosas com relação a riscos.
Também é preciso diferenciar timidez de introversão.
“Timidez é o medo do julgamento social negativo, é ser excessivamente
preocupado com o que as pessoas pensam de você. Introversão é
simplesmente a preferência pela calma, por menos estimulação. Na
prática, muitos introvertidos também são tímidos, mas nem todos”,
explica Susan Cain na entrevista ao iG.
O Ideal da Extroversão no mercado de trabalho
Arquivo pessoal
Bruno Dellore, 30 anos, 100% introvertido: recorri a várias técnicas para falar em público
A pressão da sociedade para sermos pessoas comunicativas,
confiantes e expansivas faz com que os introvertidos – que preferem
muitas vezes o silêncio do quarto a um papo de botequim – sejam muitas
vezes taxados de “chatos”, “sérios demais” e “antissociais”.
No mercado de trabalho, não é diferente. Geralmente, o
perfil mais procurado pelos headhunters é o do profissional que sabe
liderar equipes, tem um bom marketing pessoal e se sai bem em
apresentações e no contato com clientes.
O analista de planejamento Bruno Dellore, de 30 anos, que
se considera “100% introvertido”, teve que se adequar às exigências do
mercado da Moda para se dar bem profissionalmente. De poucas palavras e
do tipo pensativo, seu maior desafio era fazer apresentações em público.
“Passava mal e ficava dias sem dormir quando precisava dar algum
treinamento”, conta ele. A aversão à exposição foi sendo superada ao
longo do tempo. “Adotei algumas técnicas e usei uma nova metodologia.
Agora, visto a ‘fantasia’ do apresentador”, diz.
Susan Cain afirma que introvertidos são capazes, sim, de
fazer excelentes apresentações em público e agir como extrovertidos pelo
bem de um trabalho que considerem importante, de pessoas que amem ou de
qualquer coisa a que deem um alto valor.
Isso significa que a pessoa consegue incorporar um
“personagem” momentaneamente em torno de um ideal, mas logo voltará à
personalidade original. “Somos como elástico em repouso. Podemos nos
esticar, mas até certo ponto”, diz a autora em um trecho do livro que já
teve mais de um milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos.
Na hora de liderar, os introvertidos também têm seu
valor. Ao contrário do que sugere o senso comum, uma pesquisa realizada
por Adam Grant, professor de administração da Wharton University da
Pensilvânia, uma das mais importantes escolas de negócios do mundo,
constatou que os chefes introvertidos podem produzir melhores resultados
que os extrovertidos, especialmente com funcionários proativos.
Introvertidos são mais propensos a deixar os empregados executarem suas
próprias ideias e estariam mais abertos a sugestões.
Débora Rocino vencendo os medos: online é mais fácil
Arquivo pessoal
Débora Rocino, 30 anos, vencendo o medo com a ajuda das redes sociais
Mas nem todos conseguem vencer seus medos com tanta
facilidade. Débora Rocino, que se considera uma introvertida
extremamente tímida, desde pequena detesta ser o centro das atenções. Em
busca de superar a vergonha, decidiu se colocar em uma prova de fogo:
posar para um book de fotos. “Levei mais de quarenta minutos para
conseguir fazer a primeira foto, mas consegui. Sei que vão existir
muitos momentos em que precisarei encarar este tipo de situação”, conta.
No fim, Débora gostou tanto da experiência que colocou as
imagens em seu perfil no Facebook. Assim como ela, muitos introvertidos
sentem que podem se expressar mais facilmente online do que
pessoalmente. “Eles podem fazer conexões com os outros pela web e, em
seguida, estender essas conexões para o mundo real, sem ter que
percorrer o processo inicial de conhecer os rituais de conversa fiada
que muitos introvertidos não gostam”, finaliza Susan Cain.
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