domingo, 29 de janeiro de 2012

Sonho interrompido na sala de aula

Saiba mais sobre os alunos do curso de informática surpreendidos pela trágica queda do edifício Liberdade enquanto estudavam

Os sonhos de aprimoramento profissional de funcionários que trabalhavam na empresa Tecnologia Organizacional (TO) foram interrompidos bruscamente na noite da última quarta-feira (25) quando o prédio em que estavam desabou. Não é possível precisar ainda quais e quantos dos que trabalhavam na TO frequentavam a aula na ocasião.

Às 20h30, entre seis e sete pessoas, além do professor Omar Mussi, estavam juntos em uma sala no sexto andar do edifício Liberdade, na Rua Treze de Maio, número 44, no Centro do Rio de Janeiro. A penúltima aula de um curso de atualização em Tecnologia da Informação era ministrada no momento. As aulas haviam começado na semana anterior e estavam previstas para terminar em fevereiro.

Às 20h, um dos alunos, Bruno Gitahy, havia telefonado para a mãe avisando que ela poderia jantar, pois ele iria fazer um lanche no trabalho. O que ocorreu meia hora depois transformou aquele cenário cotidiano em um panorama de caos.

 

  
Alessandra Alves de Lima falava com o marido, Victor Lima, no msn, na hora do desabamento

Já se sabe que neste momento um tremor na construção fez com que o assistente de obras Alexandro dos Santos, de 31 anos, que estava no nono andar, retornasse ao elevador de onde acabara de sair. O reflexo ágil salvou a vida do operário. Outros não tiveram a mesma sorte. Ainda não se pode afirmar se entre os corpos encontrados na escada do edifício estavam os alunos do curso de informática da TO. No entanto, segundo o Secretário Estadual de Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, pelo menos quatro pessoas podem ter tentado escapar pelas escadas. Não deu tempo.

Após o tremor, o edifício Liberdade, com 18 pavimentos, desabou sobre um prédio de 10 andares e um sobrado localizado entre os dois, com quatro andares. As causas do acidente ainda estão longe de serem elucidadas.

As autoridades confirmam até agora 17 mortos e cinco desaparecidos, além de seis feridos. Abaixo a lista dos funcionários da TO que estavam no prédio:

Bruno Gitahy – o rapaz de 25 anos estudou na Universidade Estácio de Sá e admirava Steve Jobs e Bill Gates. Meia hora antes do desabamento ligou para avisar a mãe que ela podia jantar, pois iria fazer um lanche no trabalho.

Flávio Porrozzi – professor de biologia e analista de sistemas. “Meu sobrinho ligou para a noiva, Tatiana, por volta das 3h e falou ‘Oi amor’. Em seguida a ligação caiu. Tatiana tentou retornar diversas vezes, mas não conseguiu”, contou Francisco Adir, tio de Flávio, morador de Sulacap. Apaixonado por adrenalina, nas horas vagas, Flávio praticava alpinismo.

Kelly Meneses – estudante da Estácio de Sá, a auxiliar financeira de 28 anos, frequentava o curso de Tecnologia da Informação e trabalhava na empresa desde 2006.

 

 
Omar Mussi: o professor da turma de TI

Omar Mussi – casado, 48 anos e morador de Copacabana. O professor que ministrava o curso de Tecnologia da Informação na TO iria começar um mestrado em administração pelo IBMEC. Desesperada, sua mulher fez um apelo na página do marido em uma rede social: “Sou esposa do OMAR peço a todos os amigos que rezem por ele pois ele esta debaixo dos escombros do prédio que caiu na cidade do Rio de Janeiro ontem”.

Amaro Tavares da Silva – casado, 48 anos, pai de dois filhos, morador do Méier, vascaíno. Formado em informática Amaro trabalhava há três anos na TO. “Ele geralmente trabalhava à tarde e só saía à noite. Ontem não voltou para casa e o celular está desligado”, disse o irmão, Edilberto Tavares, que acredita que pode encontrar o irmão com vida. “Quem crê em Deus sempre tem esperança”, afirmou. Em seu último post em uma rede social, Amaro disse que estava voltando a correr na praia, do Leme à Copacabana: “Preciso de mais tempo...”. Recentemente ele havia corrido a XV Meia Maratona do Rio.

Sabrina Prado – a programadora de 29 anos trabalhava na TO e, na hora do desabamento, participava do treinamento interno em TI.

