Outro dia escrevi sobre o fato de que as crianças estão sendo maltratadas, mas não no sentido de punição física, mas porque seus pais não estão dando e ensinando um estilo de vida saudável principalmente em relação à dieta. Lembrem-se do doutor Joel Fuhrman, aquele que iniciou o assunto em sua palestra, “Estamos matando nossas crianças?”
O assunto veio de volta a minha mente depois de passar uma semana na ilha de Trinidad e Tobago, no Caribe. A ilha é uma cópia do estilo de vida norte-americano, com um grande progresso industrial e econômico. Eles têm uma grande quantidade de carros e sua principal economia é derivada do fato que exploram o petróleo. Em decorrência de todo esse progresso vem o progresso alimentar, com vários restaurantes como McDonalds, KFCs, Burger Kings, Pizza Huts, e muitos outros. E, muito pior, com este progresso vem o regresso de atividade física. Exatamente o que ocorreu aqui nos Estados Unidos e muito semelhante ao que está ocorrendo em outros países do mundo, inclusive o Brasil.
Hoje, o único músculo que é exercitado e o dos dedos para apertar botões e datilografar no teclado do computador. Se pode até ter um programa de computador que você fala e o computador escreve. E já ouvi um estudo de que estão desenvolvendo um método de colocar terminais elétricos no cérebro de forma que a pessoa pensa no que vai escrever e o computador escreve a mensagem. Assim o progresso traz grandes vantagens econômicas, mas não em relação à saúde.
Voltando às crianças do Caribe, estive avaliando as crianças em duas escolas primárias e o que se vê é uma grande incidência de obesidade e sobrepeso. Por quê? Primeiro porque o exercício não é obrigatório. Devido ao fato de que elas não têm tempo para exercício porque tem que se concentrar no aprendizado das ciências, matemática e literatura. Além disso, a merenda escolar é cheia de sucos ricos em açúcar, arroz branco e pão branco, com pouca quantidade de frutas, vegetais e grãos integrais.
Examinamos várias crianças com índices de massa corporal superior a 25, o que para adultos é considerado sobrepeso, mas para os menores esse número já os classifica como obesos. O índice de massa corporal é calculado com o peso e a altura do indivíduo. Números acima de 25 indicam sobrepeso e acima de 30 obesidade. As crianças que víamos tinham todas as mesmas características, excesso alimentar de comidas insalubres e falta de exercício. Comentando com uma menina de mais idade, ela disse que, quando crianças, se ela viesse de volta do recreio suando para a classe, era espancada.
Um caso clássico fora uma menina de seus cinco anos com índice de massa corporal de 25. Coloquei-a na minha máquina para calcular a percentagem de gordura e deu mais de 30%. Um número aumentado mesmo para adultos. A pobre criança disse que gostava de exercício e também de comer frutas, porém, a avó relatou que ela comia demais e que os pais não tinham muito cuidado com a qualidade dos alimentos.
Me pareceu que o problema é que os pais não percebem que a criança mais gordinha tem risco de doença. Ainda existe o conceito, como em outros países, que ser gordinho é sinal de saúde. Mas o assunto é bem diferente. Gordura na infância leva a um aumento no risco de diabetes, pressão alta, colesterol e doença cardíaca. E o pior é que estes problemas estão ocorrendo não só na fase adulta, mas quando ainda crianças. Pediatras estão vendo com mais frequência esses problemas que deveriam ocorrer em pessoas de mais de 60 anos em jovens com 15 ou 16 anos de idade. Estamos matando nossas crianças?
Para ser mais positivo, que se deve fazer para corrigir a situação? Primeiro, os pais e professores devem checar se a criança pratica pelo menos 60 minutos de exercício por dia. Mas isto deve ser verificado mais de perto, pois, às vezes, as crianças estão brincando, mas ficam mais sentadas e não gastam muito esforço físico.
Segundo, reduzir o tempo assistindo televisão ou jogando videogames e mesmo usando o computador. Para crianças pequenas, o conselho é não permitir mais que duas horas por dia nos eletrônicos e que estas horas não sejam seguidas, ou seja, que sejam espalhadas durante o dia.
E, terceiro, mudar a dieta. Não se aconselha uma dieta para emagrecer para crianças, pois isto pode afetar seu crescimento e sua imunidade. O conselho é bem simples: reduza os alimentos tranqueira, doces, açúcar, frituras, sorvetes e refrigerantes. Parece que o maior problema é com os refrigerantes e sucos “naturais”. Mesmo os sucos naturais deveriam ser evitados e a criança deveria se acostumar a tomar água e usar mais frutas, evitando o excesso calórico e o excesso de açúcar.
O segredo é simples, mas se não adotarmos o mesmo, estamos arriscando a saúde de nossas crianças. E isso começa bem mais cedo do que pensamos. Um dia desses alguém deu um biscoito feito com açúcar para a minha netinha e ela o rejeitou. Com dois aninhos, os pais não lhe dão açúcar, somente frutas, assim o gosto ou o hábito para comer açúcar não foi desenvolvido. Desta forma, a criança desenvolve um maior apetite para outros alimentos, como vegetais, frutas, grãos, nozes, etc. Quando o gosto “açucarico” é desenvolvido, a criança restringe o apetite para outros alimentos saudáveis. Estamos nós interessados em salvar nossas crianças?
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