Segundo boletim médico, cirurgia durou três horas e meia e ocorreu 'sem complicações'; presidenta argentina tem 'boa recuperação'
A popular presidenta da Argentina, Cristina Kirchener, foi submetida a uma cirurgia para a retirada de um tumor na glândula tireoide nesta quarta-feira, meses depois de ser reeleita para um segundo mandato de quatro anos.
Segundo o primeiro relatório médico oficial, assinado pelo cirurgião-chefe Pedro Saco e pelo diretor da equipe cirúrgica Ediardo Schnitzler, a presidenta tem uma "boa recuperação" e está consciente após a operação, que durou três horas e meia.
Também de acordo com o boletim, lido pelo porta-voz presidencial, Alfredo Scoccimarro, Cristina ficará internada por 72 horas.
A confirmação do sucesso da cirurgia, que ocorreu "sem inconvenientes e sem complicações", alegrou os mais de cem simpatizantes do governo que estavam concentrados em frente ao hospital, em vigília.
Na semana passada, o seu governo anunciou o diagnóstico da presidenta de carcinoma papilar, detectado durante exames médicos de rotina logo antes do Natal. Os médicos dizem que a presidenta, de 58 anos, tem mais de 90% de chances de recuperação.
O médico oncologista Santiago Zund, que integra a equipe de profissionais que cuidam da saúde de Cristina, afirmou que o prognóstico da presidenta é “positivo”.
Cristina vinha sofrendo de quadros de hipotensão que a obrigavam a suspender, por breves períodos, as atividades oficiais. A última crise ocorreu no dia 11 de outubro passado, 12 dias antes das eleições presidenciais. Em abril passado, a presidenta ficou 48 horas de repouso pelo mesmo problema, sendo obrigada a adiar uma visita oficial ao México.
O diagnóstico de câncer atraiu a solidariedade do país onde Eva Perón, esposa do ex-líder Juan Perón (1946 - 1955 e 1973 - 1974) e conhecida como Evita, é reverenciada após ter morrido de câncer aos 33 anos. Assim como Evita, Cristina é amada pelos seus esforços para ajudar os pobres da Argentina.
Segundo a mídia do país, a cirurgia teve início às 8h20 do horário local (9h20 em Brasília). Segurando cartazes com mensagens como "Força, Cristina", dezenas de simpatizantes, que ficaram ao lado de Cristina depois da morte de seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003 - 2007), em 2010, se reuniram em frente ao hospital na cidade de Pilar, cerca de 45km ao norte de Buenos Aires.
"Iniciamos uma vigília ontem na esperança de que tudo corra bem. Estamos apoiando nossa presidenta. Estamos do lado dela", disse a dona de casa Rosa Aguirre, 50 anos. O vice-presidente Amado Boudou assumiu a presidência durante a licença de 20 dias de Cristina.
Apesar de ser muito popular entre os argentinos que se beneficiam de generosos benefícios sociais, a presidente é criticada por muitos empresários, que acreditam que suas intervenções na economia afastam investimentos.
Ela é mais uma entre os líderes latino-americanos mais alinhados com a esquerda a ser diagnosticada com câncer. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, que foi submetido à quimioterapia no ano passado, especulou depois do diagnóstico de Cristina que o "império" norte-americano pode ter desenvolvido uma forma de passar a doença a seus rivais políticos.
O câncer linfático do presidente paraguaio, Fernando Lugo, está diminuindo, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo tratado de um tumor na laringe.
Uma oradora talentosa, Cristina ainda usa o negro porque está de luto por Kirchner. Muitos achavam que a morte dele marcaria o fim da mistura idiossincrática de intervenção estatal, retórica nacionalista e defesa dos direitos humanos. Mas Cristina ganhou a reeleição por esmagadora maioria em outubro, apoiada pelo crescimento econômico acelrado, que, por sua vez, foi alimentado em parte pela receita da exportação de grãos.
Ao obter um segundo mandato de quatro anos, com 54% dos votos, ela prometeu permanecer fiel a suas políticas, apesar das queixas de Wall Street e de investidores internacionais sobre sua postura pouca ortodoxa em relação à economia.
Criança segura pôster de Cristina Kirchner em frente ao hospital onde a líder está internada em Pilar, a 40 km de Buenos Aires
A Argentina é um importante exportador de grãos e fornece quase metade do óleo de soja consumido no mundo, usado para cozinhar e fabricar biocombustível. É quase tão forte em farelo, usado para alimentar o gado, e fornece 20% do milho mundial.
Em um momento de tensão crescente com o líder sindicalista mais poderoso do país, Hugo Moyano, o diagnóstico de câncer ajudou a sufocar rumores de uma greve de transportes por demandas de bônus de fim de ano. A paralisação atingiria o setor de grãos porque a maior parte dos produtos agrícolas do país é transportada por caminhão.
Com Reuters e AFP
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