Lucia Freitas e Inês Vasconcellos enfrentaram o câncer de mama e suas consequências, e garantem: perder os cabelos não é um drama digno de novela
“Eu não quero mais ter cabelo. Ser careca é bom, a gente não tem que pintar, não precisa cortar toda hora. Cabelo é um saco, é chato!” A blogueira Lucia Freitas dispara essas frases em meio a gargalhadas. Logo que ela soube que tinha câncer de mama , foi informada pelo oncologista que seus cabelos iam cair. E tudo bem. “As pessoas têm na memória aquela cena triste da Carolina Dieckmann raspando os cabelos (na novela “Laços de Família”). Mas não precisa ser assim”.
Se na vida real dá para tentar encarar a careca com leveza, na ficção nem sempre é assim. Nas últimas semanas outro câncer de novela entrou em pauta, com a personagem Nicole, interpretada por Marina Ruy Barbosa em “ Amor à Vida ” (Rede Globo). A menina, que na trama tem Linfoma de Hodgkin, desiste de raspar os cabelos no último minuto, aos prantos.
Com Lucia não teve choro, nem música triste. Antes mesmo da primeira sessão de quimioterapia, ela resolveu raspar tudo em um evento entre pessoas queridas. Uma amiga faz a maquiagem, outra começou o corte com a tesoura, e depois com a máquina. Uma terceira fez fotos e vídeos de todo o processo. “Foi ótimo. Eu não sabia que ia gostar tanto”, conta ela, que publicou a experiência no blogDescabeladas .
A pianista Inês Vasconcellos fez diferente. Depois das primeiras sessões de quimioterapia contra o câncer de mama, os fios não caíram. Prevenida, ainda assim resolveu encomendar uma peruca. “A dona da loja me disse que os cabelos iam começar a cair no 14º dia de tratamento. Dito e feito, começou a cair no 14º dia, uma quinta-feira. Na sexta eu acordei, não falei com ninguém, fui sozinha ao cabeleireiro e pedi para passar a máquina”.
De uma hora para a outra, Inês, que sempre teve cabelos compridos, estava careca. “Mas não foi um drama não, de jeito nenhum. Perdi cabelo, cílios, sobrancelha, até unhas. A gente perde mesmo, mas é consequência do tratamento para curar a doença. Não pode ter medo”.
A pianista se emociona ao lembrar do que ouviu de seu neto, que tinha então oito anos, ao visitá-lo pela primeira vez sem cabelos. “Ele me disse para não me preocupar, que minha beleza não estava nos cabelos, mas sim na graça da minha pessoa. Eu comecei a chorar, isso que ele disse me deu muita força”, conta.
Perucas, lenços e acessórios, ou careca ao vento?
Inês conta que, no começo, cobria a cabeça para não chocar as outras pessoas. “Um dia eu estava em casa sem peruca e meu neto, que tem sete anos, entrou na sala e se assustou. Ele disfarçou, mas eu vi o susto que eu dei nele”, diz. Por isso preferia sair de casa usando peruca, lenço, chapéu ou outros acessórios. Só ficava à vontade com a cabeça nua ao lado do marido.
Já Lucia assumiu a carequice sem vergonha. “Eu adorava, minha cabeça é linda, eu me achava linda careca”. Embora tenha adorado os lenços, bonés e echarpes que ganhou de presente, pouco usou. E observou nas sessões de quimioterapia que era uma das únicas que andava com a cabeça pelada, sem vergonha.
Depois que os cabelos começaram a crescer – mais ou menos um ano depois do início do tratamento – Inês resolveu deixar os acessórios um pouco de lado. “Apareceu uma penugem na minha cabeça, começou a fazer calor, e no hospital eu via tanta gente com o mesmo problema que eu... deixei os lenços e a peruca para lá”. O resultado é que a pianista passou a ganhar elogios por seus cabelos, curtos pela primeira vez na vida.
Os cabelos de Lucia eram lisos antes de raspar, e agora cresceram crespos, “como os do Gianecchini”. Mas ela nem pensa em ter cabelos compridos. “Raspar os cabelos não é nada, cabelo cresce! Se eu pudesse, falaria para a Marina Ruy Barbosa raspar esse cabelo e doar para alguém fazer peruca!”, encerra a blogueira, com outra gargalhada.
Entenda por que os cabelos caem na quimioterapia
É comum associar o câncer à queda de cabelos, mas nem todas as pessoas que têm a doença perdem os fios. Quem esclarece é o médico Felipe Roitberg, oncologista clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). “Os pacientes chegam ao hospital supondo que todo mundo que tem câncer vomita, passa mal e perde o cabelo, mas isso não é regra. Nem todo mundo faz quimioterapia, e nem toda quimioterapia causa queda de cabelo”, diz Roitberg.
O que acontece é que a quimioterapia ataca as células que têm maior capacidade de multiplicação. Cabelos, pelos e unhas são formados por células com alta capacidade de multiplicação (por isso que crescem rápido quando cortamos), e são atacados ao mesmo tempo em que o tumor. Algumas quimioterapias causam mais queda de cabelo do que outras, e a que é usada para combater o câncer de mama é uma das que deixam os pacientes carecas.
Ao fim do tratamento quimioterápico os cabelos tendem a crescer de novo, mas podem reaparecer com textura ou cor diferentes, como no caso do ator Reynaldo Gianecchini.
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