“Então, caindo em si, disse: [...] Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai.” Lucas 15:17, 18.
O filho da parábola foi empregado por um gentio para apascentar porcos, uma atividade nem mesmo imaginável para um judeu. A guarda do sábado, conforme indica a lei, dificilmente poderia ser observada agora. Seu estágio final no país distante sugere completa apostasia de sua identidade, que aparece aqui desfigurada e esquecida. Nesse ponto, vem-nos à mente o quadro comum, que pinta o jovem mal vestido, assentado, com a cabeça pendida nos joelhos, cercado de porcos. Muito pouco sobrou do rapaz que saíra da casa do pai.
O ponto de retorno na parábola é extraordinário. Jesus diz que o moço “caiu em si”. Isso significa que, quando ele abandonou o pai, o jovem estava “fora de si”. Todo abandono de Deus é uma forma de insanidade. Está fora de si todo aquele que busca ser feliz longe de Deus, em seus pobres substitutos. Essa busca é uma forma de demência, pois o “país distante” será sempre “terra estranha”. Ele havia saído de casa pensando: “Tenho que ser eu mesmo.” Mas descobriu que a verdadeira identidade não é encontrada longe. Ainda distante, ele se lembrou de seu pai, de seu amor e bondade. Fragmentos de memórias vieram à sua lembrança. Essa é a base de toda iniciativa de retorno. A graça já estava operando.
Note, sua decisão não é voltar à sua vila ou mesmo ao antigo lar, mas voltar para o seu pai. É a distância, na companhia dos porcos, que ele chega a compreender a glória do amor paterno. Ele admite ter perdido o status de filho. Imagina-se como um simples empregado, mas afinal lar é lar. “Levantar-me-ei”, ele diz para si mesmo. Não há lugar mais difícil para o qual retornar do que aquele em que falhamos. Os lugares de nossos fracassos são lugares cruéis. Voltar seria obrigar-se a se deparar com a própria vergonha. Seria voltar com o cheiro dos porcos, com os trapos de seu fracasso. Mas ele está certo de que seu pai o receberá.
Nessa parábola, Jesus não trata o pecado com leviandade. Ele pinta suas trágicas consequências. Mas Ele não pode aceitar que a separação de Deus seja um ato de sanidade. Ele acredita que com cada pessoa pode se repetir a experiência do pródigo: “caindo em si…”. Esse é o extraordinário otimismo de Cristo. O judaísmo tinha fé no arrependimento: “Deus nos ama porque nos arrependemos.” Cristo ensina o contrário: “Ele nos revela Seu amor para que nos arrependamos” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 189).
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