Idolatrado pelas equipes que joga e odiado pelos adversários, o polêmico atacante uruguaio se transferiu para a Europa para cumprir uma promessa feita à namorada de infância
As Copas do Mundo, além dos momentos memoráveis que proporcionam por meio de seus duelos, costumam trazer à tona grandes histórias de seus principais personagens: os jogadores. Casos de superação de lesões, de perdas familiares e de adversidades sociais – como a infância na pobreza extrema ou em zonas de conflito armado – são apenas alguns exemplos de dramas vencidos por eles. Se a edição deste ano ainda não chegou ao fim, e mesmo que o Uruguai já tenha sido eliminado, um jogador desponta como inevitável aspirante à protagonista: Luis Suárez.
Quem analisa a carreira do atacante uruguaio de 27 anos, que mescla a genialidade de quem foi artilheiro e melhor jogador do último Campeonato Inglês e o destempero emocional de quem cumpriu 34 jogos de suspensão nos últimos quatro anos por mordidas nos rivais e ofensas racistas, e o atual momento vivido que vai desde a expulsão do Mundial à perda de patrocinadores, passando por uma suspensão de nove partidas pelo Uruguai e de quatro meses afastado do futebol devido à agressão ao zagueiro italiano Giorgio Chiellini, dificilmente acredita que um dos principais motivos para ele ter se tornado um grande jogador foi o amor.
Quando tinha apenas 15 anos, além de jogar nas categorias de base do Nacional, um dos principais clubes do Uruguai, o então garoto também cuidava de carros e varria as ruas de Montevidéu em troca de algum dinheiro que servia para ajudar a mãe em sua criação e na dos seis irmãos, uma vez que o pai os havia abandonado. A realidade difícil minava as expectativas do jovem, que passou a beber na época e a se envolver com más influências, até que em 2002 uma garota loira, de 13 anos, cruzou seu caminho: Sofía Balbi.
Suárez se encantou de imediato pela menina que vinha de uma família com melhores condições financeiras e o incentivou a não deixar os estudos e nem a desanimar com o futebol. A alegria, no entanto, não durou muito. Um ano depois, Sofía teve que se mudar com a família para Barcelona e o jogador, desolado, dessa vez chegou a deixar o futebol de lado. A internet, porém, permitiu que os jovens retomassem o contato e, aos 16 anos, Suárez prometeu à namorada que se tornaria um grande futebolista para poder viver na Europa e se casar com ela. O jogador, finalmente, havia encontrado a motivação decisiva para não mais hesitar em sua carreira.
Bastou uma temporada no time profissional do Nacional, para conseguir, já aos 19, transferir-se para a Europa, para o Groningen da Holanda, de onde viajou até a Espanha para pedir aos pais de Sofía que a deixassem morar com ele. Com a permissão concedida e a vida em casal, os gols do atacante, sempre dedicados à amada, não pararam de sair e o Ajax o contratou logo na temporada seguinte.
Ainda em 2007, foi convocado pela primeira vez para defender a seleção de seu país e deixou visível seu temperamento difícil ao ser expulso a cinco minutos do fim de um amistoso contra a Colômbia. Ficou por quatro anos em Amsterdã e, em 110 jogos, balançou as redes 83 vezes. Nesse meio tempo, os namorados de infância se casaram, Delfina, a primeira filha, nasceu, e ''Luisito'' se destacou na Copa do Mundo da África, o que fez com que o Liverpool desembolsasse 22,8 milhões de libras (60,8 milhões de reais na época) por seu passe. Em 2013, nasceria Benjamín, o segundo filho do casal.
Após quatro temporadas na Inglaterra, onde frequentemente é tratado de forma ríspida pela imprensa por conta de suas atitudes polêmicas e da fama de simular faltas, sua permanência no clube com o qual foi vice-campeão da temporada 2013/14 ainda é uma incógnita. O futuro do jogador pode ser o Barcelona ainda que, segundo a imprensa espanhola, o técnico do Liverpool Brendan Rodgers não esteja disposto a abrir mão de seu principal goleador e John Henry, proprietário do time, não queira perder dinheiro numa negociação cujos valores os catalães tentam abaixar ao oferecer alguns de seus atletas.
De todos os modos, a história de Suárez até aqui, como a de alguns outros jogadores que figuraram, numa mesmo nível, entre a adoração e a repulsa por suas condutas, tem um quê de cinematográfica, seja dentro ou fora do campo, e parece ganhar capítulos especiais em Copas do Mundo.
Se em 2010 ele praticamente classificou o Uruguai para as semifinais ao evitar um gol de Gana no último minuto da prorrogação com uma incomum defesa com as mãos, que lhe rendeu um cartão vermelho e a ausência na derrota ante a Holanda no jogo seguinte, nesta edição, com os dois gols salvadores feitos na partida contra os ingleses apenas 28 dias depois de uma cirurgia no joelho, seu papel não foi menos importante. Foi mais breve, e mais intenso, como não poderia deixar de ser com um jogador tão passional.
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