De acordo com Osvaldo Negrini, polícia conhece o procedimento dos peritos e tentou retirar os vestígios
O perito criminal Osvaldo Negrini Neto afirmou nesta segunda-feira (29) que a polícia desmanchou as provas que poderiam precisar com exatidão o número de detentos assassinados no 3º pavimento do Pavilhão 9, da extinta casa de detenção Carandiru. O especialista estima que no dia 2 de outubro de 1992, 73 pessoas, do total de 111 vítimas, foram mortas naquele pavimento, objeto exclusivo do julgamento que iniciado nesta segunda-feira e que deve durar toda a semana.
“Foi uma ação deliberada para desmanchar as provas no local”, afirmou Negrini, que se sentiu “impedido de todas as formas” de realizar seu trabalho. Convocado para cuidar do caso no início daquela tarde, o perito só conseguiu ver “a pilha de 90 cadáveres” por volta das 22h, quando “o rio de sangue” e a escuridão da noite o impediram de continuar a perícia.
Negrini voltou para o pátio, acompanhou a retirada dos corpos e se comprometeu a voltar no dia seguinte, mas foi “desencorajado” porque haveria muita “confusão”. Ele só pôde voltar ao Carandiru uma semana depois. “Não resta dúvida de que a polícia sabe como a perícia age e tentou evitar os vestígios no local.”
Com o local do crime remexido, o perito fez uma reprodução dos fatos para chegar à conclusão de que 73 presos foram mortos no 3º pavimento. Ele colheu vestígios das cavidade encontrada no interior das celas, comparou com o laudo do Instituto Médico Legal e com a quantidade de detentos que viviam naquele andar.
Ao todo, afirma Negrini, foram disparados 625 tiros: 450 atingiram os 111 presos, enquanto 175 encontraram as paredes das celas.
O massacre
O massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992. Durante uma rebelião, a Polícia Militar invadiu o local e 111 presos foram mortos. Todos os policiais saíram ilesos. A invasão foi comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, que chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, mas em fevereiro de 2006 o Tribunal de Justiça de São Paulo reformou a decisão e o absolveu. Ubiratan acabou morto no mesmo ano, em setembro de 2006, com um tiro na barriga, em seu apartamento nos Jardins, região nobre de São Paulo.
Depois de ter sua história manchada, a casa de detenção foi desativada no começo de 2002 e demolida no final do ano. No lugar, foi construído o Parque da Juventude.
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