Alessandra Alves de Lima – recém-casada com Victor Lima, Alessandra trabalhava na TO e estava no 14º andar. No momento da tragédia, ela conversava com o marido pelo msn. Os dois fizeram um cruzeiro há menos de um mês para a Bahia. O corpo de Alessandra Alves de Lima, 29 anos, foi enterrado neste sábado (28) no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na zona norte do Rio de Janeiro.

Priscila Montezano - vascaína, fã de futebol e dos jogadores Kaká e Michael Ballack, a funcionária da TO de 23 anos estudou na universidade Estácio de Sá.

 

 
Amaro Tavares: casado e pai de dois filhos

Yokania Bastone Mauro – a funcionária da TO nasceu em São João Del Rei (MG), mas vivia no Rio há mais de dez anos. Se formou em analista de sistema na Universidade Estácio de Sá em 2001 e possui vários cursos em especialização na área. Chegou a participar de competições de natação em sua cidade natal. Em dezembro, ela ficou desempregada e retornou a São João Del Rei, mas, este ano, voltou ao Rio. Yokania trabalhou na Firjan, no Ministério do Trabalho e também na Construtora Queiroz Galvão.

Celso Renato Braga Cabral – o chefe do departamento de RH da TO, de 46 anos, fazia hora extra no momento da tragédia. Morador do Engenho Pequeno, em São Gonçalo, casado e dois filhos, de 17 e 19 anos. Ele trabalhava no quarto andar e não estava entre os alunos do curso de TI. “Era uma pessoa magnifica, boa, amigo, prestativo, todas as qualidades que uma pessoa exemplar tem. Brincalhão, participativo, ele ajudava um bloco de carnaval. Esta foi sua última empreitada na região em que morava. Encarnávamos nele, que era o tesoureiro” , disse o primo, Davi Cabral. Celso foi enterrado na manhã de sexta-feira (28), no Cemitério do Maruí, no Barreto, em Niterói, na Região Metropolitana. Uma bandeira do Flamengo foi estendida sobre o caixão.

17 mortos e cinco feridos até agora

A Defesa Civil estima que 22 pessoas foram vítimas do desabamento. Alguns corpos ainda não fora identificados. Saiba mais sobre algumas das vítimas que não eram funcionários da TO:

Franklin Machado – “Amor, depois eu te ligo porque o barulho aqui está estarrecedor”, disse o advogado Franklin Machado, de 44 anos, à esposa Eliete Sabará, ao telefone, por volta das 20h30 da noite de quarta-feira (25). Foi a última vez que os dois conversaram. Franklin, que era morador de Nova Iguaçu, visitava clientes em um dos prédios que desabou.

Luiz Paulo Cardoso – “Ele trabalha como autônomo, era auxiliar de informática, e foi chamado para consertar um computador em um escritório no prédio exatamente na hora em que ocorreu o desabamento”, disse o jornalista Nelson Gomes, amigo de Luiz Paulo, de 35 anos, solteiro e morador de Pendotiba, em Niterói.

Moisés Morais da Silva – o catador de papelão de 43 anos recolhia material próximo ao Theatro Municipal. “Perguntei à ele se tinha alguma coisa para mim (algum pedaço de papelão). Ele disse que tinha e se virou para buscar. Neste momento caiu um pedaço de granito na minha cabeça e eu corri. Ele ficou para trás. Não vi mais nada”, contou Vera Lúcia dos Anjos Freitas, tia de Moisés, que vivia com a família na Praça Tiradentes.

Cornélio Ribeiro Lopes e Margarida de Carvalho – o zelador do edifício Liberdade tinha 73 anos e morava no prédio com a mulher, Margarida, de 65. “Ele era muito amável e gentil. Cornélio e a esposa, Margarida, eram sempre muito atenciosos com todos os condôminos”, disse ao iG Patrícia Andrade, que trabalhava na VG Credi, empresa que funcionava no 16º andar do prédio. O corpo de Cornélio foi enterrado na tarde de sexta-feira (27), no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. "Não quero e nem tenho mais o que falar. Não culpo ninguém pela morte do meu pai", disse Sandra Ribeiro, filha de Cornélio. "Ele era um homem de bem. Não merecia uma morte dessas", comentou a dona de casa Beatriz de Souza, amiga da família há mais de 20 anos, que acompanhou o enterro.

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