segunda-feira, 8 de julho de 2013

Brasil: diagnóstico de doença genética ainda é desafio

Muitas delas poderiam ser tratadas precocemente se médicos de base estivessem mais atentos

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Centenas de geneticistas estão reunidos de hoje até domingo em Natal (RN) para discutir um assunto quase nada conhecido da população em geral: doenças genéticas raras. Apesar da aparente aridez do tema, as enfermidades em pauta no 4º Congresso Latinoamericano de Doenças Lisossômicas (Colatel) correspondem a uma realidade bastante contundente. Juntos, problemas como a mucopolissacaridose e as doenças de Gaucher e de Fabry, entre outras, afetam cerca de 5% da população brasileira e geram malformações e sofrimentos físicos significantes a seus portadores.
Muitas dessas doenças, no entanto, poderiam ser tratadas adequadamente e até evitadas. E a receita para combater as sequelas impostas pela maioria delas é bem menos complicada do que pesquisar uma cura definitiva. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica (SBGM), Francis Galera, disseminar informações que suscitem o diagnóstico e o tratamento precoces e implantar uma política de saúde pública que amplie o acesso a especialistas em genética é hoje o grande desafio da área.
Além desse ciclo vicioso que emperra e limita o atendimento genético no Brasil a alguns poucos centros de referência, a maioria concentrada nas regiões Sul e Sudeste, outro fator contribui para que as doenças genéticas raras façam jus ao nome de “doenças órfãs” dado a elas. Há oito anos a declaração de nascidos vivos – documento que fornece informações essenciais sobre a saúde de cada bebê brasileiro – recebeu um campo específico para a notificação de doenças de origem genética e hereditária. O que deveria ser uma oportunidade de ouro para estudar e mapear onde estão e quantos são os portadores dessas enfermidades se transformou em uma fonte de informação falha porque o campo 34, como é chamado o espaço destinado a elas, é preenchido de forma incorreta ou cedo demais.“O Ministério da Saúde diz que a genética não tem mais espaço e investimentos no SUS porque há poucos especialistas, mas os médicos não buscam essa especialidade porque se formam e não encontram postos de trabalho” afirma Galera.
“Muitas vezes esse campo é preenchido imediatamente após o parto e não quando a criança está dando alta, como deveria ocorrer” diz o geneticista Salmo Raskin, ex-presidente da SBGM.
Estima-se que 5% dos bebês nascidos vivos apresentam, ao nascer, alguma malformação visível. O problema é que muitas doenças genéticas não são perceptíveis a olho nu. Para isso foi adotado o teste do pezinho, capaz de identificar com apenas uma gota de sangue pelo menos cinco doenças genéticas que podem comprometer o desenvolvimento normal do recém-nascido. O teste é gratuito e obrigatório em todo o País, mas o total de enfermidades testadas muda de acordo com cada Estado.

“O que precisamos é que os médicos de base sejam mais inquietos e desconfiem do que têm diante de si. Uma criança com diversos problemas graves e que não param de evoluir pode ter, na realidade, uma doença genética” defende a geneticista Dafne Horovitz, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e presidente do comitê científico do congresso.Mais de 3 mil doenças genéticas raras já foram identificadas pela ciência. Apenas 10% desse total correspondem a enfermidades que exigem tratamentos caros ou caríssimos. A imensa maioria pode ser tratada ou ao menos acompanhada com recursos relativamente simples e disponíveis no SUS.

Mesmo no caso de doenças genéticas ainda sem cura, o diagnóstico precoce permite o acompanhamento da evolução da enfermidade. É possível fazer o manejo dos sintomas com medicamentos e terapias de reabilitação, antecipar as possíveis complicações decorrentes da doença e evitar ou amenizar sequelas que comprometem a qualidade de vida de seus portadores.

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