quinta-feira, 3 de julho de 2014

Criticado, choro na seleção revela ligação afetiva que fez falta em outras Copas

Na Copa de 2006, jogadores consagrados não sentiam pressão, mas ouviam críticas por falta de apego. Já a atual geração aflora emoções, e especialista diz que isso é saudável

O descontrole emocional da seleção brasileira antes da disputa de pênaltis contra o Chile pelas oitavas de final da Copa do Mundo chamou a atenção. Estariam jogadores consagrados como Thiago Silva, David Luiz, Julio Cesar e Neymar preparados para conduzir o Brasil à final? O choro seria sinal de que falta equilíbrio emocional aos atletas tidos como pilares da equipe? Para Afonso Machado, especialista em psicologia do esporte da Unesp (Universidade Estadual Paulista), não.
"O que é necessário lembrar é que é um grupo de atletas com pouca experiência em Copa do Mundo. E isso psicologicamente conta, e muito", disse Machado. Dos 23 convocados, apenas seis (Julio Cesar, Thiago Silva, Daniel Alves, Maicon, Ramires e Fred) já estiveram em uma Copa. Destes, só Julio Cesar e Maicon foram titulares. 
Treino da seleção brasileira nesta quarta-feira na Granja Comary, em Teresópolis. Foto: Gaspar Nóbrega/VIPCOMM
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A relação desses jogadores com a seleção brasileira parece ser bem diferente de outras recentes. O caso de 2006 é emblemático. Formado em maior parte por uma geração vencedora que vinha de 2002, o time então treinado por Carlos Alberto Parreira na Copa da Alemanha era o exato oposto do que time de hoje.
Cheio de estrelas como Ronaldo, Adriano, Ronaldinho, Kaká e Robinho, a equipe foi para a Copa do Mundo sem qualquer pressão. Parecia não se sensibilizar com a situação. Não houve choro após a derrota para a França nas quartas de final. Ronaldo e Roberto Carlos, parceiros de Zidane no Real Madrid, riram com ele vestiário, e Robinho o abraçou como se estivessem num treino qualquer em Madri. 
O capitão do time de 2014 é bem diferente. "É difícil, muito complicado, controlar a ansiedade e o nervosismo. Antes da estreia chorei. Não parecia o Thiago. Estou nervoso por que? Mas acontece sem a gente querer. Sou um cara muito chorão e posso me emocionar. A gente não força uma situação", disse Thiago Silva antes do jogo contra o Chile, já antevendo o que poderia acontecer.
Essa relação afetiva com a seleção brasileira não foi vista na seleção de 2006 e gerou críticas da torcida e da imprensa. Agora, o problema é o oposto, e as críticas persistem. 
Para Machado, porém, a emoção tem seu lado positivo. "Que jogadores não teriam preocupação em jogar em seu próprio país, tentando a classificação em seu próprio país e sabendo que o domínio da bola tem de estar no seu pé e que a responsabilidade do gol tem de estar com ele? Então nós não estaríamos procurando atletas. Teríamos de ter no campo jogando 11 robôs vestindo a camisa da seleção brasileira", avaliou.

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