quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

São Paulo usa 'dor e sofrimento' para acabar com Cracolândia

Estratégia está dividida em três etapas e não tem data para acabar. Na primeira fase, PM busca quebrar estrutura do tráfico na região central da capital
Baseados na estratégia de "dor e sofrimento" de usuários de crack, pela primeira vez Prefeitura e Estado de São Paulo definiram medidas para tentar esvaziar a cracolândia, que resiste no centro desde os anos 1990. O Plano de Ação Integrada Centro Legal entrou em prática terça-feira (3) na região e não tem data para acabar. A estratégia está dividida em três etapas.
Plano de ação: PM continua operação na região da Cracolândia em São Paulo
Com a PM na região da Luz, usuários se deslocam para outros pontos da cidade. Na foto, av. Rio Branco
A primeira consiste na ocupação policial, cujo objetivo é "quebrar a estrutura logística" de traficantes que atuam na área. Além de barrar a chegada da droga, policiais foram orientados a não tolerar mais consumo público de droga. Usuários serão abordados e, se quiserem, encaminhados à rede municipal de saúde e assistência social. Em uma segunda etapa, a ação ostensiva da PM, na visão de Prefeitura e Estado, vai incentivar consumidores da droga a procurar ajuda. Na terceira fase, a meta será manter os bons resultados.
PM prende suposto traficante na Praça Julio Prestes, no centro de São Paulo, na quarta
O problema: Em meio à epidemia de crack, Brasil fracassa em tratamento para dependentes
"A falta da droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue levar o usuário a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais aquela situação. Dor e o sofrimento fazem a pessoa pedir ajuda", diz o coordenador de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania, Luiz Alberto Chaves de Oliveira.
Especialistas, porém, veem a estratégia com ressalvas. Para eles, forçar crises de abstinência pode provocar outras reações nos usuários, inclusive violentas. E estudos mostram que a falta da droga não causa busca por tratamento, pelo contrário. Na fissura, dizem alguns médicos, o usuário não tem discernimento para decidir o que é melhor ou não para ele.
Traficantes e foragidos: Cinco são presos durante operação policial na Cracolândia
A vice-prefeita e secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Alda Marco Antonio (PSD), discorda. "Cortando a chegada do crack e tirando o traficante da rua, a ação da saúde e da assistência social vai ficar facilitada", afirma, destacando que a inauguração de um centro de assistência na região central para 1.200 pessoas até março vai ampliar a capacidade de atendimento da Prefeitura.
Sabendo da migração dos usuários para regiões vizinhas, que inevitavelmente ocorre em grandes operações, a PM prometeu aumentar as abordagens nos locais para onde os consumidores se mudarem. A PM já identificou quatro novos pontos de consumo perto da Cracolândia.
Prisões
Após dois dias de intensificação do policiamento, cinco pessoas foram presas, segundo balanço divulgado na noite de quarta-feira (4). A ação policial segue por tempo indeterminado. Três foragidos da Justiça foram recuperados e duas pessoas foram presas por tráfico de drogas. Foram apreendidos duas armas de brinquedo e cinco carcaças de motocicletas.
Dos presos por tráfico, uma pessoa estava com aproximadamente 100 pedras de crack e a outra com cerca de 50. A estimativa da PM é que, em 30 dias, após a prisão de traficantes e o restabelecimento da ordem na região, se inicie a segunda fase, com a participação de assistentes sociais

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