Levantamento de fabricantes e revendedoras indica aumento de mais de 100% na venda de produtos para estocar água
Desde pequena, Alda Novack aprendeu com o pai, no interior do Paraná, a importância de se economizar água. Há mais de 50 anos, o que utiliza para lavar roupas no tanque é mais tarde reaproveitado para limpar quintal e banheiro; a manutenção das plantas do jardim particular é feita com as sobras da lavagem de frutas e verduras. Entretanto, o temor de ficar totalmente sem o recurso devido à crise de abastecimento dos reservatórios Cantareira e Alto Tietê nos últimos meses a levou a buscar novas alternativas para o dia a dia.
Moradora de uma região que há meses convive com um racionamento não-anunciado todas as noites - o Jardim Damasceno, na zona norte da capital paulista -, a aposentada de 67 anos investiu há exatamente duas semanas cerca de R$ 110 na compra de dois grandes tambores com capacidade de 225 litros cada. Os reservatórios se juntam a outros já mantidos por dona Alda na residência onde vive com dois filhos, uma neta e uma nora, como baldes velhos e duas caixas d´água com capacidade total de armazenamento de mais de 800 litros.
"Comprei os tambores por sentir um medo verdadeiro de que as represas venham a secar. Fico desesperada vendo as notícias diariamente sobre a atual situação da água em São Paulo", diz Alda, por enquanto com apenas um dos recipientes cheio, já que aguarda, esperançosa, pelas chuvas previstas para esta sexta-feira (25) para abastecer o outro. "Os tambores só serão usados em caso de necessidade extrema mesmo. Aquele que enchi está tampadinho. Espero não precisar usá-lo, mas, do jeito que as coisas andam, ele pode ajudar a família a passar tranquila por alguns dias difíceis."
Dona Alda não é nem de longe um caso isolado. Em toda a Grande São Paulo tem havido sensível aumento na procura de produtos que ajudem a população a amainar os problemas causados por um possível desabastecimento na região - e, claro, para lidar com os próprios racionamentos, oficialmente rechaçados pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) mas já em voga em diversos bairros da cidade e municípios de seu entorno.
Uma das maiores redes de lojas de materiais para construção da região sudeste do País, a Telhanorte registrou, apenas no primeiro trimestre de 2014, um aumento de 150% nas vendas de caixas d´água de maior litragem - entre 1.500 e 2.500 litros - no Estado. A tendência é corroborada por dados Tigre e da Fortlev, principal fabricante do recipiente no País, que desde fevereiro precisou passar a usar as fábricas de Santa Catarina, Bahia e Espiríto Santo para suprir o recrudescimento da demanda na população paulista.
"Muitas pessoas aproveitaram o atual momento de crise hídrica para realizar a troca da caixa d’água em sua residência, optando por modelos maiores ou até mesmo adquirindo um reservatório a mais para se precaver de possíveis racionamentos ou faltas de água", explica o diretor de marketing e compras da Telhanorte, Juliano Ohta. "É um cliente que faz parte de uma crescente demanda de consumidores conscientes, que buscam alternativas ecoeficientes para promover a economia de água, sobretudo na capital paulista."
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