quarta-feira, 17 de julho de 2013

Quem perdoa uma traição é trouxa?

Traição de Kristen Stewart, a Bella, de "Crepúsculo", acende a discussão: será que Robert Pattinson, o vampiro da saga, deve perdoá-la?


O relacionamento do “casal Crepúsculo” parecia um conto de fadas: Robert Pattinson, o vampiro na saga, e Kristen Stewart, que interpretou Bella, embora nunca tenham assumido o namoro, moravam juntos desde 2010 numa mansão em Los Angeles. Dizem os boatos que Pattinson estava se preparando para pedir Kristen em casamento. Porém, no último dia 25, a revista US Weekly divulgou imagens em que Kristen aparece beijando Rupert Sanders, seu diretor no longa "Branca de Neve e o Caçador".

Getty Images
A traição de Kristen Stewart levanta a questão: quem perdoa infidelidade é trouxa?

O sonho caiu por terra. No mesmo dia, Kristen, por meio de um comunicado, admitiu a traição e se disse arrependida: "Estou profundamente triste pela dor e constrangimento que causei às pessoas próximas a mim e a todos que foram afetados. Esta indiscrição momentânea comprometeu a coisa mais importante na minha vida, a pessoa que eu mais amo e respeito, Rob. Eu o amo, eu o amo, eu sinto muito."
Pattinson deixou a casa onde moravam no dia seguinte, refugiou-se na casa da amiga e também atriz, Reese Whiterspoon, e ficou sem se comunicar diretamente com a ex por alguns dias, arrasado. Os rumores dizem que Kristen está se esforçando para convencer Pattinson a reatar e que eles já estariam ao menos se falando novamente.
 
Já Rupert Sanders, que é casado com a modelo Liberty Ross e pai de duas crianças, disse que o affair foi passageiro. Liberty afirmou que perdoou o marido, mas não quer que ele dirija a continuação de “Branca de Neve” com a ex-amante.
Nas redes, as opiniões dividem-se sobre se Pattinson deve perdoar Kristen ou não, enquetes e campos de comentários dos sites especializados ora apoiando o perdão ora defendendo a ideia de que 'quem perdoa é trouxa'. No Facebook, circula uma foto de Pattinson com chifres e piadinhas. , 40% das pessoas votaram contra o perdão.
Para especialistas, fica mais difícil perdoar a traição quando ela se torna pública, como no caso de Pattinson e Kristen, porque o homem fica com o estigma de “corno manso”, como diz a expressão popular corrente em português.
 
“Quando o homem é traído e os outros sabem, o problema é social, a grande questão é como as pessoas vão vê-lo”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg. É como se ele não tivesse dado conta da mulher, não fosse capaz de completá-la, satisfazê-la. “O traído é visto como um homem impotente, um frouxo, o tal 'corno manso'. Tanto é que muitos homens me dizem ‘se eu não souber e os outros não souberem, OK’. É uma cegueira voluntária.”
Por outro lado, mulher traída, é algo 'natural'. “É como se trair fizesse parte da natureza do homem, portanto não há nada que a mulher possa fazer”, diz a antropóloga. “Não cria um problema social para ela ter sido traída, ao contrário, as pessoas costumam colocá-la na posição de vítima e culpar o homem pelo ocorrido. Perdoar, para a mulher, é um gesto de generosidade e uma demonstração de amor. Se o homem disser para ela que ela é única, especial e insubstituível e ela acreditar nisso, vai perdoá-lo”, afirma Mirian.
 
Na hora de avaliar a traição de homens e de mulheres, pesa o estereótipo de que o homem trai por causa do sexo, não por amor. A traição feminina, ao contrário, tem um envolvimento além do sexo, o que leva o homem a se sentir duplamente traído. “Socialmente, a mulher quando é traída, sente raiva, vontade de matar o cara e a mulher, mas não tem vergonha, porque não é ‘corna’. Ele foi o 'sacana'. Veja o Robert Pattinson, ele está morrendo de vergonha.” De fato, Pattinson teria dito à ex “Você me humilhou completamente. Toda a confiança se foi”, numa conversa por telefone.
O psicanalista Francisco Daudt lembra também que outras reações que se confundem com o perdão. “As mulheres, por exemplo, costumam fazer uma vista grossa intencional, uma forma de aceitação que impede que as outras pessoas venham a se intrometer e blinda a relação do poder da crítica do outro. Para uso externo, até parece um perdão, mas não é". Aparentemente, foi esse o caminho que Liberty escolheu ao perdoar o marido adúltero.             

Para Francisco Daudt, a necessidade de perdoar só existe porque uma das partes se sente culpada e permite que a outra exerça uma espécie de poder moral superior, que é a alavanca do perdão. “O perdão e a culpa são parte de um jogo de poder que se desenrola paralelamente à traição. Quando o casal, mergulha nesse jogo, o sexo vira apenas um meio de exercer o poder ou de lidar com a culpa”, afirma.
E se Pattinson perdoar?
Pattinson e Kristen terão que se encontrar ainda durante a divulgação de “Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2”, no qual contracenam. Segundo Nancy Kirkpatrickm presidente de marketing internacional do estúdio Summit, não haverá nenhuma mudança nos planos de divulgação. As fontes ligadas à indústria de entretenimento dizem que Kristen está buscando uma reconciliação e que Pattinson não sabe ainda o que fazer.
Mirian Goldemberg avalia que hoje Pattinson tem chances de provocar ao menos uma rachadura nesse padrão de comportamento. “Por ser o ídolo que é, se ele dissesse ‘não estou preocupado com o que os outros pensam, essa é a mulher que eu amo e escolhi’, seria visto de forma legal. Ele tem fãs jovens que o acompanham e poderia ajudar a quebrar essa visão de que traição para a mulher é uma coisa e para o homem é outra”, acredita a antropóloga. Afinal, “se ela disse que era um envolvimento momentâneo, passageiro, por que não perdoar?”
 
De qualquer forma, Miriam acredita que ele teria que enfrentar em alguma medida o estigma de idiota. “Se o homem perdoar, é óbvio que na nossa cultura machista, vai ter gente que vai achá-lo um trouxa, tachar de corno”, diz. Mas ela lembra também que em países como Alemanha e Suécia as questões sexuais já são tratadas de forma mais igualitária entre os gêneros. “Na verdade, ele não tem que olhar para a opinião dos outros, e sim para o que ele quer. Se ele não se preocupar com o que os outros vão pensar, ele vai tomar uma decisão melhor”, crava a antropóloga.
Daudt também considera que essa decisão não é fácil. “A dificuldade de se afirmar e ir contra a pressão do senso comum é enorme”, afirma. O ator ainda não se manifestou publicamente, mas com o lançamento do último filme da saga, a história ainda vai dar o que falar

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