segunda-feira, 22 de julho de 2013

Criadora diz que seriado é "reflexo do que acontece dentro de prisão feminina"

Netflix renova sua quarta produção original, "Orange Is the New Black", antes mesmo da estreia; série conta história de mulher que se entrega à justiça para acertar contas de um crime que cometeu dez anos antes

Desde que anunciou o início de suas produções originais, o Netflix se tornou uma verdadeira pedra no sapato para as emissoras norte-americanas tradicionais. Com investimentos altos, o serviço de streaming, hoje com 36 milhões de assinantes em 40 países, deu a largada ao surgimento de uma nova leva de séries e filmes, inaugurada em fevereiro com “House of Cards”, que já nasce livre da pressão dos anunciantes ou cobrança das emissoras.
Quem mais saiu ganhando nesse novo modelo de distribuição, onde todos os episódios de uma temporada são produzidos e disponibilizados de uma vez, são os autores, que agora encontram mais possibilidades na hora de escrever e contar suas histórias como um todo.
Cena da série 'Orange Is the New Black'. Foto: Divulgação/Netflix
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A prova disso é “Orange Is the New Black” (“laranja é o novo preto”), nova série do Netflix, a quarta original do serviço, que já teve a segunda temporada confirmada antes mesmo de estrear a primeira, no dia 11 de julho. É o início uma nova era para a produção audiovisual nos EUA -- e os mais conservadores da indústria definitivamente não estão prontos para isso.
“Acredito que essa liberdade de criação vai resultar em histórias melhores. Os autores vão poder fazer o que eles quiserem e apenas ver suas ideias sendo realizadas. Isso tem um grande benefício”, disse Piper Kerman, autora do livro homônimo e autobiográfico que deu origem à série, em mesa redonda da qual oiG participou, em São Paulo.
Alex Azevedo/Fabio Pugliesi
Piper Kerman, autora de livro que deu origem a 'Orange Is the New Black'
Adaptado para as telas por Jenji Kohan, criadora da aclamada “Weeds” (Showtime), “Orange Is the New Black” conta a história de uma mulher de 32 anos que se entrega à justiça e deve passar 15 meses em uma prisão federal por um crime que cometeu dez anos antes.
Ao longo dos 13 episódios que compõem a temporada inicial, o espectador é convidado a conhecer a história de Piper Chapman (Taylor Schiiling, de “Argo”), personagem baseada na autora do livro, que foi parar atrás das grades por viajar com dinheiro ilícito influenciada pela ex-namorada Alex (Laura Prepon, de “That’s 70’s Show”), traficante internacional de drogas. Ela é obrigada a deixar para o lado de fora da prisão o noivo certinho Larry (Jason Biggs, de “American Pie”) e um negócio promissor no ramo de cosméticos naturais.
Com sua mistura característica de tragédia e sarcasmo, Jenji Kohan mostra o dia a dia de uma penitenciária feminina, com um elenco rico em mulheres talentosíssimas, sempre através do olhar de Piper, que deve lutar diariamente por sua sobrevivência e adaptação.
Nos minutos iniciais da série, por exemplo, a personagem descreve como a hora do banho era sua favorita do dia mas, em seu novo endereço, é obrigada a dividir o chuveiro com outras detentas, pisar no chão imundo descalça, além de ser humilhada.
Piper ainda vai passar perrengues como fome, quando insulta sem querer a chefe da cozinha, que a deixa sem comer, e uma detenta transtornada que se apaixona por ela e passa a tratá-la como sua mulher - aliás, uma brilhante performance da atriz Uzo Aduba, conhecida por atuar na Broadway.
“Eu fiz de tudo para conseguir esse trabalho”, explicou por telefone a novata Taylor Schiiling, que teve seu primeiro papel de destaque em 2012 ao lado de Zac Efron no longa “Um Homem de Sorte”.
Divulgação
Taylor Schilling e Lin Tucci em 'Orange Is the New Black'
A protagonista da atração, de 28 anos, contou que, mesmo com o passado criminoso de Piper, pode se relacionar com a personagem e ficou feliz quando recebeu o “sim” da produção. “Essa dicotomia e a ambiguidade sobre a história realmente me fascinam”, disse, comentando a percepção do público em relação às personagens que, apesar de serem criminosas, causam comoções, como acontece em “Dexter” ou “Breaking Bad”.
Assistindo a “Orange” é interessante perceber o mecanismo que Jenji escolheu para contar a história dessas mulheres, a maioria delas com um passado realmente obscuro. As situações da prisão se misturam com flashbacks de cada uma, que são costurados com as decisões que elas são obrigadas a tomar atrás das grades.
“Uma das coisas que as pessoas mais gostam do livro é como a minha história intersecta com as outras mulheres e de formas intensas. O programa pode fazer isso e expandir de uma maneira que eu não pude fazer no livro”, falou Kerman.
Segundo a autora, a personagem Piper serve como uma porta de entrada para aquele universo, porém a história não é apenas sobre ela, mas sim sobre o grupo de detentas. “Eu queria que o leitor mudasse sua opinião sobre as pessoas que estão na prisão nos Estados Unidos e porque elas estão lá, qual é o caminho que as levou para a prisão, e o que realmente acontece lá.”
Divulgação
Cena de 'Orange Is the New Black'
Piper Kerman de fato ficou 15 meses presa, pelos mesmos motivos que a personagem, mas frisa que as situações da série são diferentes e muito mais absurdas que a sua história de vida. Hoje ela trabalha como consultora do programa e é responsável por revisar os roteiros e apontar mudanças que poderiam ser feitas para a série ser a mais realista possível.
“Niniguém nunca viu personagens femininas retratadas desta forma na TV americana. Mulheres jovens, mais velhas, de todas as raças, religiões e histórico psicológico, e isso é muito importe porque é um reflexo preciso do que acontece dentro dos muros de uma prisão feminina”, disse a autora.
Desde que foi disponibilizada pelo Netflix, “Orange Is the New Black” tem recebido críticas positivas nos EUA, e foi apontada como a melhor surpresa do calendário de estreias de 2013. Não foi à toa o anúncio da renovação para uma segunda temporada, que deve entrar em produção no início de 2014: a série realmente tem muito potencial.
“Orange Is the New Black” é a quarta produção original do Netflix. As primeiras foram “House of Cards”, com Kevin Spacey como protagonista e direção de David Fincher (indicado ao Oscar por “A Rede Social”); “Hemlock Grove”, criada pelo ator e produtor Eli Roth (“Bastardos Inglórios”); e a nova temporada de “Arrested Development”, série cancelada há sete anos e ressuscitada nesta leva.
Com as indicações do Emmy Awards se aproximando - o anúncio será feito nesta quinta-feira (18) -, espera-se que o Netflix deva sair na frente nas categorias de melhor série e melhor ator com “House of Cards” e Spacey, e “Arrested Development” e seu protagonista Jason Bateman. “Orange Is the New Black” ficou de fora neste ano por conta do prazo de inscrições, mas as indicações para o Globo de Ouro 2014, baseadas nesses 13 episódios, já estão praticamente garantidas.

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